O autor Bruno Luperi: obra do avô atualizada - Divulgação
O autor Bruno Luperi: obra do avô atualizadaDivulgação
Por Gabriel Sobreira

Rio - Reescrever um clássico como a novela 'Pantanal' — exibida originalmente em 1990, na extinta TV Manchete — exige enormes desafios. Para o autor Bruno Luperi, neto de Benedito Ruy Barbosa, criador do folhetim, o projeto que estreia na Globo em 2021 precisa, acima de tudo, fazer sentido, continuar tendo a força e a pertinência da época em que foi concebido.

"A gente sai com um ponto de largada muito alto que não nos permite errar, seja do ponto de vista de que estamos fazendo hoje na Globo, onde a novela foi concebida para acontecer em primeiro lugar, ou porque a gente tem esse compromisso com a audiência em geral, de corresponder à expectativa de todos, que é muito alta", diz Luperi, um dos roteiristas de 'Velho Chico', também criada pelo avô.

Benedito Ruy Barbosa criou 'Pantanal' para a Globo, mas a emissora deixou o projeto engavetado durante anos. A TV Manchete, então, contratou o autor e apostou todas as fichas no roteiro, que trazia entre outros destaques uma mulher, Juma Marruá, que se transformava em onça na região pantaneira.

"É um grande clássico da dramaturgia. No meu ponto de vista, a maior novela da TV brasileira no que se trata de originalidade, temática, impacto social, se for considerar que ela foi feita na Manchete, estreou com 7 pontos e ao longo da terceira semana estava dando mais audiência do que a Globo", recorda Luperi.

Juma (Cristiana Oliveira) em 'Pantanal', da extinta TV Manchete - Reprodução

Desde que foi anunciado o remake de 'Pantanal', só se fala em quem vai interpretar a nova Juma. Muitas atrizes estão nessa disputa, mas os diretores já declararam a preferência por um rosto novo. Apesar de existir um desejo em contar com Antonio Fagundes, que não terá seu contrato renovado este ano, a trama ainda não tem elenco definido.

Bruno Luperi tem recebido inúmeras ligações, mensagens e pedidos para falar sobre o folhetim. "Todo mundo querendo já ver o primeiro capítulo", conta ele, que tinha 2 anos quando a trama original foi ao ar. "A impressão é que, quando as pessoas conversam comigo, elas conhecem mesmo a Juma, sabem quem é. Estou mexendo na memória afetiva das pessoas. Acho que tem que ter esse respeito, esse cuidado em primeiro lugar, a humildade de saber que a obra é maior do que eu, que está no imaginário do inconsciente coletivo do brasileiro".

Uma das tarefas do autor é introduzir temas contemporâneos na obra do avô. De 1990 para cá houve mudanças na sociedade, tanto do ponto de vista comportamental quanto político e econômico. "Como do ponto de vista ambiental também. Algumas coisas vão ter que ser atualizadas para fazer sentido", frisa Luperi, sinalizando para as questões envolvendo a proteção da natureza — atualmente, incêndios estão destruindo uma área gigantesca na região do Pantanal.

"Meu trabalho é criar possibilidades para contar aquela história da melhor forma possível, ciente dos conflitos, dos dilemas, dos tabus, dos paradigmas sociais, políticos e ambientais que nós temos", diz.

Apesar de querer dar uma roupagem atual à novela, Luperi deixa claro que pretende também se manter fiel à história do avô, para que ela não perca sua essência. "Aqueles que têm uma expectativa e uma memória afetiva de 'Pantanal', quero que todos cheguem ao último capítulo dessa adaptação e sintam que assistiram à mesma novela, sob uma perspectiva contemporânea, mas a mesma história, conhecendo os personagens, os mesmos dilemas. O meu objetivo é esse", afirma.

 

Trilha sonora original também marcou época
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As cenas de Juma Marruá e de paisagens emblemáticas do Pantanal eram acompanhadas de uma trilha sonora que igualmente marcou uma geração e é lembrada até hoje. O cantor, compositor e violinista Marcus Viana, que assinou muitas composições da trama, incluindo o tema de abertura de 'Pantanal', fala sobre a expectativa em relação à adaptação da novela.
"A Globo ainda não me procurou. Como é remake, a Globo tem um staff interno grande. Ela deve ocupar o quadro dela (de funcionários) fazendo (a trilha). É sempre um desafio. Não acredito que eles vão repetir a trilha", conta ele. "Que artista não gostaria de ser contratado para fazer o remake de um trabalho que foi sucesso? Claro que se me chamarem para fazer qualquer coisa, estarei imensamente feliz".
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O músico mineiro de 67 anos conta que a trama de Benedito Ruy Barbosa, com direção geral de Jayme Monjardim, foi um divisor de águas na carreira. "A minha carreira decolou com 'Pantanal'. É igual antes de Cristo e depois de Cristo (risos). Todo mundo quis trabalhar comigo".
Segundo ele, Monjardim soube dosar a edição musical para que a novela não parasse de ter som o tempo inteiro. "Não é apenas botar uma música bonita. Tinha um 'espírito', que conduzia as pessoas numa hipnose. 'Pantanal' foi uma estrutura de obra videográfica, literária, musical muito coesa e única", afirma.
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Após 'Pantanal', Viana repetiu a dobradinha com Monjardim em 'A História de Ana Raio e Zé Trovão (de 1990, na Manchete) e fez 'Xica da Silva' (1996, na Manchete) com Walter Avancini (1935-2001). Quando Monjardim voltou à Globo, a parceria foi resgatada.
"Fizemos 'Chiquinha Gonzaga' (1999), 'Terra Nostra' (1999), 'Aquarela do Brasil' (2000), 'O Clone' (2001), 'A Casa das Sete Mulheres' (2003). Fomos juntos até 'América' (2005). Foram 15 anos de 'porrada', só gol. 'Pantanal' e 'O Clone' para mim fecham o ciclo das maiores novelas desse país. Todas épicas e grandiosas", frisa.
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