Marcelo Adnet - Globo/Estevam Avellar
Marcelo AdnetGlobo/Estevam Avellar
Por Gabriel Sobreira

Rio - Despedida nunca é fácil. Nem todo mundo gosta. No caso do 'Tá no Ar: A TV na TV', que estreia a sexta e última temporada, terça-feira, na Globo, o dizer 'adeus' se torna mais delicado porque a atração deixará muitos fãs órfãos ainda no auge do programa.

Só para se ter uma ideia, a temporada anterior, registrou 15,2 pontos de média, com pico de 23,2 e share de 27,8%. Essa foi a segunda melhor estreia da atração, perdendo apenas para a quarta temporada, que começou com 16 pontos. Isso tudo, claro, sem falar na repercussão nas redes sociais, outro ponto forte do programa.

"Eu evito esse clima de despedida a todo custo. Quero nem pensar nisso", revela Marcelo Adnet, um dos criadores do programa ao lado do redator Marcius Melhem e do diretor Maurício Farias. O ator lembra que, enquanto gravava as últimas cenas dos personagens Militante Revoltado e índio Obirajara Dominique, ouvia dos colegas que aquele era o último dia, que era a despedida. Adnet não pensou duas vezes e cortou a onda de todos. "Eu falei: 'Que despedida, o quê?! Sai fora!'. Vai ter mais alguma coisa, sei lá. Vai ter um remake, retrô, especial de 2020, 2025, 2024 (como dez anos do programa). Eu acredito que os personagens, de uma certa forma, vivem ainda", defende o ator, esperançoso.

FUTURO

Adnet não tem nenhum plano concreto, profissionalmente falando, além de terminar bem a sexta temporada em outras palavras, em grande estilo, em alta. "Quero dar uma descansadinha, tirar umas pequenas férias. Tenho alguns projetos, que ainda nem apresentei para o Marcius (Melhem, que está à frente dos projetos relacionados a humor na Globo). Naturalmente, muitas ideias vão cair, e algumas podem dar certo", pondera. O Globoplay seria uma alternativa? "Acho que o Globoplay é um espaço muito legal porque, muitas vezes, a grade (da TV) tem um espaço menor e a gente precisa ser mais assertivo. Talvez o Globoplay seja um espaço mais legal para experimentos, e isso é promissor", aponta.

Adnet lista o 'Tá no Ar', da Globo, e o '15 Minutos', programa que ele comandou entre 2008 e 2010 na MTV Brasil, como os de maior sucesso no currículo. "Eu teria uma caixa com DVD deles", derrete-se o humorista, que prefere não dar esperança aos que sentirão falta das divertidas esquetes. "Não estamos pensando em nenhum alargamento do projeto, esticar ele para lugar nenhum", decreta o ator. "Mas é um projeto vivo, como todos os outros, que deixa legado, personagens, memória, bagagem, que fica viva", acrescenta.

A DECISÃO

Segundo Adnet, a vontade de dar fim ao programa não foi repentina. Pelo contrário. A equipe envolvida com o 'Tá no Ar' já cogitava terminar a atração há aproximadamente dois anos. Mas como o programa ainda tinha fôlego, a decisão foi adiada. "Foi um término calculado", explica ele. Marcelo conta que outro fator que pesou para acabar com o humorístico foi o fato de ele e seus colegas estarem "presos" ao 'Tá no Ar' o ano inteiro. Por conta disso, tinham dificuldades de sair e poder fazer outras coisas.

"Quando a gente termina um projeto que ama, como o 'Tá no Ar', tem um lado bom, e a gente tem que se apegar a ele. E o lado bom é poder partir do zero, poder criar novas coisas, ter novas ideias. Acho o 'Tá No Ar' um programa supercontemporâneo ainda, mas é um programa que foi criado há seis, sete anos. E em seis, sete anos acontecem muitas coisas. Cada vez mais. Então, é legal também ter esse olhar atual", frisa.

Ao ser questionado sobre quais personagens mais gosta e de quais sentirá saudade, o carioca de 37 anos não tem dúvidas. "Gosto muito do Militante pelo que ele trouxe de falar absurdos, as teorias da conspiração, jogar tudo na cara no meio da programação. Claro que também gosto do índio Obirajara, porque ele é o não-óbvio. Ele é um cara que não se encaixa naquela tribo, ao mesmo tempo em que ele é bastante urbano também. Acho que a grande brincadeira é a nossa ignorância em relação aos estereótipos. Gosto muito do Jorge Bevilacqua, acho que o Welder Rodrigues (ator que vive o personagem) construiu um tom muito legal entre o infantil e o policial da tarde", diz.

Ao longo desses seis anos, o 'Tá no Ar' proporcionou momentos que foram do riso à reflexão, muitas vezes juntos. "Acho que o programa marcou uma época. Acho que redefiniu, mais ou menos, os rumos do humor", observa Adnet. "Tem poucas coisas na TV que faço questão de ver, e 'Tá no Ar' é uma delas. Não faço questão de ver tudo que faço. É verdade... Mas o 'Tá no Ar' (faço questão), sim".

PLURALIDADE

Adnet, que também é apresentador, defende que o humor tem que ser sempre plural. Segundo ele, no Brasil, pessoas com discurso mais extremado atacam constantemente a classe artística, comediantes, e que é natural a equipe do programa se "alimentar" disso e transformar em tema. "A função do humor é essa: observar, reagir, satirizar. Aqui no 'Tá No Ar', a gente sempre teve essa medida, que era: 'Vamos fazer graça com o opressor, com quem está por cima'. Essa é a graça que a gente se propõe a fazer aqui no programa. Humor que tenha uma conexão com a nossa vida real", explica.

Mas não só de críticas sociais se faz o programa. Quando, em um domingo à noite, Gloria Pires viralizou com os comentários da transmissão do Oscar, em 2016, isso também virou assunto para o humorístico. "A gente tinha o 'Tá no Ar' (para ser exibido) na terça e havia uma cena de Oscar, que não fazia nenhuma menção a ela. A gente falou (Marcius e eu): "Cara, é impossível passar esse lance, e a gente não comentar. Conseguimos correr atrás dela, da autorização da casa, e poder brincar. Fui ao estúdio na própria terça-feira, gravei lá no Jardim Botânico, no 'Fantástico', um áudio novo, para poder incluir a brincadeira com ela", lembra.

Outro momento marcante para o jornalista foi a participação de Antônio Fagundes na atração. "Fagundes vestido de Menudo, com colã, fazendo coreografia de 'Não Se Reprima' numa pequena folga que ele teve. É um absurdo maravilhoso ter ele com a gente brincando", conta Adnet. "Foram mais de 100 participações de artistas. Teve também o Carlos Alberto de Nóbrega, que foi um convidado histórico. Reproduzimos um cenário de 'A Praça É Nossa', do SBT", acrescenta.

Na última temporada, o programa receberá nomes como Thiago Lacerda, Fernanda Paes Leme, Gabriel Leone, Pedro Bial e Karol Conka, entre outros. E os personagens? "Os antigos e fixos estão de volta e temos alguns novos. Como sempre, o 'Tá no Ar' faz essa renovação", avisa ele, empolgado.

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