Claudia Mota, primeira-bailarina do Theatro Municipal: um ano sem dançar por causa da crise na instituição - Divulgação
Claudia Mota, primeira-bailarina do Theatro Municipal: um ano sem dançar por causa da crise na instituiçãoDivulgação
Por Gabriel Sobreira

Rio - Hoje, o Theatro Municipal do Rio de Janeiro completa 109 anos e recebe, dentro da programação ao longo do dia em comemoração do aniversário, o último ato do espetáculo 'Raymonda', um clássico do repertório mundial. A entrada é gratuita. "Passamos recentemente por uma crise que nos afastou de cena por um ano e que agora marca a nossa volta em grande estilo. Muitos acreditavam que não voltaríamos e chegaram a declarar que nós, artistas, técnicos e administrativos, teríamos que 'nos virar', porque iríamos 'afundar'. E aqui estamos vivos", desabafa, com orgulho, Claudia Mota, única primeira-bailarina do Theatro Municipal em atividade e que dançará no papel principal do espetáculo 'Raymonda'.

GRANDE NOITE

"Esse é um ballet que eu amo dançar e interpretar. E está sendo uma honra para mim, como primeira bailarina, estar à frente desse corpo de baile que eu tanto admiro e respeito, mais ainda agora. Todos são muito importantes nesse momento e estamos mais unidos do que nunca", atesta. O que o público pode esperar da apresentação de hoje à noite? "Mais uma noite emocionante e um grande espetáculo dos três corpos artísticos (Ballet, Coro e Orquestra) e mais a Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, a escola oficial do Theatro Municipal", atesta.

CRISE

Dos áureos tempos de glória, o Theatro Municipal passou por crises, como quando em maio do ano passado, funcionários cobraram a regularização de salários atrasados através de um ato cultural em plena Cinelândia. "Vi muitos amigos serem ameaçados de despejo ou passando fome. Foi muito triste. Vivemos um pesadelo que esperamos não vivê-lo mais", torce Claudia, que por causa da crise ficou sem dançar no ano passado.

EMOÇÃO

A volta aos palcos aconteceu em junho deste ano, com o espetáculo 'Joias do Ballet'. Para a artista, o momento de pisar novamente no Theatro Municipal foi mágico. "Uma das maiores emoções das nossas vidas. Na estreia, o público pedia a nossa volta depois de já termos agradecido várias vezes. A cortina se fechou e o público não parava de aplaudir. Voltamos para agradecer muito emocionados e chorando de alegria e alívio, por estarmos de volta. Quem passou por tudo sabe do que eu estou falando. Quem viveu, viveu", lembra, emocionada.

FUTURO

Para Claudia, a dança não tem o espaço merecido dentro da cultura. "Não como deveria. No nosso país, não. Porque eu acho que falta maior investimento e maior divulgação dos espetáculos e dos artistas em geral. Na dança, mais ainda", cobra ela, que também é madrinha artística do Ballet Manguinhos. "Acredito que a base seja o principal fator para o futuro. Devemos investir mais nas crianças como um todo. Hoje em dia, se peca muito na qualidade artística. Ela está se perdendo com o tempo para a técnica. Temos que tomar muito cuidado para não virarmos 'atletas da dança'. Tenho planos de no futuro abrir uma escola de artes. Me fascina interpretar, e eu poderia ajudar os jovens talentos com a minha experiência nesse sentido. Seria bárbaro", torce.

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