Marjorie Estiano - João W. Faissal
Marjorie EstianoJoão W. Faissal
Por Leonardo Rocha

Não foram poucos os desafios que a equipe do 'Sob Pressão' enfrentou no retorno das gravações da série, que volta ao ar hoje, num plantão especial totalmente dedicado à pandemia do novo coronavírus. Com um hospital de campanha estruturado dentro dos Estúdios Globo, em Curicica, a temporada, dividida em dois episódios, foi vista como pioneira do novo normal, já que foi a primeira a retornar às gravações presenciais.

O especial tem a missão de contar histórias de pacientes acometidos pela nova doença e a humanização dos profissionais de saúde nesse momento. "É um exercício muito grande para mim ler a realidade e interpretá-la na ficção. Foi um desafio muito grande para gente, porque tem um novo normal pra todo mundo, e para cada um. Cada um lidou de uma forma muito específica", diz Marjorie Estiano, que interpreta a Dra. Carolina na trama. "Além de lidar com os equipamentos de segurança, como máscaras e aquela roupa de astronauta, o estado de alerta era permanente, por conta do medo de se contaminar", lembra a atriz.

Mesmo tratando de um contexto tão delicado, a equipe manteve um processo intenso de proteção com testes rápidos e isolamento social. Marjorie revela ainda que a obra deixa uma mensagem positiva para a população. "A edição especial traz, sim, pinceladas de esperança que dão algum conforto. Essa obra tem essa relevância de tentar informar e conscientizar através da proximidade que a dramaturgia traz", avalia a estrela, de 38 anos, que acha absurda a forma como os negacionistas contestam a pandemia e ainda atacam os profissionais de saúde. "A gente é muito privilegiado em ter o SUS (Sistema Único de Saúde), que é maravilhoso em seu papel, mas que sofre com corrupção e abandono. O 'Sob Pressão' está sempre levantando essa defesa. As pessoas percebem através do profissional de saúde que sua vida tem valor, pois ele arrisca a vida dele pela sua", diz a atriz.

Marjorie também destaca o momento político que o Brasil vive, um dos motivos pelos quais, segundo ela, devemos valorizar ainda mais quem está na linha de frente contra o coronavírus. "É uma sensação de abandono do governo, a gente se sente negligenciado", dispara ela, indignada com as imagens de praias, bares e restaurantes lotados no período de quarentena. "A população se divertindo do lado de fora dos hospitais e os profissionais trancados, tentando salvar vidas. Há uma desinformação muito grande". 

Além de um inimigo invisível, as três semanas de gravação foram em pé de guerra com os cotonetes dos exames para detecção de coronavírus nas gravações de 'Sob Pressão: Plantão Covid'. "O processo não é exatamente agradável, provoca reações e reflexos. Eu não me adaptei e, por isso, não conseguia me conter. Eu e o cotonete travamos uma luta toda vez", conta ela, aos risos, que, brincadeiras à parte, teve que readaptar também sua interpretação, já que apenas os olhos da atriz poderão ser vistos atrás das máscaras e viseiras. "A gente pega muito olho e a voz, que entrega muito a verdade. A gente tava com dificuldade do capote, das máscaras... Um aprendizado, mas realizada de contar a vida dentro dessa capsula que é esse hospital de campanha nesse momento de pandemia".

Personagens negros na equipe médica
David Júnior: neurocirurgião Mauro em 'Sob Pressão'
David Júnior: neurocirurgião Mauro em 'Sob Pressão'fotos Divulgação / TV Globo
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Novidade no elenco do 'Sob Pressão', Roberta Rodrigues e David Júnior são os novos profissionais da equipe, que até então era composta apenas por atores brancos. Sobre a representatividade, Roberta, que dará vida à enfermeira Marisa, dispara: "Espero que a gente não precise falar mais disso, estamos em 2020 e isso ainda choca, o que mostra a defasagem que temos", diz a atriz, que também reforça a importância da profissão na vida de mulheres negras. "Na periferia, as que sonham com medicina encontram chances na enfermagem. Representar essas profissionais foi um presente".
Já David será o neurocirurgião Mauro, o que para ele reflete uma representação ainda mais especial para negros. "Esse protagonismo aliado à formação acadêmica é algo que eu, morador da Baixada Fluminense, tive dificuldade de me ver. Quando era moleque, meu teto de ascensão social era a medicina. É a primeira vez que colocam a gente no lugar de quem salva vidas, não de que tira vidas", constata o ator. 
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