Rio - Se antes as mulatas com corpos esculturais eram os destaques que atraíam olhares na Marquês de Sapucaí, a Paraíso da Tuiuti vai provar neste Carnaval que as gordinhas também têm beleza e samba no pé. A agremiação inaugurou uma ala só de mulheres plus size no ano passado, quando conquistou o vice-campeonato, mas espera consolidar os ideais de representatividade e inclusão em 2019. O time está aberto a reforço e quem se encaixa no perfil já pode se inscrever para participar da folia.
"Somos acima do peso, mas a gente samba, tem carisma, alegria, e transmite isso para as pessoas", afirmou a integrante da ala Karin Rodrigues, de 46 anos. Por enquanto, o grupo conta com 38 mulheres, das 80 necessárias para a Avenida. O único requisito para se candidatar é vestir manequim a partir de 44.
Entre estreantes e veteranas - Karin, por exemplo, faz parte do Carnaval há 30 anos - o clima de carinho e apoio entre elas é sentido de longe. "Nos reunimos em prol de um só objetivo: mostrar que o samba não tem padrão. Muitas tinham vergonha do próprio corpo. Hoje se transformaram", contou Karin.
A confeiteira Lívia Lima, de 29 anos, é uma delas. Após ter dois filhos, ganhou peso e junto veio a depressão. "Não queria mais ver a Lívia que estava no espelho. Quando encontrei o projeto foi uma mudança. O samba me deu poder. Eu sou bonita, está aqui dentro!", orgulha-se ela, que veste manequim 54 e vai realizar o sonho de desfilar.
Segundo Nilma Duarte, de 46 anos, idealizadora do projeto 'Plus no Samba RJ' e diretora da ala, a Tuiuti é, até agora, a única escola do Grupo Especial a montar ala plus size. "Existia essa carência, os gordinhos sempre desfilaram, mas de forma muito anônima, colocados no final", pontuou. "É um trabalho diferenciado e lindo. Existe um fundo psicológico, o brilho nos olhos quando elas se maquiam e colocam um salto. Tem 'gordelícia' no Carnaval sim!".
Simone Medeiros, de 36 anos, se divide entre a função de técnica de enfermagem e os ensaios da Azul e Amarelo. Para ela, o medo era virar chacota do público. "Mas foi o contrário, quando passamos são gritos eufóricos. As pessoas não sabem do que os gordinhos são capazes e quando veem, surge o respeito", disse.
Diretor de Carnaval da Tuiuti, Rodrigo Soares enfatizou que o intuito da agremiação é acabar com qualquer discriminação. "O fato de serem plus não inviabiliza que mostrem a beleza para todos, elas nos ajudam como escola. Venham se inscrever porque o desfile de 2019 promete", convidou ele. O enredo deste ano, 'O Salvador da Pátria', trata sobre um bode que foi "eleito" vereador no Ceará, e criticará rumos da política.
EXEMPLO PARA OUTRAS MULHERES
Apaixonada pela folia desde criança, Aline Faria, 29, vai desfilar pelo segundo ano na ala plus e já está ansiosa. "Me sinto representando todas as meninas que têm vergonha. Espero que o projeto abra caminhos para que mais mulheres cheguem, e que outras escolas possam aderir".
O sentimento é compartilhado por Alessandra Elisiar, 44, que usa uma prótese na perna esquerda após um câncer ósseo, em 2013. "Já sofri muito preconceito e humilhação. Hoje, vejo que todas temos beleza", contou ela, que participa da ala junto a filha Ingrid, 21. "O projeto estimulou minha vaidade", disse a jovem, de manequim 50. "Viemos para mostrar que vamos sambar sim, goste ou não, e vamos arrasar", reforçou Aline.
*Estagiária sob supervisão de Angélica Fernandes
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