Chacrinha, o Velho Guerreiro - Filme  - Media Bridge
Chacrinha, o Velho Guerreiro - Filme Media Bridge
Por BRUNNA CONDINI | brunna.condini@odia.com.br

Rio - Como ele dizia, não veio para explicar, veio para confundir. O que, mesmo após 30 anos da sua morte, continua fazendo. Visionário na comunicação direta com o povo, dono de uma trajetória criativa e autêntica, Abelardo Barbosa, o Chacrinha, instiga e inspira agora no cinema, com a estreia hoje de 'Chacrinha: O Velho Guerreiro', que traz Eduardo Sterblitch e Stepan Nercessian dividindo o papel do apresentador que fez história na televisão brasileira.

"Sou péssimo imitador. Fui fazendo ele como se fosse um personagem como outro, um cara que veio de Recife, querendo trabalho. Fui buscar não a imitação, mas o espírito, a alma do personagem", lembra Stepan, que no longa faz Chacrinha na maturidade, sob a batuta de Andrucha Waddington.

"Vi alguém que era o rei da alegria, mas também um homem sofrido, com um temperamento fortíssimo", completa.

Stepan levou para o longa a experiência de já ter interpretado o comunicador no teatro (2014 a 2016), além de tê-lo feito num especial para a TV. "No teatro, era como se existisse uma câmera só, fixa. Na TV, que era o habitat do Chacrinha, foi que eu vi a genialidade com que ele comandava três, quatro câmeras", observa.

VIDA DE CINEMA

O roteiro retrata a chegada do pernambucano no Rio, depois de estudar dois anos de medicina, passando pela decisão de aventurar-se como locutor de rádio. Inclusive, vemos que o apelido famoso surgiu após conseguir emprego na Rádio Clube Fluminense, localizada numa chácara da cidade, onde posteriormente lançaria o 'Cassino do Chacrinha'.

Nercessian conta que trabalhou com Sterblitch a transição do personagem da juventude para a idade adulta. E revela que se encontravam para trabalhar, ensaiar as cenas. "O Andrucha pediu para fazermos a composição juntos. Aconselhei o Sterblitch que procurasse não imitar. Falei: 'Vamos descobrir a verdade de cada fala'", relembra. "Sabia que não ia ficar parecido, mas que ia ter semelhanças de emoção. Ri e chorei também".

Além disso, o longa faz um recorte das facetas do Velho Guerreiro. De um lado, o perfeccionismo de Abelardo Barbosa, que completaria 100 anos ano passado. Do outro, a irreverência do ícone Chacrinha, a relação conturbada dele com a família e as críticas que recebeu pelo seu estilo, que o levou a ser reconhecido e querido. "Ele foi corajoso, envolvia a plateia nessa loucura", comenta Stepan, que também está no ar em 'Sob Pressão', na Globo.

O ator revela ainda que, mesmo depois de viver o apresentador tantas vezes, se surpreendeu ao se ver caracterizado nas filmagens. "Olhei e levei um susto. Achei uma coisa inacreditável. A imagem não era minha mais, tinha outra pessoa ali", descreve. "Se você se fantasia, coloca figurino, cartola, fica parecido mesmo. Mas aparecer de Abelardo dentro de casa, sem caracterização, é outra coisa. As pessoas precisam acreditar no meu Abelardo para acreditar no meu Chacrinha".

'PAPAI'

O ator de 64 anos, com mais de quatro décadas de trajetória profissional, revela também a relação com a família do Velho Guerreiro. "Eles foram generosos comigo desde o princípio. Leleco (Barbosa, filho de Chacrinha) só me chama de papai", diverte-se.

"Já o Jorge (Abelardo, outro filho) dizia que ia no teatro pra matar a saudade do pai", lembra, emocionado. "Ele dizia que eu fazia no palco coisas que o pai fazia. Chacrinha me aceitou como intérprete dele, eu era fã. Deu certo o casamento. Foi e é uma das maiores alegrias da minha vida vivê-lo".

PARCERIA

Dos 20 aos 40 anos, o bastão condutor da biografia do apresentador está nas mãos de Eduardo Sterblitch. Ele admite ter ficado receoso em viver um personagem com tão poucos registros no começo da carreira.

"Fiquei entusiasmado, mas foi o maior desafio que já tive na vida, que é curta ainda, sou um jovem adulto (o ator tem 31 anos). Mas até agora foi a parada que mais tremi na base para fazer, por essa dificuldade de referência mesmo. Temos a tendência de buscar uma forma, tive medo disso. Fazer de fora pra dentro, minha preocupação era essa. Tinha que entregar uma linha de raciocínio, buscar aquela loucura do personagem jovem", analisa.

"Mas o Stepan, um mito do nosso cinema, me ajudou muito. Ia na casa dele, e ele me recebia com churrasco, cerveja, salada, suquinho. Ficava filmando ele dando meu texto, me explicando o porquê de cada coisa. Discutíamos, para internalizar tudo. Stepan foi parceiro, meu grande coach, abençoado pelo Abelardo real", diz.

Sterblitch, hoje também na bancada do 'Amor & Sexo', destaca seu ponto em comum com o ícone.

"O humor. O Chacrinha tinha isso específico, uma coisa muito brasileira. Era ácido, diferente, meio que uma emboladada. Uma coisa bem pernambucana. Qualquer frase que ele ouvia tinha um gancho, uma observação. Era engraçado, criativo", detalha. "O Stepan falou que acredita que o Andrucha me chamou porque acha que tenho a mesma loucura que o Chacrinha deveria ter quando era jovem. Com certeza, ele era mais louco que eu, mas fiquei muito feliz com a comparação", brinca.

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