Antonio Carlos Belchior é autor de um dos gestos mais intrigantes da história recente da MPB. Com 60 anos recém-completos, deixou a família, amigos, e sua casa para trás rumo a uma jornada incerta e anônima pelo Sul do país, que terminaria com sua morte dez anos depois. Não explicou a ninguém o motivo do seu desaparecimento, não pediu dinheiro emprestado a conhecidos e apenas telefonou a um dos filhos durante este período. Em companhia de uma nova produtora e amante, Edna Assunção de Araujo, de pseudônimo Edna Prometheu, percorreu dezenas de cidades, viu de longe seu patrimônio ir embora, foi procurado pela Justiça e pela imprensa, dormiu em locais abandonados, dependeu da caridade de desconhecidos, foi expulso de casas por pessoas que o abrigavam, e não retrocedeu.
Por que Belchior agiu assim? Esta pergunta foi feita por muitos fãs, familiares, colegas e amigos. Esta mesma questão moveu os jornalistas Chris Fuscaldo e Marcelo Bortoloti. Para chegar ao fundo desta questão, os dois percorreram cidades por onde o cantor passou, antes e depois do sumiço. Foram ao Rio Grande do Sul, seguiram para o Uruguai, São Paulo e, finalmente, chegaram ao Ceará. Andaram de trás para frente: foram do lugar onde o compositor morreu até o lugar onde ele nasceu.