Martnália
MartnáliaNil Caniné/Divulgação
Por Filipe Pavão*
Rio - O show de Mart’nália na abertura do verão no Circo Voador é um evento tradicional da noite carioca. Em 2021, com o setor cultural paralisado pelo agravamento da pandemia, isso não foi possível. Mas os fãs da cantora podem comemorar a chegada da carioquice da artista em seus próprios lares no final da estação, com o lançamento do álbum “Sou Assim Até Mudar”. Produzido pelo amigo Zé Ricardo durante o isolamento social, o disco chegou às plataformas digitais na última sexta-feira.
Publicidade
“Já estava na hora de gravar um álbum, mas não sabia como diante de tanta tristeza. Nosso setor vai ser o último a ser liberado e, geralmente, a gente faz um disco pensando na estreia do show. Como fazer um CD assim? Mas as canções foram chegando e surgiu a parceria com o Zé Ricardo, que trouxe a veia do groove, do subúrbio carioca, do baile e da mistura que eu preciso. Em tempo de pandemia, também é uma forma de levar alegria aos fãs e dar um pouco de esperança, alegria e afago dentro de casa mesmo”, detalha.
Apesar de ser o primeiro trabalho de Mart’nália sem o parceiro musical Arthur Maia, que faleceu em 2019, e refletir o tempo em que vivemos, “Sou Assim Até Morrer” traz felicidade e a mensagem de que tudo muda. Na faixa “Chamego Bom”, ela afirma que “ser feliz é um vício” e a gente acredita porque o sorriso estampado no rosto da cantora é uma marca registrada.
Publicidade
“Eu não consigo não sorrir mesmo nas tragédias da vida. Eu fui criada assim. O que é esquisito agora porque não tem ninguém para rir. Todo mundo é meio igual porque não tem o sorriso, tem a máscara na cara. Mas a possibilidade de fazer outra pessoa rir, já me alegra. Tenho uma veia de picadeiro, de tentar levar felicidade”, diz a cantora, que relembra com carinho o calor dos bastidores dos shows, os selinhos e as declarações dos fãs.
Amor pelo Rio
Publicidade
O amor pelo Rio fica escancarado no álbum. Em “Suburbano Blues”, a cantora chega a se declarar à cidade. Mar’tnália reafirma o orgulho que sente em ser carioca e destaca a vontade de “consertar tudo o que está ruim” por meio do que sabe fazer de melhor: música.
“Cada hora é uma rasteira, é uma notícia diferente sobre a pandemia e politicamente você não vê uma saída, então, dá mais desespero ainda. Quem diria que o Rio se tornaria um dos piores lugares do Brasil. Mas eu sou carioca e tenho que mostrar como a gente resiste a tudo isso. E a música é o meu caminho para isso, onde posso me mostrar e ajudar de alguma forma”, conta.
Publicidade
O amor, na verdade, é tema recorrente na discografia da artista, o que não seria diferente neste projeto. “Eu tenho o romantismo dentro de mim. São as músicas que vem, eu não penso: ‘quero fazer música de amor’. Eu ouço a canção, gosto e gravo. Quando vejo, está falando de amor, mas é melhor falar de amor que de guerra”, pondera.
Parcerias
Publicidade
O álbum traz duas parcerias inesperadas. Mart'nália convidou o pernambucano Johnny Hooker para regravar “Veneno”, hit conhecido na voz de Marina Lima, e dar uma pegada mais contemporânea a canção. Já Adriana Esteves participa da versão de Nelson Motta para “Feel Like Making Love”, de Roberta Flack. A parceria resgata os tempos de baile, quando a cantora saia escondida do pai.
“Além de resgatar os tempos de baile, queria que casasse com a ideia de remontar como eram as músicas americanas, que as pessoas vão sussurrando. Então, precisava de uma voz feliz, mas madura e sacana. Por isso, pensei na Favo de Mel (personagem da atriz em "O Cravo e a Rosa"), que é daqui do Rio, do Meier, é super carioca como eu, e admiro muito tudo o que ela faz. Estou até com medo dela em “Amor de Mãe”, brinca a cantora.
Publicidade
Esperança
Mart’nália, que espera a vacinação em massa “para se aglomerar de novo”, mantém a esperança de dias melhores. Aliás, faz questão de passar essa mensagem em canções, como “Tocando a Vida”, “Novo Normal” e “Sonho de um Sonho”. Inclusive, essa última é regravação de um samba-enredo da Vila Isabel, escrito pelo seu pai, Martinho da Vila.
Publicidade
“Nesse ano, meu pai ia ser homenageado pela Vila Isabel e eu tento sempre colocar uma canção dele nos meus discos. Ainda não tinha um samba-enredo, então, pensei em colocar esse que tem mensagem forte e de esperança. Nem era que eu mais gostava, mas o Zé Ricardo comentou dele e eu pensei: ‘essa a música ideal para falar de política para ninguém dizer que eu só falo de amor’”, brinca.
“Com uma só música, homenageei meu pai e a minha escola do coração, além de mostrar como o Carnaval é importante e os sambas nos ajudam não só na alegria, mas também a pensar, prosseguir e entender. É um samba muito político e fala de tudo o que continua rolando, hoje, 40 anos depois. Foi uma forma de fechar o disco e deixar aberto o pensamento de esperança. Não dizem que ela é a última a morrer?”, finaliza Mart’nália.
Publicidade
* Estagiário sob supervisão de Tábata Uchoa