Rio - Na comédia, todo mundo já sabe do sucesso que Marcelo Adnet está acostumado a fazer. Mas o que surpreendeu os fãs nas últimas semanas foi a notícia de que o humorista é um dos responsáveis pelo samba escolhido pela São Clemente para o Carnaval de 2020. A investida na música, no entanto, não chega a ser uma novidade para Adnet, que é apaixonado por esse universo. "Venho de uma família muito musical. Para se ter uma ideia, quando eu era pequeno, a minha tia Maucha trabalhava com o Tom Jobim. E eu tive um pequeno contato com ele, de ir a show e conhecer. Então, essa minha paixão vem um pouco daí, desse contato da bossa nova com o samba", explica o humorista, que lembra da empolgação com Carnaval ainda na infância.
"Esse é um caminho meu mesmo. Eu gostava muito de samba-enredo, acompanhava Carnaval e dava as notas com a revista na mão, acompanhando quesito por quesito. Mais tarde, eu até cheguei a fazer sambas para os trotes da faculdade de jornalismo. Depois que fui fazer teatro que me distanciei um pouco", explica o comediante que, ao reencontrar um amigo compositor, decidiu escrever o samba.
"Estava com essa vontade já. E o encontro com o André (Carvalho) só serviu para definir mais isso. E como fui criado no Humaitá e sou clementiano, queria entrar em alguma escola em que eu tivesse alguma relação. Acabou que tudo se encaixou perfeitamente, e eu vou até desfilar no ano que vem. Vai ser a minha primeira vez na Avenida", declara Adnet.
'Tem laranja!'
Com os versos "Todo papo que se planta dá/ Dom João deu uma volta em Napoleão/ Fez da colônia dos malandros capital/ Trambique, patrimônio nacional/ Tem laranja!" fica claro que 'O Conto do Vigário', enredo da escola para 2020, é uma crítica política. A empreitada, que não é uma exclusividade da São Clemente, é, para Adnet, um reflexo da conjuntura social do país. "Acho que, em anos de dificuldade, surgem as grandes ideias e as soluções mais criativas. O samba é e sempre foi um espaço de liberdade de expressão artística e de resistência. É um ritmo nosso e esse movimento faz sentido para a própria história do samba".
O clima de contestação também se estende às produções humorísticas. Nos últimos dois anos, os trabalhos mais elogiados de Adnet são as sátiras políticas, principalmente quando o comediante usa como alvo o presidente da República Jair Bolsonaro. "É porque a política e a corrupção são os assuntos que mais mobilizam as pessoas hoje. E o público repercute isso. Como vivemos uma fase muito virtual, o algoritmo acaba promovendo o que é polêmica, mesmo que as pessoas não gostem", explica.