Pitty - Divulgação/Otavio Sousa
PittyDivulgação/Otavio Sousa
Por RICARDO SCHOTT
Rio - Lançando 'Matriz', seu primeiro disco de inéditas após a chegada dos 40 anos - e o nascimento da filha Madalena - Pitty entende perfeitamente o que Madonna quer dizer quando fala em "ageísmo" (preconceito com idade).
"Não é fácil envelhecer às vistas de todos, especialmente se você constrói uma carreira muito baseada em imagem e estética. Sempre pensei nisso: não ficar refém da aparência", conta a cantora baiana, hoje com 41. "Sempre achei que isso poderia ser uma armadilha, e procurei calcar o valor da minha arte em outras coisas que não dependem disso. Imagem passa, corpo passa. Arte fica. E a arte da Madonna vai ficar também, porque o legado que ela construiu é maior do que isso".
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Em termos de cuidados pessoais, o foco da cantora é envelhecer bem. "É chato começar a pensar em algumas limitações físicas - a lombar que começa a doer, essas coisas", brinca. "Mas eu gosto muito de exercícios e venho preparando meu corpo para esse processo, para manter o vigor e a independência física até onde der. Porque não há outra alternativa, né? Só não envelhece quem já partiu".
A vida de mãe, por sinal, trouxe mudanças à vida da cantora. "Hoje eu acordo cedo", brinca ela, que passou a ter outros tipos de preocupações. "Desejo que a Madalena possa transitar e existir nesse mundo sem medo de ser quem ela quiser. Que ela não tenha medo de sair na rua por sem mulher. Que ela não sofra violência de nenhuma espécie, seja física ou psíquica. Que isso não seja, de forma alguma, um entrave para suas realizações profissionais", conta ela, que se vê como uma mãe "de boa".
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"Acredito no poder do diálogo e na comunicação não-violenta. Na criação no apego, no construtivismo. Mas, ao mesmo tempo, não me furto de ser a adulta da relação quando isso é necessário", diz, rindo.
Não é só rock
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Quem estava acostumado com o som dos discos anteriores de Pitty vai se surpreender com 'Matriz', que volta nas origens baianas da cantora e traz até o reggae como referência, no primeiro single, 'Te Conecta'.
"Eu me identifico com essa parte mais 'roots', dos blocos afro, do candomblé, do samba de recôncavo. A parte da música de luta, de protesto. A cultura que durante muito tempo teve que ser suprimida, sintetizada, disfarçada para existir. Música de resistência", conta.
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Lazzo Matumbi, nome histórico da MPB feita na Bahia - e da mescla com reggae - dá sua contribuição em 'Noite Inteira', dos versos "não peço que concorde, não impeça que eu fale/entendo que discorde, não espere que eu me cale". "Sua obra sempre permeou o meu imaginário e de todos os baianos. Ele é 'a voz da Bahia'. Me trouxe recordações boas, mas eu o chamei pelo presente. Não é uma coisa nostálgica. É atual, seu discurso e postura e obra são mais contemporâneos do que nunca", esclarece a cantora. Algumas músicas do disco são bem antigas: 'Sol Quadrado' vem de uma demo de 2002, quando o primeiro disco, 'Admirável Chip Novo' (2003) ainda nem existia.
A estreia, por sinal, fez 15 anos em 2018. Pitty mal se deu conta. "Eu vivo tão no futuro que eu não tenho tempo a perder com o passado", diz, rindo. "Eu fiquei meio chocada de ver que passou esses anos todos e eu nem percebi". E o que a Pitty de hoje diria para de 2003? "Se joga, piveta!", conta.