Alegoria da Mocidade levará dragão chinês para a Avenida. Agremiação contará invenção do tempo, passando pela mitologia grega, primeiros calendários e relógios de pulso - Alexandre Brum / Agencia O Dia
Alegoria da Mocidade levará dragão chinês para a Avenida. Agremiação contará invenção do tempo, passando pela mitologia grega, primeiros calendários e relógios de pulsoAlexandre Brum / Agencia O Dia
Por *Luana Dandara

Rio - 'Crise é pra escola de samba que não tem comunidade'. Assim o torcedor da Mocidade Independente de Padre Miguel, Liciomar Urbano, de 44 anos, descreve a superação da Verde e Branca neste Carnaval. Com ainda metade das alegorias a serem finalizadas, a dez dias do desfile, a agremiação, que falará sobre o tempo, conta com uma equipe de aproximadamente 40 voluntários para terminar os trabalhos para a Sapucaí. A recompensa? Contribuir para que a escola do coração vença uma das piores dificuldades financeiras dos últimos anos.

Urbano, por exemplo, auxilia o trabalho de recorte de peças para fantasias e carros alegóricos em seus dias de folga do salão em que é cabeleireiro. Vindo da Paraíba há 14 anos, com o sonho de conhecer a Mocidade, ele diz que este ano a passagem na Avenida terá um gostinho especial. "É um orgulho maior olhar cada detalhe e ver seu esforço. Essa união dos torcedores será o diferencial para a escola explodir", acredita ele. "Nessa saga de perseverança e cooperação dei a sugestão de chamá-los, já que os torcedores são os grandes incentivadores e críticos. Hoje, eles percebem de forma diferente o processo criativo, a dificuldade que passamos", explica o carnavalesco Alexandre Louzada.

Cerca de 40 torcedores da Mocidade trabalham desde janeiro no barracão na Cidade do Samba. Ajuda compensa crise financeira na agremiação - Alexandre Brum / Agência O Dia

Segundo o profissional, o enredo abordará como a humanidade começou a entender e marcar os dias e horas, e, na tentativa de controlar o tempo, acabou se tornando escrava dele. "É irônico porque fiquei vítima do meu próprio enredo. O tempo vai passando e nada do dinheiro chegar", critica, sobre a demora da liberação de verbas pela prefeitura. Entre os destaques do desfile, um carro alegórico lembrará Charles Chaplin e o filme 'Tempos modernos'. Outro recriará, em pleno verão carioca, uma geleira, que será a réplica de um bunker norueguês e que armazena sementes de todos os alimentos do mundo para preservá-los.

"A ideia surgiu quando li, há anos, o questionamento de um poeta de que pensamos que o relógio soma, quando, na verdade, devora o nosso tempo", conta o carnavalesco. "Será um Carnaval mais leve, investi na cenografia", avisa. A Mocidade ainda relembrará seus grandes carnavais no fim do desfile, como 'Descobrimento do Brasil', de 1979, 'Ziriguidum 2001', de 1985, e 'Chuê, chuá, as águas vão rolar', de 1991.

Detentor de seis campeonato do Grupo Especial carioca, Alexandre Louzada declara: "Carnaval se ganha e se perde no detalhe" - Alexandre Brum / Agência O Dia

Escola aposta em aproveitamento de materiais

No abre-alas, a cantora Elza Soares, 81 anos, será destaque em uma gigante alegoria, de 52 metros de comprimento, que mostrará a invenção do tempo, na época da mitologia. A grandiosidade também vai aparecer no terceiro carro, com um dragão, símbolo da fertilidade e renovação. "Mostramos os primeiros calendários. É uma integração da Babilônia, China e Império Maia", pontua Alexandre Louzada.

Para o carnavalesco, detentor de seis campeonatos do Grupo Especial apenas no Rio, este Carnaval foi uma lição de simplicidade. "Até o tecido da minha cortina foi para uma ala. É o Carnaval da criatividade", diz ele, que aparenta a mesma humildade e esforço de um principiante. "Sou movido pelo sonho, ainda tem muita coisa que quero fazer. E busco me integrar à equipe, ser acessível. Me veem como um tio, um pai".

*Estagiária sob supervisão de Angélica Fernandes

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