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O que observamos é que, o costume dos cariocas de chegar o mais tarde possível em um lugar quase prevaleceu. Dito isto, a homenagem da Orquestra Petrobras Sinfônica ao Queen tocando as músicas do sucesso Bohemian Rhapsody atraiu não mais que uma centena de pessoas ao Palco Rosa, em uma abertura que acena para o RiR e mostrou a beleza do cenário: fazia calor, mas não em excesso e a Marina é realmente um dos lugares mais exuberantes da cidade. A entrada da orquestra foi um pouco atrasada e o Carne Doce também chegou com 20 minutos de atraso — a banda enfrentara um problema técnico e fez uma jam descompromissada e climática até a entrada da vocalista Salma Jô no palco.
Os fãs cantaram e dançaram sucessos da carreira em seus três discos como 'Artemísia', 'Tônus' e 'Passivo' e a voz potente e o carisma de Salma ajudaram a embalar os presentes no início da bela tarde no local. Pouco depois, foi a vez de Jade Baraldo, que já passou pelo The Voice Brasil' mostrar sua mistura de pop, eletro e até bossa e reunir um público fiel e dedicado, que foi ao delírio com a curta apresentação, reunindo um produtor/DJ, baterista e bailarinos em coreografias sensuais — Jade sofreu com um problema técnico que fez sumir sua voz e encurtou sua aparição, mas chamou a atenção pela performance. A catarinense deve lançar um disco ainda no segundo semestre. Luedji Luna fez o melhor show do Queremos Festival!, facilmente. Já anoitecia quando a artista pisou no palco, mostrando músicas como 'Eu sou uma árvore bonita', 'Corpo no mundo', 'Banho de folhas' e 'Acalanto', em bonito coro com a plateia e uma banda afiadíssima. Tendo um disco de estúdio na bagagem, ela prepara uma turnê europeia e deve alçar outros voos em breve, merecidamente. A apresentação pega por reunir uma combinação poderosa de talento e entrega, sejam em números mais contemplativos ou onde Luedji coloca o coração na voz. Muito bonito.
A sensação indie Duda Beat mostrou a que veio na sequência, quando o festival já apresentava maior circulação de pessoas que no ano passado. Abrindo o telão do Palco Rosa com uma mensagem sobre o amor de todas as formas, a cantora lançou um show azeitado com músicas de 'sofrência' e canções dançantes. Sobre o repertório, a própria Duda definiu perfeitamente em uma fala: "Em uma música a gente chora, na outra a gente dança", e é assim ao longo de hits como 'Parece pouco', 'Derretendo', 'Egoísta', a versão para High by the beach (a literal 'Chapadinha)' de Lana Del Rey e uma cover estilo forró das Spice Girls, além da conhecida 'Bixinho'. Um show que simbolizou o espírito de diversidade presente. Em seguida, Allie X chegou ao Palco Amarelo embalada por uma mistura de pop e eletrônico, fazendo a alegria de poucos (em comparação com o que viria) mas fieis fãs em músicas como 'Bitch', 'Casanova', 'Girl of the Year' e 'Good'. Feliz, a canadense agradeceu ao carinho e prometeu voltar em breve.

Assistir Gal Costa deveria ser obrigatório para qualquer pessoa interessada por música, praticamente um evento dentro do evento. Casando com a proposta da cor do palco, Gal vestia rosa e chegou com um pé na porta com uma versão potente e bem guitarreira de 'Dê um role', dos Novos Baianos, conseguindo um coro de vozes alto e apaixonado. O show não é muito diferente do apresentado em casas do Brasil afora e congrega fases diferentes do cancioneiro da baiana. Há espaço para Roberto Carlos ('Sua estupidez', em versão irretocável), Caetano Veloso ('London, London', 'Vaca profana'), Lupicínio Rodrigues ('Volta') e Fábio Jr. ('O que é que há') e faixas de abrangem sua carreira, como os sucessos recentes como 'Sublime', 'Minha Mãe' e 'Cuidando de longe'. O encerramento, com arrasa-quarteirões como 'Balancê' e 'Festa no interior' ajudaram a deixar o clima quente para os americanos do Hypnotic Brass Ensemble.
O octeto de Chicago, todos filhos do trompetista Phil Cohran, tem em seu caldeirão influências do jazz à música cigana, misturando instrumentos de sopro ao soul dançante, funk e rap. Da conhecida 'War', passando por 'Kryptonite' e 'Party Started', essas duas últimas cantadas' (e bastante celebradas), o HBE conseguiu manter parte do público concentrado e interessado. Merecia um show somente deles. O rapper Criolo, após o bem recebido álbum de samba 'Espiral de ilusão', voltou com músicas novas e arranjos diferentes para trabalhos antigos. Abrindo o show com 'Boca de lobo' ele não deixou a peteca cair, aproveitou para alfinetar o estado de coisas atual em petardos como 'Duas de cinco', 'Grajauex', 'Casa de papelão' e 'Convoque seu buda'. O som, potente, ajudar a elevar os grave impostos pela banda que o acompanha. A apresentação deve basear seus shows até o lançamento de seu vindouro disco.
Passava de 0h30 quando Diogo Moncorvo, o Baco Exu do Blues, entrou no palco. Quem já viu, sabe o furacão que Baco faz com um DJ, um vocalista (Shan Luango) um guitarrista (Rodrigo Caian) no palco na atual turnê. Há a tradicional onda de pulos com a 'Abre caminho', a cantoria do refrão de 'Flamingos', que contou com a participação de membros do Tuyo, a visceralidade de 'Preto e prata', a delicadeza crua de 'Girassóis de Van Gogh' e o hit 'Te amo desgraça'. O rapper, tal qual Simonal, chegou a reger e dividir o público em lado A e B, pedindo coros (prontamente atendidos) e cuidado com as mulheres nas rodinhas. A noite ainda receberia o Nu Guinea e o Forró Red Light, mas as pernas já não aguentam o restante. O saldo final, no entanto, é pra lá de positivo.

Há algumas considerações sobre todo o evento. O preço, R$ 130 (considerando que quem não é estudante paga o mesmo com 1kg de alimento), é barato para assistir a, pelo menos, três shows completos. Um show de Gal Costa, por exemplo, saía a R$ 80 sob as mesmas condições em outro conhecido palco da cidade neste mesmo ano. Nem tudo foram flores, talvez um reflexo do crescimento em relação à edição de 2018. Os containêres espalhados pelo evento com guichês de caixa não deram conta da demanda conforme a noite ia avançando — as filas seguiram aumentando mas, felizmente, a situação não se prolongou durante todo o festival.