O canal de Maria Flor no YouTube tem cerca de 40 mil inscritos - Reprodução
O canal de Maria Flor no YouTube tem cerca de 40 mil inscritosReprodução
Por Juliana Pimenta

Rio - Tanto na ficção quanto na vida pessoal, o trabalho de Maria Flor tem girado em torno das tão temidas DRs (termo usado para se referir à prática de discutir a relação). No teatro, a atriz está em cartaz com a peça 'A Ponte', no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), que aborda o reencontro de três irmãs no leito de morte da mãe.

"É uma peça sobre a família e sobre as expectativas que a gente cria em relação ao outro, que muitas vezes não se concretizam. É um texto que fala da importância de lidar com a nossa frustração e com as nossas inseguranças, e também de falar desse medo de como a nossa família nos vê", conta.

Flor destaca que o espetáculo mostra o valor de manter um diálogo saudável, um tema que também está presente em seu canal no YouTube, no qual produz conteúdo com o marido, Emanuel Aragão. "A gente tem que entender que vai discordar em algum momento, que a gente vai pensar diferente. Só que pensar diferente não significa que o outro é nosso inimigo ou que a gente não pode se relacionar com ele. As diferenças são importantes, porque você cresce e se transforma através dessas relações", defende.

Flor e Manu

O canal, no entanto, não nasceu dessa vontade de falar sobre relacionamentos, mas de uma necessidade do casal de entender o funcionamento da plataforma. "A gente começou porque queria entender o YouTube. É uma plataforma muito interessante, onde você pode colocar o seu próprio conteúdo. O Emanuel também é ator e produtor, então estamos o tempo todo pensando em projetos, em filmes, em peças. Então, era um jeito de entender como funcionava, mas a gente não tinha a pretensão de que virasse um canal com 40 mil seguidores", destaca.

Apesar de não ter o sucesso como objetivo principal, Maria Flor, que começou gravando os vídeos de Emanuel, revela que decidiu sair de trás das câmeras para protagonizar algumas produções conforme o contato com o público foi ficando mais intenso. "O Emanuel decidiu fazer um vídeo por dia, porque ele é essa pessoa obsessiva. Mas eu vi que isso chegava nas pessoas e quis participar. É bom porque, de algum jeito, nós, artistas, ficamos protegidos pelo personagem e pela narrativa e se expondo de uma forma glamourosa, de uma forma distanciada do público".

Na opinião da atriz, essa aproximação que vem sendo conquistada pelo canal, lançado há pouco mais de um ano, ajuda a criar um ambiente de trocas mais saudável. "Quando você se expõe para mostrar que está em um filme ou na capa de uma revista, isso não fala sobre você como ser humano. Isso fala de você em um lugar distanciado do seu próprio público. E tanto eu quanto o Emanuel queremos dizer que os artistas são pessoas normais, que é uma profissão como qualquer outra e que todo mundo tem problemas", diz.

Diário de casal

Talvez por mostrar um relacionamento real, o quadro de maior sucesso do canal 'Flor e Manu' é o 'Diário de Casal', que sai todas as quintas. "Nós percebemos que isso era uma coisa que atraía as pessoas e muitos mandavam feedbacks, dizendo que nós tínhamos ajudado de alguma forma. E isso é muito bonito para nós, porque a gente entende que essa comunicação faz com que as pessoas reflitam sobre questões importantes", comemora.

O quadro tem temas diversos que variam entre relacionamento à distância, masturbação e traição. A intimidade passada pelos dois nos vídeos mostra uma relação — quase — sem restrições. "Acho que a gente fala sobre quase todas as coisas, a gente não se reprime e não se critica. E o canal acabou sendo um jeito de a gente fazer uma autoanálise. É claro que, às vezes, é muito duro, porque as pessoas podem ser duras nos comentários, mas a gente também está sempre repensando e se questionando. Então é um processo muito legal e prazeroso', destaca.

Sexo e feminismo

Outro assunto recorrente para Maria Flor é a questão do empoderamento feminino e, claro, da relação da mulher com o sexo. Para a atriz, o prazer sexual da mulher tem que ser cada vez mais valorizado. "Acho que não é bom fingir orgasmo, porque isso faz com que a gente se afaste do nosso parceiro e de nós mesmas. E isso torna o ato sexual muito frustrante. Acho que quanto mais você liberta sua própria cabeça dos padrões, mais livre você é. Eu já fingi muito orgasmo, e isso me atrapalhou muito na vida", revela.

Para Flor, uma das justificativas para a existência desses padrões é o machismo estrutural da sociedade, que tem que ser questionado. "Acaba que a gente tem que ser perfeita, magra, bonita, jovem e estar sempre com o cabelo arrumado, as unhas feitas e ainda tem que dar prazer pro homem na cama. Mas nada disso é verdade, a gente tem que ser o que quiser. Eu, por exemplo, adoro fazer as unhas, mas, às vezes, passo seis meses sem me depilar e, às vezes, eu quero. E não tem certo e errado nisso, cada um tem que saber o que te faz bem", defende.

No final das contas, a atriz — e agora, influenciadora digital — destaca que o canal é para todos. "Acho que é bom para todo mundo que, de algum jeito, tem interesse em pensar sobre os relacionamentos contemporâneos, sobre a colocação e desconstrução dos gêneros e sobre o que fazer para ser mais feliz. A gente passa muito tempo da nossa vida em relação fingindo coisas para o outro ou querendo agradar, então muita gente acaba não se relacionando de verdade e isso é importante de se pensar".

 

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