Rio - O Carnaval do Rio começou neste domingo de manhã com uma mistura da bateria da União da Ilha do Governador com guitarras e baixo, coordenadas pelo “Block n’ Roll”. A curiosa composição musical, seguida por outros blocos que tocaram diversos estilos, incluindo, claro, sambas e marchinhas, levou cerca de quatro mil pessoas para curtir a Abertura Não Oficial do Carnaval na Praça 15 durante todo o dia.
Pouco antes do show, ao ver o nome do bloco, alguns pediam: “Toca Reginaldo Rossi”, em homenagem ao cantor brega morto em dezembro. A concentração começou perto das 9 horas. Porém, somente ao meio-dia, é que o local lotou com a chegada da barca que veio de Niterói, fazendo uma reedição do “desfile” do extinto “Se melhorar, Afunda”.

Logo cedo também começaram a chegar Peter Pan, Chaves, Chapolim e outras tradicionais fantasias. No aquecimento, alguns foliões também pareciam requentar os adereços do ano passado. Outros tinham a criatividade mais aguçada, como a farmacêutica capixaba Karina Oliveira, de 28 anos. Ela optou por um modelo ousado.
Vestida de cozinheira, Karina carregava uma placa “To dando sopa”. Questionada se estava solteira e à procura de companhia, ela retirou saquinhos de sopa instantânea do bolso do avental e foi direta: “Estou distribuindo sopas, mas se algo acontecer, aconteceu”, afirma a capixaba, sorrindo.

As polêmicas das manifestações do ano passado também não ficaram fora da folia. Um rapaz com o rosto coberto por uma camiseta preta onde apenas os olhos apareciam lembrava os black blocs. Incorporando o personagem, ele não quis se identificar: “Vai saber o que pode acontecer?”, ironizou ele, ao lembrar da lei estadual que proibiu o uso de máscaras nos protestos de rua. Protestos também foram vistos em faixas humoradas como “Vai ter carnaval, mas não vai ter Copa".
'Índio’ usa a criatividade
Até os comerciantes entraram na brincadeira no encontro dos blocos ontem. Dono de uma livraria, poeta e também empresário, Andrei Mikhail, 26 anos, deu outro sentido à tradicional fantasia de índio. Depois de passar o réveillon na Bahia e ganhar de presente uma roupa tradicional da tribo Pataxó, Andrei resolveu incorporar o personagem no carnaval saindo à caráter.

Em sua barraquinha só eram vendidas cervejas importadas e quem quisesse podia pagar com cartão de crédito ou débito. “Eu vendo tudo menos a minha mãe. Se passar de 100 faço até em duas vezes”, conta. Participaram da Abertura Não Oficial do Carnaval, que durou até a noite, integrantes do Cordão do Boi Tolo, Orquestra Voadora, Multibloco, Sinfônica Ambulante, de Niterói, Larga a Onça Alfredo, Quizomba, Fogo e Paixão, Cardosão e muitos outros.
Grupo é contra autorizações
A Abertura Não Oficial do Carnaval do Rio de Janeiro foi iniciada há alguns anos pelo movimento Desliga dos Blocos, que prega a “não-mercantilização do Carnaval de rua” e é contra as exigências de autorização para os desfiles pela prefeitura. Um dos blocos contrários aos requisitos oficiais é Cordão do Boi Tolo.
O grupo surgiu depois que, no carnaval de 2006, uma multidão esperava o desfile do Cordão do Boitatá na Praça 15 e o bloco não apareceu e nem avisou. Os foliões que aguardavam não foram embora e, em seguida, alguém apareceu com um pandeiro e, depois, outro com um tamborim.

Uma menina escreveu em um papelão no chão “Cordão do Boi Tolo” e espetou em um tridente. Cantando e dançando, a festa só terminou após o desfile que encerrou no Largo de São Francisco, também no Centro. Um dos integrantes do Boi Tolo, o bancário Luis Otavio Almeida, de 49 anos, explica que o grupo não tem presidente e as atividades são combinadas entre todos pela internet. Por isso, eles criticam as exigências feitas pela Prefeitura do Rio.
“Somos parte de um movimento a favor da liberdade criativa do Carnaval, independência, sem licença ou censura”, defende. Para ele, o problema é a falta de infraestrutura da cidade. “Se houvesse mais banheiros públicos, por exemplo, o carnaval seria apenas um detalhe”, diz.