Por raphael.perucci
Rio - “Meu filho, espera só um instantinho”, pede a sambista Tia Surica ao repórter do DIA. Ao fundo, na ligação telefônica, conversas dão a entender que a sambista da Velha Guarda da Portela — que grava seu primeiro DVD, ‘Poderio de Oswaldo Cruz’, neste domingo na quadra da escola de samba — está recebendo visitas no ‘Cafofo da Surica’, nome pelo qual sua casa é conhecida.

“Vieram uns casais amigos e ficamos comendo, tomando uma cervejinha. Agora veio uma vizinha comer uma rabanada. Minha casa é sempre assim!”, diz a veterana sambista, pastora da Velha Guarda de sua escola e também conhecida por organizar concorridas feijoadas, que sentam praça em lugares como o Teatro Rival.
Tia Surica grava DVD na quadra da Portela no domingoDivulgação

O repertório do DVD de Tia Surica surge recheado de clássicos do samba da Azul e Branca, compostos por bambas como Monarco, Aniceto da Portela, Argemiro, Alcides Malandro Histórico, Chico Santana e Manacéa — além de músicas de sambistas recentes, como Marquinhos Diniz e Toninho Geraes.

“Vão ser só compositores portelenses. O show vale por uma aula, já que muitos dos que chegaram agora à escola não conhecem a história da Portela, nem seus mestres do samba”, anuncia. “Vim de uma época em que o samba era discriminado, não era benquisto. As mães da Portela me discriminavam, não deixavam que eu andasse com as filhas delas, porque eu era da escola de samba. Mas hoje todo mundo vem pra me aplaudir.”

O show ganha a participação de um portelense da novíssima geração, Diogo Nogueira, e de Mariene de Castro, sambista da Bahia que recentemente gravou um DVD-tributo a Clara Nunes, ‘Um Ser de Luz’.

“Eles sempre me recebem nos shows e agora chegou a minha vez de recebê-los. A Mariene já me acolheu, faço coral em todos os shows dela. E também canto em alguns shows do Diogo”, conta Surica. Com 73 anos, ela é hoje a mais longeva das integrantes da Velha Guarda da Portela, “tanto em idade quanto em permanência na escola”, frisa.

Marcado para as 20h, o show é gratuito, mas pede-se a todo mundo que leve uma lata de leite em pó ou material de higiene pessoal para organizações que ajudam crianças carentes.