Por SELECT ART

O Mestiço (1934), de Cândido Portinari (Foto: Divulgação)

No lançamento da retrospectiva digital Portinari: O Pintor do Povo, lançada pela plataforma Google Arts & Culture na Pinacoteca do Estado de São Paulo, na quarta 5, uma faixa de segurança separava o público da tela O Mestiço (1934). As marcas de terra sob as unhas e cutículas do trabalhador do campo retratado por Cândido Portinari (1903-1962) não seriam perceptíveis se o visitante não tivesse ao alcance das mãos, em seu smartphone, todos os detalhes da tela em altíssima resolução. O Mestiço é uma das dez imagens capturadas em gigapixels pela Art Camera do Google. As obras integram o mais novo conteúdo da plataforma digital gratuita Arts & Culture, produzido em parceria com seis instituições brasileiras.

“Sou da opinião de que nada substitui a experiência física da obra de arte”, diz à seLecT Paulo Vicelli, diretor de relações institucionais da Pina, o museu paulista que tem O Mestiço em seu acervo. “Mas não é porque somos um museu com um acervo predominantemente do século 19 que devemos ficar no século 19. As parcerias com as novas plataformas de democratização de acesso são muito bem-vindas”.

Portinari: O Pintor do Povo é a segunda retrospectiva digital feita pelo Google de um artista latino-americano. Há um ano, foi lançada a retrospectiva Faces de Frida, dedicada ao legado da pintora mexicana Frida Kahlo. Além das dez telas em gigapixels, o projeto de Portinari é formada por um tour street view da casa do artista em Brodowski, no interior de São Paulo; vinte exposições virtuais com enfoques e curadorias diversas, feitas especialmente para a plataforma; e 20 mil itens (5 mil obras de arte e 15 mil documentos históricos) digitalizados previamente pelo Projeto Portinari, dirigido por João Portinari, filho do artista.

Café (1935), de Cândido Portinari (Foto: Divulgação)

“A obra de Portinari é uma grande carta, de conteúdo humanista, que ele escreveu ao mundo. A missão do Projeto foi entregar essa carta ao público brasileiro e estrangeiro. Quem melhor que o Google para fazer essa entrega hoje?”, diz João Portinari, responsável pela digitalização da íntegra da obra e pelo catalogo raisoneé do artista, lançado em 2004 após 25 anos de trabalho. “Foi um trabalho de formiga, eu não pensei que viveria para ver esse trabalho concluído. Quando o Projeto começou, não existia sequer um scanner no Brasil”.

Entre os destaques da retrospectiva está toda a documentação – entre estudos, desenhos e fotografias – envolvida na elaboração daquela que o pintor considerava sua obra máxima, o mural Guerra e Paz (1952-56), pintado na sede da ONU em Nova York. Há ainda comentários críticos e históricos sobre as seções da obra de 280 metros quadrados – maior que o Juizo Final, de Michelangelo na Capela Sistina – de autores como Antonio Bento, Clarival do Prado Valladares e Israel Pedrosa.

“Guerra e Paz está em um espaço de segurança máxima da ONU. O Google foi lá e fez um street view. Agora podemos visitar a obra como se estivéssemos lá. Talvez até com um pouco mais de proximidade, já que o mural tem 14 metros de altura”, diz João Portinari.

Lançado em 2011, o aplicativo tem hoje parcerias com 80 museus de todo o mundo e se afirma como uma importante ferramenta de acesso a acervos muitas vezes inacessíveis. Outro destaque é voltar no tempo e visitar a coleção do Museu Nacional do Rio de Janeiro antes do incêndio de setembro de 2018.

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