Katia Barbosa  - Globo/Victor Pollak
Katia Barbosa Globo/Victor Pollak
Por Juliana Pimenta
Rio - Sal e pimenta podem até ser os temperos mais tradicionais da culinária brasileira. Mas, para a chef Kátia Barbosa, umas das juradas do ‘Mestre do Sabor’, da Globo, existe um elemento que se sobrepõe a todos os outros ingredientes da sua cozinha: o afeto. Nascida em Ramos e filha de nordestinos, Kátia virou cozinheira por acidente e atribui sua criatividade às dificuldades que a família passou quando ela ainda era pequena.

“A minha mãe é a grande mentora da minha cozinha. Nós éramos muito pobres e ela tinha que inventar o que fazer. Nós não tínhamos proteína e, mesmo assim, ela conseguia alimentar nossa família com uma comida gostosa e delicada”, confessa Kátia, que ficou famosa no Rio pela criação do bolinho de feijoada, uma adaptação de uma receita improvisada pela mãe em tempos difíceis. “Ela amassava o feijão com farinha, fazia um bolinho, colocava na minha boca e eu ficava feliz da vida”, lembra.

O amor pela cozinha, no entanto, não foi instantâneo. Kátia faz questão de dizer que, antes de se apaixonar pela gastronomia, o primeiro passo foi o respeito com a comida. “Eu acho que o nordestino tem muito disso. Como meus pais vieram do sertão, eles tinham noção da dificuldade que era colocar comida na mesa. Então a minha primeira relação com a comida foi de respeito. Até lembro da minha mãe reclamar quando eu e meus irmãos brigávamos por comida. Ela dizia que comida tinha que unir e não separar”, conta a chef que está montando um novo restaurante, com comidas simples, em homenagem à mãe.

Gostinho de casa

Como o próprio nome diz, foi no restaurante Aconchego Carioca, na Praça da Bandeira, que Kátia pôde praticar pela primeira vez a culinária afetiva que tanto defende. “Eu já estava dando meus primeiros passos na cozinha quando minha ex-cunhada, que era dona do Aconchego, me convidou para cozinhar. Como era uma casa pequena, era como se eu recebesse as pessoas na minha própria casa. Fui tomando gosto e me dedicando mais e mais. Dali saiu uma cozinheira que estava escondida”, lembra a chef ao falar do começo da carreira de chef já aos 40 anos.

Fugindo da gourmetização e acompanhando uma tendência mundial, Kátia reforça o gosto pela comida de verdade. “A cozinha é o retorno às origens. Essa revolução gastronômica é muito legal, até porque comida tem a ver com memória e com o que te conforta. E o que conforta mesmo é a comida de mãe, de pai, aquela comida que você comia quando pequeno e é pra onde você corre quando alguma coisa acontece”, afirma, ao lembrar da felicidade que sente quando consegue tocar o coração de algum cliente com uma de suas receitas: “isso me mostra que estou no caminho certo”, argumenta.
O olhar do outro
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Apesar de tanto sucesso, Kátia garante que não vê problemas em dividir a cozinha com amigos ou até com os colegas de programa. Para ela, não há espaço para ser individualista. "Eu aprendi a dividir a cozinha e, assim, a dividir experiências. Fico atenta, porque sempre acho que tenho o que aprender. Cada um recebe a informação e digere de uma forma e isso é muito importante nessa profissão. Aprender é a regra e eu estou sempre querendo aprender", conta a chef que tem conhecido novas técnicas com os chefs que passam pelo 'Mestre do Sabor'. "É verdade quando eu falo sobre trocar no programa, porque as sacadas são muito boas. Eu sempre falo que gosto tanto da ideia que penso que a ideia era pra ser minha. Como eu não pensei nisso antes?", brinca.
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Sucesso internacional
Famosa no mundo gastronômico há anos, Kátia tem experimentado pela primeira vez a exposição que um programa de TV traz. Com o habitual bom humor e simpatia, a chef carioca tem lidado bem com o assédio. "Tá engraçado. As pessoas me param na rua, mas eu continuo fazendo as mesmas coisas simples. Quando eu entro no supermercado, as pessoas ficam me olhando, suspeitando se sou eu. Eu sempre digo: 'sou eu mesma'", se diverte ao lembrar dos encontros com os novos fãs.
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"Eu viajei para Portugal há pouco tempo e as pessoas pararam a gente na rua. Eu fico constrangida, mas muito feliz pelo reconhecimento. Esses dias, tive que ir ao meu restaurante no Leblon e, quando entrei, todo mundo começou a gritar e me aplaudir. Fiquei super envergonhada, mas depois sentei nas mesas, falei com os clientes e ficou tudo bem", confessa.
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Receita Bolinho de Feijoada
Ingredientes:
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2 litros de água
500 g de feijão-preto (deixe de molho em água)
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Kit feijoadinha (100 g de carne-seca dessalgada em cubinhos, 100 g de lombo dessalgado em cubinhos, 100 g de costelinha dessalgada ou defumada, 1 linguiça calabresa em cubos e 1 paio em cubos)
3 folhas de louro
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2 colheres (sopa) de azeite de oliva
3 dentes de alho
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Sal
300 g de farinha de copióba amarela
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1 colher (sopa) de polvilho azedo
Farinha de empanar Yoki
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Óleo para fritar
Para o recheio:
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250 g de bacon em cubinhos
2 dentes de alho
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2 maços de couve em tiras finas
Preparo do Recheio:
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Doure o bacon na própria gordura e refogue o alho. Acrescente a couve, ajuste o sal e retire do fogo. Deixe esfriar.
Preparo da Massa:
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Coloque o feijão, o kit feijoadinha e o louro na panela de pressão, tampe e leve ao fogo médio por 1 hora após começar a chiar. Passado o tempo, libere a pressão para abrir a panela, espere amornar e triture tudo no processador ou liquidificador (aos poucos). Reserve. Em uma panela grande, aqueça o azeite e doure o alho. Despeje a mistura batida e ajuste o sal. Aos poucos e misturando bem, adicione a farinha de copióba e cozinhe até se soltar do fundo. Deixe esfriar.
Incorpore o polvilho e trabalhe bem a massa para que fique homogênea e bem lisinha. Com pequenas porções da massa, molde bolinhas, abra na palma da mão e recheie. Feche bem e volte a enrolar em formato de bolinha. Empane na farinha yoki, frite em óleo bem quente abundante até dourar e deixe escorrer sobre papel absorvente. Sirva, se desejar, com torresmo, gomos de laranja e caipirinha ou batidinha de limão.
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