Por SELECT ART

Há pouco mais de um ano, ao participar do 1º Encontro das Artes Visuais, organizado pela seLecT em parceria com a Secretaria da Economia da Cultura do MinC e o escritório CesnikQuintino&Salinas Advogados, o empresário João Carlos Figueiredo Ferraz criticou a falta de incentivo para que as coleções de arte particulares sejam mostradas no Brasil. “95% de toda a produção visual brasileira da metade do século 20 para cá está em coleções particulares. Por que essas coleções se escondem? O museu é o espaço onde as obras de melhor qualidade da produção cultural brasileira possam ser mostradas”, disse ele.

Hoje, 57 obras da Coleção Dulce e João Carlos Figueiredo Ferraz, assinadas por 55 artistas, estão em exposição no MuBE – Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia, em São Paulo, satisfazendo o desejo do colecionador de que uma importante parcela da produção cultural brasileira seja exposta em um museu. Com curadoria de Cauê Alves, a mostra Construções e Geometrias integra um projeto maior, o Prêmio MuBE Colecionismo e Apoio à Arte 2019, criado para incentivar o apoio privado às instituições culturais. “Aceitei o convite com o maior entusiasmo, porque tenho defendido muito a tese da aproximação das coleções com os museus. E fiquei muito contente e orgulhoso de ser o primeiro convidado”, diz Figueiredo Ferraz à seLecT.

O enfoque curatorial nas vertentes construtiva e geométrica privilegia os vínculos entre as obras e a arquitetura do edifício de concreto aparente do MuBE, desenhado por Paulo Mendes da Rocha. A exposição parte de dois artistas envolvidos no debate concretista dos anos 1950, como Amilcar de Castro e Lizárraga, e avança para a arte produzida a partir da década de 1990, com peças de artistas como Rodrigo Andrade, Fernanda Gomes, Guilherme Peters, Cinthia Marcelle, Marcelo Cidade, Adriana Varejão, Débora Bolsoni, Artur Lescher e Paulo Pasta.

“Ele possui uma das mais importantes coleções de arte contemporânea do Brasil, com sede fora da cidade de São Paulo e que merece ser conhecida por aqui. Mais do que isso, é alguém que apoia a arte, as instituições (não apenas o MuBE) e que tem uma preocupação em compartilhar a sua coleção”, diz Cauê Alves para a seLecT. “A ideia é valorizar o trabalho que as pessoas como ele possuem na difusão da arte e no seu fomento”.

João Carlos Figueiredo Ferraz tem um histórico importante de apoio às instituições artísticas. Em 1988, ajudou a fortalecer o Salão de Arte de Ribeirão Preto, convidando para o júri importantes críticos de São Paulo e do Rio. Em 1989, quando as galerias brasileiras ainda não tinham clientela internacional e poucos artistas nacionais eram reconhecidos além-mar, comprou o díptico O Pródigo, de Dudi Maia Rosa, no stand da extinta galeria Subdistrito na feira de Colônia, na Alemanha, “salvando” a viagem do galerista João Sattamini. Na segunda metade dos anos 1990, Dulce e João Carlos tinham tantas obras guardadas em armazéns que começaram a sentir necessidade de mostra-las publicamente. Primeiro foi uma exposição do acervo no Museu de Arte de Ribeirão Preto, no aniversário da cidade. Depois, em 2001, uma mostra no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Essa sequência de ações levaria à criação do Instituto Figueiredo Ferraz, colocando Ribeirão Preto no mapa das artes nacional.

Construções e Geometrias é, portanto, a terceira exposição da coleção em um museu. A diferença é que agora acontece também uma bem-vinda doação: a obra de Lydia Okumura, uma delicada geometria espacial, composta de fios de arame, foi doada ao MuBE, que até hoje era um museu sem coleção.  “A gente está construindo uma coleção de obras-projetos, uma coleção de ideias, de obras que são montadas e remontadas com outra materialidade”, diz Cauê Alves. “Construir um museu não é uma tarefa individual de um diretor, um curador. É uma tarefa coletiva, que todos estão ajudando”.

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