Nelson Sargento - Divulgação
Nelson SargentoDivulgação
Por O Dia

Rio - O amor de Nelson Sargento pelo samba e pelas artes vem de outros carnavais, e o mosaico colorido de muitas escolas de samba do Rio de Janeiro carregam, em sua história, a marca da cadência de Sargento. Com sambas-enredo, o companheiro de Cartola brilhou na Avenida com o verde e rosa da Mangueira, e por ela desfilou por muitos anos. Mas agora, com shows cancelados por causa da pandemia do coronavírus, o sambista de 95 anos, assim como muitos colegas de profissão, sente no bolso a dificuldade de não poder exercer a profissão. Sua esposa, Evonete Mattos, porém, tomou a frente da situação. 

Na terça-feira passada, junto com amigos do compositor, Evonete criou uma vaquinha online para ajudar a pagar as contas da casa, além de medicamentos e alimentação, mas reforça que a família não está passando por dificuldades. "O Nelson não está passando fome, mas precisamos comprar as coisas do dia a dia. Nossa principal meta é deixá-lo tranquilo e evitar que ele sinta que precisa retornar aos palcos. Quero que ele tenha condição de fazer o que ama de dentro de casa", conta.

Encerrada na última quinta-feira, a vaquinha arrecadou mais de R$ 47 mil. Além da contribuição digital, Evonete conta que, ainda na terça passada, começou a venda online de boa parte dos ternos do marido, à exceção de três, dentre eles, o traje usado no desfile da Mangueira em homenagem a Maria Bethânia, em 2016. "Estou muito agradecida, de coração, a todos que ajudaram o Nelson ou que quiseram ajudar, mas não têm condição", comemora Evonete. Com o apoio consolidado de amigos, familiares e parceiros de carreira, ela conta que Sargento chora e se surpreende com o que há de bom na humanidade.

A ajuda também veio de Livea Mattos, nora de Nelson, que o inscreveu no projeto Arte como Respiro: múltiplos editais de emergência, do Itaú Cultural. O compositor foi um dos 200 artistas selecionados para divulgar seu trabalho em parceria com a organização. Além disso, Livea ainda planeja uma programação especial para o aniversário de Sargento. "Estamos avaliando algumas possibilidades para garantir um resultado muito digno para ele dentro das normas de distanciamento social. Ele nunca passou o aniversário em branco, e agora não vai ser diferente", afirma ela. Em 25 de julho, o bamba da Verde e Rosa completa 96 anos.  

Classe cultural na pandemia 

Nos palcos e em bares da Zona Sul do Rio, o caminho do músico Luís Filipe de Lima se entrelaça com o de Nelson Sargento, uma amizade de décadas pautada em respeito e inspiração. "Nelson não é importante apenas para o samba, mas também sempre foi um cara correto, positivo e solidário. Não há história sobre ele que não ressalte sua humanidade", pontua. De imediato, Luís Filipe se mobilizou para ajudar o compositor e conta que o aperto durante a pandemia afeta boa parte da classe dos músicos.

No fim de maio, Luís Filipe vendeu um violão e, com a ajuda da ex-esposa, começou uma vaquinha online para ajudar com as contas de casa. "Mesmo antes da pandemia, a bola de neve estava crescendo para muitos de nós e, agora, apenas se acentua com o isolamento. Conheço muitos colegas que vinham vendendo equipamentos de trabalho, como instrumentos", lamenta ele, acrescentando que o aperto sentido pelo setor cultural começou com a crise econômica de 2016. 

 

* Reportagem da estagiária Júlia Noia sob supervisão de Paulo Ricardo Moreira

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