dona ivone lara - Divulgação
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Por Ricardo Schott | ricardo.schott@odia.com.br

Rio - Em junho, em meio ao corre-corre da produção do musical 'Dona Ivone Lara - Um Sorriso Negro' (que estreia hoje no Teatro Carlos Gomes), a peça virou manchete nos jornais. Mas por causa de um obstáculo que não estava no roteiro. Uma das atrizes escolhidas para representar a sambista, Fabiana Cozza, foi rejeitada nas redes sociais, por militantes e integrantes da comunidade afro-brasileira, por ser negra de pele clara. Fabiana, apesar de ter o apoio da família da cantora, decidiu sair do projeto.

Jô Santana, idealizador da peça, seguiu em frente. Recrutou novas atrizes e absorveu as reivindicações. "A noção de colorismo no Brasil é muito nova. Acho que foi tudo pertinente. Tem que haver briga pelo espaço", conta. "Eu só não comungava com a violência com a qual as reivindicações foram feitas. A Fabiana foi convidada pela família. Não houve respeito em relação a isso".

Na peça, para dar conta da grandeza da personagem, morta em abril, Dona Ivone é mostrada em sua fase menina (Dandara Mariana), adulta (Heloísa Jorge) e madura (Fernanda Jacob, no papel que teria cabido a Fabiana Cozza). Jô conta, antes de tudo, a ideia de 'Um Sorriso Negro' era salientar o histórico de uma mulher negra pioneira.

"Bem antes de existir empoderamento, Dona Ivone já era empoderada. Já trabalhava com a psiquiatra Nise da Silveira, era enfermeira, e se sobressaiu no universo machista do samba. E foi tudo 'no miudinho', como ela falava", conta. "É a história de uma mulher que poderia ser a minha mãe, a sua mãe, a minha tia. Uma mulher que batalha, vai à luta, mas que estava à frente do seu tempo".

Para ajudar a contar a história, amigos importantes de Dona Ivone transformam-se em personagens. Rildo Horta, produtor e maestro que trabalhou com ela (e faz a direção musical da peça), é interpretado por seu neto André Lara. Nise da Silveira surge em duas fases, com Fernanda Cascardo e Olivia Torres. Gal Costa e Maria Bethânia, que popularizam seu sucesso 'Sonho Meu', aparecem interpretadas respectivamente pelas mesmas Dandara Mariana e Heloisa Jorge do papel-título. A peça tem direção e dramaturgia de Elísio Lopes Jr. e direção coreográfica de Zebrinha.

TRILOGIA

'Um Sorriso Negro' faz parte de uma "trilogia do samba" idealizada por Jô, que inclui os musicais 'Cartola - O Mundo É Um Moinho' (já exibido) e 'Alcione - Eu Sou a Marrom' (previsto para 2019). Ator e produtor paulistano, Jô tinha decidido contar "a história do povo brasileiro" através das peças. Ao pesquisar sobre Cartola, chegou a alugar uma casa na Mangueira para ficar no local onde o sambista viveu.

"Lembro que marquei uma reunião com a neta dele, Nilcemar Nogueira, para falar que queria contar a história da família dela", conta Jô, que sempre tinha ouvido 'Sonho Meu', de Dona Ivone, por causa da gravação que uniu Gal Costa e Maria Bethânia. "Na época do musical do Cartola fui encontrar o maestro Rildo Hora, fui à casa dele. Ele me mostrou uma cadeira e falou: 'Dona Ivone sentou aí!'. Cheguei a me emocionar. E resolvi fazer um musical sobre ela", completa Jô, que ao pegar firme no trabalho, encarou a tarefa de escolher entre 4000 candidatos para o musical.

"Sobraram 600! A peça foi ensaiada em dois meses e meio, com dez doze horas de ensaio por dia", recorda, fazendo questão de falar que a tão criticada e incompreendida Lei Rouanet ajudou a tornar a peça acessível. "Os preços estão populares e temos ingressos de doação para ONGs e estudantes de teatro. Assim todo mundo pode conhecer essa história". 

Serviço:

DONA IVONE LARA - UM SORRISO NEGRO. Teatro Carlos Gomes. Praça Tiradentes s/nº, Centro (2215- 556). Estreia hoje. Sex e sáb, às 19h. Domingo, às 17h. R$ 40 (balcão) e R$ 80 (plateia) (estudantes e maiores de 65 anos pagam meia-entrada). Até o dia 25 de novembro. Duração: 2h20.

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