Por gabriela.mattos
Rio - Engana-se quem pensa que o Carnaval é só esbórnia. Vários blocos da cidade provam que é possível cair na folia sem deixar de levantar uma bandeira. Alegria Sem Ressaca, Gargalhada, Loucura Suburbana, Planta na Mente e Mulheres Rodadas são alguns dos que defendem pautas, que vão desde a inclusão de pessoas com deficiência até a legalização da maconha.
O nome do Alegria sem Ressaca deixa bem claro que a bandeira ali é a abstinência de drogas e a moderação no uso do álcool. No desfile, que sai este domingo em Copacabana, sambam juntos ex-dependentes químicos, familiares e profissionais da área da saúde. Todos à base de água, é claro.
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“Há 14 anos, tivemos a ideia de fazer algo durante o Carnaval para ter um impacto inverso ao que a festa prega. Sou da época que não podia se manifestar. É uma passeata politicamente correta vestida de bloco”, declara o psiquiatra Jorge Jaber, idealizador do Alegria.
Alegria sem Ressaca%2C que sai domingo de Carnaval%3A abstinência de drogas e moderação no uso do álccolSandro Vox / Agência O Dia

O padrinho do bloco, o lutador de MMA e campeão de UFC José Aldo, defende a causa por experiência pessoal. “Meu pai teve grandes problemas com alcoolismo e desde criança eu via o que isso causava dentro da minha fam?ília. H?oje sempre que posso faço campanhas e estou dentro de movimentos contra o álcool e as drogas”, disse.

Já no bloco Gargalhada, que brinca no domingo de Carnaval em Vila Isabel há 13 anos, o lema é a inclusão. Ele é o único a trazer um intérprete de libras em sua composição. A rainha do bloco é Kitana McNew, drag queen surda, filha da presidente Yolanda Braconnot. “Quem é cego, surdo, você não reconhece, porque está todo mundo pulando junto. Os frequentadores já têm essa inclusão trabalhada, esse sentimento que todos estamos juntos”, disse Yolanda.
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No já tradicional Loucura Suburbana a pauta é a integração com a comunidade dos usuários de saúde mental do Instituto Nise da Silveira, no Engenho de Dentro. O trabalho é feito não apenas no Carnaval; durante todo ano, há oficinas de percussão e de confecção de adereços. Além disso, os usuários trabalham na parte administrativa do bloco, que virou ponto de cultura. “O principal resultado que vemos é o sentimento de pertencimento que esses usuários ganham”, explicou Silvana Bonfim, coordenadora técnica do ponto de cultura.
Enquanto isso, o mais jovem Vem Doar Pra Mim, do Instituto Masan, tem o objetivo de chamar atenção das pessoas sobre a importância da doação de sangue durante o Carnaval, quando o estoque de bolsas de sangue do Hemorio caem bastante.
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Engajamento político
A pauta do Planta na Mente já fica explícita no nome, que brinca com um tema ainda tabu. “Sentimos que nossa mensagem é melhor recebida com a forma lúdica e a irreverência que a apresentamos. Muita gente que não tem familiaridade com o tema ouve uma das nossas paródias e se diverte, vira fã, repensa a questão da legalização da maconha”, disse Adriano Caldas, um dos fundadores do bloco.
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Para organizar os desfiles, que acontecem na ‘Quarta de Brasas’, os organizadores enfrentaram várias dificuldades com a prefeitura, que negou autorização no primeiro ano. Adriano defende que o Carnaval deve servir como espaço democrático para debate entre a sociedade. “Historicamente, o Carnaval sempre foi um espaço de discussão política. No começo, o samba era marginal. Tanto nos desfiles de escola de samba quanto no carnaval de rua, os enredos e sambas sempre tocaram em temas políticos, seja de forma irreverente, seja de forma direta”, afirmou.
Débora Thomé, fundadora do Mulheres Rodadas, bloco que protesta contra o machismo, faz coro a esta opinião. Este ano, ela ouviu muitas críticas por escolher não tocar marchinhas com letras misóginas no desfile do Mulheres. “Temos uma pauta de respeito dentro do nosso bloco e decidimos coletivamente as músicas que vamos tocar. Queremos músicas que todas se identifiquem. Achamos que o Carnaval é um excelente momento para discutir a sociedade”, disse.
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Reportagem da estagiária Alessandra Monnerat