Cena de 'Afronte', filme de Bruno Victor Santos e Marcus Azevedo:
Cena de 'Afronte', filme de Bruno Victor Santos e Marcus Azevedo: "abortado" pelo presidenteDivulgação
Por Juliana Pimenta

Rio - Durante uma transmissão ao vivo, realizada pelo Facebook na última quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que conseguiu barrar o financiamento da Ancine (Agência Nacional do Cinema) a dezenas de filmes que, para ele, são considerados "sem cabimento".

Afrontosos

O presidente criticou a existência de diversos filmes com temática gay ou sexual. Um deles é 'Afronte', obra dos diretores Bruno Victor Santos e Marcus Azevedo, que fala sobre a realidade de negros homossexuais no Distrito Federal. O filme seria a continuação de um produto exibido no Festival do Cinema Brasileiro de Brasília 2017 e vencedor do Prêmio Saruê de Cinema.

Para Bruno Victor Santos, o discurso do presidente não leva em conta a realidade do país. "Ele é extremamente ignorante ao pensar que filmes como esse, que falam sobre nós, não deveriam ser produzidos. É importante que ele assista a esse filme, para que ele tenha o mínimo de conhecimento sobre a realidade brasileira", diz o diretor.

De acordo com Bolsonaro, esse é mais um filme que foi "para o saco". "A vida particular, de quem quer que seja, ninguém tem nada a ver com isso, mas, fazer um filme sobre negros homossexuais no DF, eu confesso que não dá para entender".

Apesar de o presidente criticar e negar o apoio às produções, o diretor Bruno Victor Santos reitera que o trabalho é de extrema importância. "Se o racismo fosse levado a sério no Brasil, não teríamos um presidente como esse. Falta ele estudar. O cinema está aí para refletir todas as realidades", diz.

Bilheteria

Na live, Bolsonaro voltou a falar sobre o filme 'Bruna Surfistinha', estrelado por Deborah Secco. Apesar de ter tido mais de 2 milhões de espectadores nos cinemas em 2011, o presidente alega que esse tipo de filme é dinheiro jogado fora. "Esses filmes não têm audiência, não têm plateia, têm meia dúzia ali. São milhões de reais gastos com esse tipo de tema. Não tem cabimento fazer um filme com um enredo desses e gastar dinheiro público".

Para finalizar, Bolsonaro afirmou que, se não houvesse o regime de mandatos na Ancine, já teria "degolado tudo".

De acordo com o presidente, o governo conseguiu "abortar a missão" de captação de recursos para obras audiovisuais após "garimpar" os materiais da agência.

"São dezenas, olha o nome de alguns. Um filme aqui chama-se 'Transversais', olha o tema: sonhos e realizações de cinco pessoas transgêneras que moram no Ceará. Então, o filme é esse aqui e conseguimos abortar essa missão", destacou.

 

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