Cantora Paula Lima, convidada da live do Instagram do O Dia de 14/8. - Divulgação
Cantora Paula Lima, convidada da live do Instagram do O Dia de 14/8.Divulgação
Por O Dia
A cantora Paula Lima, conhecida por emplacar sucessos como Mil Estrelas, Clareou e Fiu Fiu, bateu um papo com @odiaonline sobre a sua história na música, temas raciais e o lugar das pessoas na sociedade, evidenciando a mulher preta. A live foi realizada na tarde desta sexta-feira, 14, no Instagram.

Questionada sobre a reinvenção dos artistas durante a pandemia com as lives, Paula diz que a internet ajuda os profissionais do ramo musical, fazendo até que alguns ganhem visibilidade nacional, mas que eles não conseguem sobreviver sem um apoio e incentivo governamental. “É angustiante o que está acontecendo. O governo atual não gosta de arte, que é a identidade de um povo. Isso é muito sério! Nem todo mundo vive no alto escalão do mainstream”, criticou a cantora, que também é diretora da União Brasileira dos Compositores.

A pandemia fez com que ela criasse um leque, o que a deixou sem tempo para ela mesmo e pensando sobre o projeto para 2021. Apresentadora do programa de rádio Chocolate Quente, na rádio El Dourado, Paula disse que precisa usar a sua voz de uma maneira maior, falando de racismo e dando voz para aqueles que não têm, principalmente para as dificuldades das mulheres pretas.

Paula lembrou a estrutura racista e machista existente que diminui a mulher preta: “Acho que isso se deve, primeiro, porque nós mulheres pretas estamos na base da pirâmide. Depois, quando falamos de igualdade de direito, a gente também continua abaixo do homem branco, a mulher branca, o homem negro. A gente não consegue equiparar isso. Vivemos um caos em relação ao desemprego e ao futuro”.

A cantora não poupou palavras para fala sobre o racismo estrutural para a sociedade negra: “Obviamente, a gente sabe que o básico do básico sempre vai ser a educação. Todos nós negros precisamos da educação para ter a mobilidade social e sem isso a gente vai continuar, no geral, nos trabalhos braçais e não intelectuais, que são os menos remunerados. Tem um ciclo que pode ser furado com campanhas governamentais e através da arte”.

A cantora também ressaltou que ‘privilégio' só se enquadra para as pessoas brancas, citando o caso do morador de um condomínio de luxo que humilhou um entregador de comida. “Vantagem social é quando a pessoa, geralmente negra, tem a sorte e, por mérito de antepassados que trabalharam para conquistar uma chance de vida melhor. Essas pessoas entendem que a gente só vai ter mobilidade social estudando. Então, estudamos e crescemos para mudar a realidade”, explicou.

Em comparação, Paula Lima defendeu que uma pessoa branca que esteja no mesmo status social que um preto provavelmente já possui uma herança familiar que a privilegie. Enquanto os pretos chegaram em navios negreiros e tiveram que trabalhar para chegar a um lugar confortável, mas longe de ser privilégio. “As pessoas começaram a conquistar as coisas de 50 anos para cá. Se enganam quando dizem que estão lá por mérito. É importante a gente (negros) ser referência para os demais”, concluiu a artista.

Uma trajetória surpreendente

Paula Lima ainda revelou uma faceta de sua história que grande parte do público desconhece: ela cursou Direito e chegou a ser concursada no Tribunal de Justiça de São Paulo, por cinco anos e meio. Durante a faculdade, descobriu o amor por cantar. Daí o processo de conciliar estudo, trabalho e a música se tornou natural. Com o tempo, as participações em programas de televisão, feats com Thaíde e Dj Hum, Paula se demitiu do emprego para viver a vida de artista preta e de classe média baixa. Com um som pouco usual no Brasil, a cantora chegou no Soul, de Tim Maia e Sandra de Sá, para construir sua trajetória nesse universo, que hoje conta com Rihanna e Beyoncé.

A influência do samba na infância culminou em um “caldeirão sonoro”, que tem o swing de Jorge Ben e a mistura de artistas como: Ivone Lara, Elza Soares, Almir Guineto, Bete Carvalho, Djavan, Whitney Houston e Michael Jackson.

No final de 2014, Paula sentiu vontade de fazer algo diferente, incentivada por Bete Carvalho e Ivone Lara, nasceu o projeto Samba é do Bem. A cantora falou do árduo trabalho de entrar no mundo do samba, participando ativamente na construção do disco: “eu topei esse desafio e fui atrás dos compositores, e muito afrontosa, por ser uma mulher que não era do samba, nova e em um meio totalmente masculino”.

Sobre a indicação ao Grammy Latino, Paula Lima ressaltou o prestígio de ser indicada por um trabalho musical que não é a sua origem. Além de lisonjeada por ter honrado as grandes vozes femininas do samba, a artista disse considerar uma cantora melhor após esse projeto.

Durante os anos de carreira, Paula Lima acumulou muitas experiências e revelou que não se arrepende dos fracassos: “Foram mais acertos do que erros. Talvez me arrependa de não ter feito uma carreira internacional maior”. A artista também falou do projeto Mil Estrelas, após encerrar o projeto do samba, retornou ao Black Music, emplacando mais um sucesso.

Concedida a Agnes Rigas, integrante da equipe de Redes Sociais, a entrevista está completa e você pode conferir na íntegra em nosso Youtube