Pedro Vinícius, o Michael de 'Malhação': estreante na TVHelena Cooper/Divulgação
Por Gabriel Sobreira
Publicado 30/09/2018 03:00

Rio - Quando estudava no Ensino Fundamental, em João Pessoa (PB), Pedro Vinícius, o Michael de 'Malhação', estava acostumado a ouvir de "colegas" frases como: "vou te ensinar a ser homem", "homem não faz isso", "sua letra é muito de menina". Tanto que, durante essa época, ele nunca usou o banheiro da escola. "Tinha medo disso tudo, dos garotos me verem no banheiro e querer fazer algo comigo. Era assustador. Passei o ensino fundamental inteiro sem ir ao banheiro. E também não queria ir no banheiro feminino porque, se os garotos descobrissem que eu estava frequentando o banheiro feminino, era capaz de sofrer muito mais do que eu já sofria", lembra ele, que tem 18 anos.

Mensagem

O maior medo de Pedro foi o que aconteceu que seu personagem em 'Malhação'. Na história de Patricia Moretzsohn, Michael (Pedro Vinícius) foi agredido em um banheiro por estudantes homofóbicos. "Essa é minha primeira experiência profissional. Nunca tinha feito uma cena dessas na vida. Também nunca vivi uma situação assim (agressão) também, graças a Deus. Eu precisei de um tempo considerável para me concentrar, e com certeza precisei da cooperação das pessoas no set de gravação porque era uma cena muito difícil, cena de emoção, forte, cena muito comum no Brasil. Eu queria tocar as pessoas da maneira mais coerente. É uma sequência que dizia muito sobre as pessoas com quem me identifico e quem eu sou também", afirma.

"Não é difícil ser agredido, talvez eu seja agredido em algum momento da minha vida. Tomara que nunca aconteça", torce Pedro. O ator conta que, por ser tão parecido com seu personagem, fica até difícil se distanciar em alguns momentos. "Temos famílias muito parecidas também, temos mães praticamente idênticas. Minha mãe, como a do Michael, a Beth (Goreth Milagres), elas duas sempre apoiam os filhos, nunca os negaram, nem têm vergonha deles. É uma coisa rara de ver", entrega o jovem, que é fã de Sociologia. "O meu interesse é entender a sociedade em que eu vivo e por que sou um problema tão grande para ela", pontua.

Liberdade

Se na TV o personagem de 'Malhação' gosta de usar peças consideradas femininas, na vida real Pedro Vinícius compartilha o mesmo gosto. "Eu reclamava. Por que homem só pode usar bermuda ou calça? Isso é muito chato. Não gosto de bermuda sempre foi para mim uma coisa muito horrorosa e calça é muito quente. Sou da Paraíba", justifica.

Pedro conta que as reações nas ruas são as mais variadas quando o veem com peças femininas. "Teve um motorista que abaixou o vidro do carro e fez cara de nojo, como se eu estivesse com uma melancia na cabeça e dois gatos mortos pendurados no pescoço, olhar de repúdio, de ódio quase, estranheza", lembra. "E já teve gente em situação de rua que gritou do outro lado da rua: 'Arrasou! Maravilhosa'. Adorei esse contraste", conta, aos risos.

Indiferença

Já ficou incomodado com as reações negativas? "Já tive muito medo de caras feias, mas hoje não me incomoda. Não me atinge como já me atingiu antes. Até porque aprendi a tratar a intolerância com indiferença. Sei que não sou capaz de agradar o mundo inteiro", frisa.

"A partir do momento em que a gente vem para a sociedade, que as pessoas nascem nessa sociedade, e elas são obrigadas a entrarem em um rótulo. E não é um simples molde. É algo que vai ditar sua vida inteira: como agir, se expressar, vestir, o jeito de falar, andar, se comportar na escola, em casa, se é homem ou mulher. Todos os seres humanos nascem e são postos em moldes. A partir do momento em que surge uma pessoa, um corpo que transgride essa ideia de sociedade, esse padrão, ela é hostilizada", acrescenta.

Representatividade

Na novela, Michael se apaixona por Santiago (Giovanni Dopico), um personagem heterossexual, que aos poucos demonstra interesse no colega. Os fãs torcem para o surgimento do novo casal. "Graças a Deus, eu nunca passei por isso (gostar de um hétero), porque tenho amigos que passaram e é difícil. E estou bem feliz de ter gostado de pessoas que já faziam parte da comunidade", confessa.

Torce para que tenha cena de beijo gay nessa temporada? "Com certeza. Bem como torço para que tenha em qualquer novela que esteja no ar. É muito importante ter isso. Estamos em 2018. As pessoas merecem ter seu momento de representatividade na TV, no cinema, no teatro, em todos os espaços de mídia, entretenimento", defende o ator.

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