Jards Macalé lança seu novo álbum, 'Besta Fera', neste sábado no Circo VoadorAna Righi
Por THIAGO ANTUNES
Publicado 04/04/2019 06:00 | Atualizado 04/04/2019 15:51

Rio - Jards Macalé tem esperança. Aos 76 anos, o cantor e compositor tijucano exibe versatilidade, delicadeza e destreza ao radiografar um Brasil partido em seu novo disco, Besta fera, com show de lançamento marcado para o próximo sábado (6) no Circo Voador. Coautor de clássicos do cancioneiro brasileiro, como 'Vapor barato' (regravada por nomes como Gal Gosta e O Rappa), 'Movimento dos barcos' e 'Let's play that', o músico acredita que o país passa por um momento sombrio, mas há luz no fim do túnel.

Seu novo álbum, aclamado pela crítica e bem recebido pelo público, foi concebido no ano passado e ressoa com mais força em 2019. Entre o samba e suas vertentes e o rock e o experimental, Macalé discorre sobre a crise social e moral de nossos tempos ao gravar canções antigas, musicar poemas e fazer novas parcerias. "O disco é a cara do Brasil que estamos vivendo agora. Do mundo que estamos vivendo agora, cheio de debates e guerras estranhas. O Brasil dessa forma estranhíssima, trevoso. Ao mesmo tempo, vejo como um disco luminoso. Temos que passar por esse buraco, mas vamos sair dessa", avalia.

O DIA: Você não lançava um disco de inéditas desde 1998, mas não ficou parado. Há discos ao vivo,  shows e outras regravações desde então. O que motivou o senhor a gravar um álbum novo?

Jards Macalé: Eu já queria gravar há algum tempo, mas o que possibilitou foi um edital que ganhamos da Natura (Musical, selo de música da marca de cosméticos), para reunir um time de músicos bons e fazer uma produção bem feita e organizada. Comecei a pedir letras para várias pessoas, como Ava Rocha (cantora e compositora, filha do cineasta Glauber Rocha), minha amiga desde a barriga, e fiz muito shows com o pessoal do Metá Metá (grupo paulistano de música experimental) e pessoas como Rômulo Fróes, Rodrigo Campos...e aí nós nos juntamos e fizemos várias canções.

Entre as músicas do álbum, há algumas antigas. Por que trazê-las de volta?

Havia algumas no baú, não guardadas, mas esquecidas e inéditas. Trabalhei em cima delas, caso de 'Besta fera', que dá nome ao disco, que fiz sobre o poema 'Aos vícios' do Gregório de Mattos, poeta do século 16, que sempre falou das mazelas do Brasil e do mundo. Decidir fazer uma em parceria com o (José Carlos) Capinam, meu parceiro antigo de coisas como 'Movimento dos barcos', chamada 'Pacto de sangue'. Encontrei o poema dele e fiz. Chamei o Thomas Harres (baterista de sua banda) e o Kiko Dinucci (guitarrista do Metá Metá) e fomos fazendo as outras, partindo do zero.

De que forma foi o processo de gravação?

Fomos reunindo o pessoal e distribuindo as funções. O Rômulo Froés fez a direção artística, o Kiko e o Thomas fizeram a produção musical. Chamei alguns convidados, como o Tim Bernardes, da banda O Terno, talentoso compositor dessa novíssima geração, a Juçara Marçal, do Metá Metá, e mandamos brasa. A pré-produção foi feita em meu sítio em Penedo, onde tocamos, fizemos os arranjos e chegamos no estúdio em São Paulo com tudo já praticante pronto.

Como esse processo se distancia ou se aproxima do seu estilo de gravação?

Em 98, quando gravei meu último disco de inéditas, eu convidei o Cristóvão Bastos para gravar em Penedo. E foi mais ou menos o mesmo processo. Fizemos quase tudo antes. Sempre gostei de preparar as coisas, fazer algo mais andada, com um pensamento de chegar quase 100% ao estúdio. Esse disco de agora foi mais parecido com minha estreia em 1972, onde toquei com o Lanny Gordin (guitarrista) e o Tutty Moreno (baterista). Ensaiamos no porão do Teatro Opinião e, quando entramos em estúdio, estava tudo meio combinado. Mas meio combinado, como se fosse jazz, apesar de ter uma base pronta.

E as novas parcerias, para além da vivência musical?

Alguns parceiros vieram dessa vivência, do fazer show. Ao Tim cheguei de forma engraçada. Ele me chamou para um show de sua banda e eu o chamei para outra apresentação minha, no palco. Ele dizia saber todas as minhas músicas: 'É só falar' (risos). No camarim conversávamos sobre música e revelei que meu disco de cabeceira era um álbum de Jamelão cantando Lupicínio Rodrigues, acompanhado da Orquestra Tabajara com arranjos do Severino Araújo. Ele disse: 'O meu também,  o meu também' (risos). Falamos de compor músicas nesse estilo. E aí fizemos 'Buraco da Consolação', um samba que ele não tinha gostado da música e me mandou. Uma música tipicamente do Lupicínio Rodrigues.

Quando você falou de seu disco de 72, no momento da ditadura, me parece que há ligação ao material atual. Há algo musical-temático neles? 

Eu diria que é inconscientemente proposital (risos). Esse disco era para ter saído em 2018, mas tive uma broncopneumonia grave e fiquei praticamente seis meses parado. Quando me senti pronto, já tinha passado praticamente 2018 todo. E aí quando gravamos, percebemos também que casava com esse momento atual do Brasil, do mundo. Esse país rachado, com coisas estranhíssimas acontecendo. A primeira música que subiu nas plataformas foi 'Trevas', que é um retrato disso. Mas eu considero um disco luminoso, ao mesmo tempo. Estava todo mundo ligado nos acontecimentos, mas existia muito humor dentro do estúdio e ele tem uma luz. Estamos nesse 'Buraco da Consolação', e temos que passar por ele, vamos sair, mas temos que passar por ele.

O que o público pode esperar do show?

(Sorri) Ah, se ficar como foi no (Auditório) Ibirapuera...tocamos ali em São Paulo, tudo lotado, cheguei a entrar e ficar assim (ri). O show é divertidíssimo, com convidados especiais e revisito sucessos mesclados às músicas do disco. Vai ser uma noite bem divertida.

Serviço: Jards Macalé apresenta 'Besta fera' no Circo Voador

Sábado, 6 de abril de 2019

Horários: Abertura da casa às 22h

DJ Lencinho antes e depois da apresentação

Circo Voador | Arcos da Lapa, s/ número - Lapa

Ingressos: R$ 80 e R$ 40 (meia entrada e meia entrada com 1kg de alimento)

Horário de funcionamento da bilheteria: De terça a quinta, de 12h às 19h; sexta de 12h à 0h; sábado das 14h às 0h. Sempre a 2 horas antes de cada evento.

Venda online: https://bit.ly/2VWVhAB

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