Zezé Motta
Zezé Mottareprodução
Por Filipe Pavão*
Rio - Zezé Motta completou 76 anos em junho e não para. A atriz e cantora tem uma agenda repleta de compromissos, como entrevistas, bate-papos e lives musicais nas redes sociais. Mas, nesta sexta-feira, ela retoma uma atividade que há meses não pode realizar devido à pandemia do novo coronavírus: cantar ao vivo para um público físico. A artista vai reestrear o show “Coração Vagabundo - Zezé canta Caetano”, às 20h, na área externa do Teatro Prudential, no Rio, após 30 anos da sua primeira temporada.
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“O teatro me convidou para realizar um show que não tivesse feito recentemente no Rio e, logo, eu pensei ‘claro, vou realizar meu sonho de retornar com o show Zezé canta Caetano’. E se Deus quiser, quando passar a pandemia, eu quero fazer uma temporada e viajar com ele pelo Brasil”, disse a atriz, que não levou o projeto adiante na década de 90 por ter sido escalada para uma novela e por falta de uma gravadora.
Os fãs podem esperar muita emoção e alegria, além de canções para todo mundo cantar junto. “É um show que agrada porque tem um repertório impecável, com músicas bonitas que eu canto com prazer. O público também ama porque possui intimidade com o repertório de Caetano. Quem não conhece, né?”, disse Zezé, que garantiu a música “Pecado Original” no espetáculo. A faixa foi um presente de Caetano para o seu primeiro LP, em 1978.
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Com a pandemia, o que ela lamenta é a falta de maior interatividade, uma marca de seus espetáculos. “Vai ser um belo retorno, mas eu vou sentir falta daquele aconchego de chegar perto, de circular na plateia, brincar com o público e passar o microfone pra alguém cantar comigo. Dessa vez, eu vou ficar paradinha no palco pra manter a distância”, contou Zezé, que assegurou estar tomando todas as medidas recomendadas pelos órgãos de saúde.
Amizade com Caetano
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A amizade entre Zezé e Caetano vem de longa data. Na década de 70, os dois tinham o mesmo empresário e se encontravam frequentemente em Salvador, tanto na praia como na casa do cantor e compositor baiano. Inclusive, um dos seus maiores sucessos foi feito em homenagem a Zezé.
“A música ‘Tigresa’ também não pode faltar. Reza a lenda que ele fez em minha homenagem”, disse Zezé aos risos. “Essa história é divertida porque viviam perguntando para Caetano quem era a tigresa e ele fazia mistério, chegou a dizer que era ele próprio. Mas, há algum tempo ele confirmou que a tigresa era para mim e eu fiquei toda prosa”, contou.
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Representatividade
Para Zezé, é muito importante que falemos sobre o mês da Consciência Negra porque é uma data chave para fomentar o debate sobre a questão racial, além de ser o pagamento de uma dívida histórica com Zumbi dos Palmares ao reconhecê-lo como herói por ter “lutado e morrido por liberdade”.
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“O mês da Consciência Negra é uma conquista contra a discriminação racial. Infelizmente o Brasil ainda é racista, é um pais em que existe discriminação, desigualdade e muita gente que se considera parte de um grupo superior só por conta da cor da pele, o que é um absurdo”, desabafou a artista, que dá voz aos contos africanos “Sankofa”, exibidos ao longo do mês de novembro no canal de TV por assinatura Prime Box.
E 44 anos após o filme “Xica da Silva”, que foi um divisor de águas na carreira de Zezé, ela relembra as dificuldades do caminho, reflete sobre as mudanças no audiovisual brasileiro e reforça que há muito por fazer.
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“Eu sou de um tempo em que nós só tínhamos um negro em cada produto. Quando eu fazia parte, não tinha espaço para Neuza Borges. Quando a saudosa Chica Xavier estava, não tinha espaço para Ruth de Souza. Hoje em dia, sempre que vejo um programa, eu conto quantos negros estão ali e vejo que existe uma preocupação de papeis diversificados, não só os de serviçais ou aqueles sem grande expressão. Nesse sentido, mudou um pouco, mas ainda falta espaço para o negro no audiovisual. A luta continua”, finalizou.
* Estagiário sob supervisão de Tábata Uchoa