Por daniela.lima

Rio - O ponto de encontro na Cidade do Samba para a realização das fotos que ilustram esta matéria é sugerido pelo jornalista Aydano André Motta. “Será em frente ao barracão da Deusa da Passarela, a Beija-Flor de Nilópolis”, derrete-se, sem pensar no possível descontentamento dos amigos Leonardo Bruno, um portelense apaixonado, e Bárbara Pereira, que fugia de casa, ainda criança, para ver — e ouvir — de perto a bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel. 

Coleção ‘Cadernos de Samba’ revela os bastidores do Carnaval cariocaAlessandro Costa / Agência O Dia


Rivalidades carnavalescas à parte, eles se uniram e lançam, na próxima terça-feira, dia 26, três novos títulos da coleção ‘Cadernos de Samba’: ‘Onze Mulheres Incríveis do Carnaval Carioca — Histórias de Porta-Bandeiras’, escrito por Aydano; ‘Estrela Que Me Faz Sonhar — Histórias da Mocidade’, elaborado por Bárbara, e ‘Explode, Coração — Histórias do Salgueiro’, concebido por Leonardo, que, apesar do amor à Portela, se rendeu à Vermelha e Branca da Tijuca para produzir o livro. O projeto é editado pela Verso Brasil.

“Ainda há um preconceito geral em relação ao Carnaval. Tenho amigos que não entendem o fato de eu frequentar uma quadra de escola de samba. Dizem: ‘Ah, esse antro de bandidos!’ A gente foi vendo que tem um monte de mito para derrubar e muita coisa para contar. Vários artistas deveriam ser celebrados constantemente e não são”, acredita Aydano, organizador da coleção, lançada há um ano, que surgiu a partir de sua relação com a escola de Nilópolis.

O livro dele, que reverencia 11 guardiãs do mais importante símbolo de uma agremiação, não tem a intenção de eleger as melhores. “Não mesmo. Conto as histórias de amor que elas têm pela função, que é algo mais profundo do que eu imaginava. Primeiro, coloquei as obrigatórias. Não poderia sair na rua como escritor de um livro de porta-bandeiras sem citar Neide (Mangueira), Vilma (Portela) e Selminha (Beija-Flor). Depois, fui ouvindo outras histórias incríveis”, explica o autor, para citar, em seguida, um dos depoimentos mais emocionantes que ouviu. “A Neide morreu com 40 anos. Era parceira do Delegado, maior mestre-sala de todos os tempos. Ela teve câncer no útero e escondeu isso de todo mundo por medo de ser impedida de desfilar. Ou seja, preferiu morrer a perder o lugar no Carnaval”, conta. 

Marcella Alves é a porta-bandeira do SalgueiroAlessandro Costa / Agência O Dia


POR TRÁS DAS GIGANTES

Ao pesquisarem para seus livros, os também jornalistas Bárbara Pereira e Leonardo Bruno se depararam com histórias tão interessantes quanto as das porta-bandeiras de Aydano. “Não conto como o Salgueiro foi fundado e quantas vezes a escola foi campeã. Falo sobre as pessoas que fizeram a história: líderes, poetas, dançarinos. ‘Explode, Coração’ é um livro de personagens e de boas histórias”, define Leonardo. “No passado, não sabiam como denominar uma passista. As chamavam de dançarinas, baianas e até mesmo malabaristas. Até que uma integrante do Salgueiro, a Paula, foi reconhecida por seus passos diferentes e, enfim, chegaram a uma definição: ela era uma passista”, continua Leonardo, empolgado.

Bárbara, por sua vez, não esconde de ninguém que seu livro ‘Estrela Que Me Faz Sonhar’ é escrito por uma torcedora. Por ter acompanhado a escola de Padre Miguel desde criança, quando morava em Realengo, na Zona Oeste, ela sabe o que diz. E lamenta o momento pelo qual a escola está passando. “A Mocidade não vai para o desfile das campeãs desde 2004. O que aconteceu durante esta década? Falo sobre isso no livro. E, como fã, espero que ela volte a ter coragem para ousar. Não pode ter medo. Com o tempo, ela parece que ficou tímida, perdendo sua identidade. Se não mudar, pode se perder, como tantas outras”, diz.

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