Por bianca.lobianco

Rio - A alegria voltou à Portela, mas não foi num breve tempo. Era um desengano o jejum de anos sem títulos. Contavam-se 33 desde o último, em 1984, ao lado da Mangueira (a ‘supercampeã’), mas é preciso ir até 1970 para buscar um troféu que não tivesse sido dividido no pódio. Esses 47 anos contam mais do que histórias: mostram um Rio que passou, com cara, modas e Carnavais bem diferentes. “Época de enredos antológicos e de sambas mais cadenciados”, resume o sociólogo Bruno Filippo, especialista em Carnaval. O modelo do desfile já era ‘de cortejo’, como hoje, mas com algumas diferenças.

Diferentes, mesmo, era o Rio e o Brasil. O portelense que cantava ‘Lendas e mistérios da Amazônia’ torcia para uma Seleção ainda bicampeã do mundo, mal sabia o que era a Barra da Tijuca e só via o metrô no papel, mas já acompanhava a obra da Ponte Rio-Niterói. Na Quarta-Feira de Cinzas daquele ano, como O DIA registrava, haveria uma reunião na PUC para definir o traçado da Lagoa-Barra.

Na televisão, em 1970, ‘Irmãos Coragem’ estrearia quatro meses depois do desfile da Azul e Branca. Roberto Carlos lançaria ‘Jesus Cristo’, e Martinho da Vila encantaria a todos com ‘Meu Laiaraiá’.

A Portela ainda contava com Natal, que passou mal após a apuração. O DIA escreveu: “Não posso agir como antes, mas conto com uma turma de jovens entusiastas que levam a Portela para a frente, e a prova disso é a nossa vitória de hoje.” Ele ainda viveria mais cinco carnavais.

Os bailes no Municipal

Se hoje temos o Baile do Copacabana Palace, o Rio dos anos 1970 parava para ver a festa no Theatro Municipal. Também eram muito prestigiados os concursos de fantasias, hoje extintosArquivo O Dia

O embrião da Ponte

Prometiam para dali a um ano a entrega da Ponte, mas a obra só terminaria em 1974. Em 1970, olhava-se para a então quase agreste Barra da Tijuca. Lúcio Costa detalhava como seria a ocupaçãoArquivo O Dia

Flagrante da emoção de um mito

A capa do DIA de 14 de fevereiro de 1970 trazia foto do bicheiro Natal sentado, tomando água, muito emocionado. Foi socorrido na casa de vizinhos da quadra da Portela.Arquivo O Dia

Carnaval de poucos 'points'

Em 1970, não existia Sambódromo, e a disputa se dava aos pés da Candelária. A Rio Branco também reunia multidões com os ‘blocos de sujo’. “Não havia nada na Zona Sul”, ressalta o professor João Baptista Ferreira de Mello, da UerjArquivo O Dia

Fábrica de adereços

Há 47 anos, o Pavilhão de São Cristóvão ainda estava de pé. Era o ‘barracão’ para a confecção dos enfeites de rua, tradição hoje esquecida — o máximo que se vê é galhardete de cervejaArquivo O Dia

Jeitos diferentes de contar e cantar histórias

A Águia é quase a mesma. Já o samba...
Em meio século, os sambas ficaram mais compridos e mais rápidos. A letra de ‘Lendas e mistérios da Amazônia’ tem 667 caracteres; a deste ano, cujo título é enorme, tem 955 toques. Em 1970, a bateria pulsava a no máximo 115 BPM; hoje, a cadência não raro passa de 160 BPM

Antiga Águia da Portela Arquivo O Dia
Atual Águia da Portela Fernando Grilli/ Riotour

Da saudação ao impacto da abertura
A Portela foi a última escola a modernizar a comissão de frente. Em 1984, a Velha Guarda, e tão-somente ela, abria o cortejo, e assim foi até 94. Em 2017, Paulo Barros trouxe a piracema, com tripés, água e efeitos. 

Velha Guarda da PortelaArquivo O Dia
Comissão de frente da Portela - 2017Humberto Ohana/Parceiro/Agência O Dia


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