Marcus Ferreira e Tarcísio Zanon prometem "levar" a Lagoa do Abaeté para a Sapucaí - Luciano Belford/Agência O Dia
Marcus Ferreira e Tarcísio Zanon prometem "levar" a Lagoa do Abaeté para a SapucaíLuciano Belford/Agência O Dia
Por Luana Dandara

Rio - A Viradouro vai mostrar toda a sua grandiosidade neste Carnaval. A agremiação de Niterói, vice-campeã no ano passado, levará para a Sapucaí o maior abre-alas de sua história — com 50 metros de comprimento e 13 metros de altura, equivalente a um prédio de quatro andares. E os carnavalescos Tarcísio Zanon, de 32 anos, e Marcus Ferreira, 35, vão abusar dos efeitos especiais. No primeiro setor, a saia de Iemanjá vai se transformar em uma cachoeira na Avenida e o tripé levará Oxum lavando o brasão da Vermelho e Branca.

Única do Grupo Especial a receber subvenção — R$ 2,7 milhões da Prefeitura de Niterói —, a escola contará no enredo 'Viradouro de alma lavada' a história das Ganhadeiras de Itapuã, grupo musical baiano oriundo das escravas de ganho dessa região. "É um grupo de mulheres que resgata e canta a cultura de suas ancestrais. Elas já ganharam dois prêmios da música brasileira e participaram da abertura das Olimpíadas", explica Marcus.

"Essas escravas de ganho, além de cumprirem as metas de seus senhores, adquiriam dinheiro através do excedente e alforriavam o seu povo. Eram tão poderosas que tinham mais de um marido. São consideradas, inclusive, as primeiras feministas do Brasil", completa Zanon.

E a ideia do enredo veio após a dupla ganhar um CD do grupo, presenteado pela amiga atriz Zezé Motta. "Com a alma lavada, a Viradouro volta ao patamar que sempre teve, uma escola competitiva", destaca Marcus. "A Viradouro não é o Paulo Barros. Será um enredo cultural, mas com as nossas inventividades. Há muitas surpresas propostas no desfile", afirma ele.

Carnavalescos na quarta alegoria do desfile: um mar de fitas de Nossa Senhora da Conceição - Luciano Belford/Agência O Dia

Enredo exalta a relação com a água

O enredo da Viradouro passará por aspectos como a relação afetiva dessas mulheres com as águas de Itapuã, suas formas de ganho e manifestações culturais.

O quinto setor, que trata da fé, terá a imagem das Ganhadeiras lavando as escadarias da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, padroeira do bairro, localizado em Salvador. "O carro terá uma grande santa. Do coração dela, sairá Oxum. Mostra a relação de respeito dessas mulheres entre as crenças e religiões", diz Zanon.

A quinta geração do grupo, composto por 26 mulheres, serão destaque na Sapucaí. "Na última alegoria, a coroa da Viradouro trará a grande matriarca do grupo, Tia Maria do Xindó. Ela deixa uma mensagem de bravura e igualdade para mulheres de todo país", detalha Marcus.

"Preparamos um desfile-espetáculo para que o público mergulhe na Lagoa do Abaeté com emoção e conhecimento", conta Zanon.

União além do Carnaval

Casados há quatro anos, é a primeira vez que Tarcísio e Marcus formam uma dupla. Os carnavalescos são crias da Série A e enfrentam o desafio de mostrarem seus talentos na estreia do Especial.

"Foi muito positivo esse casamento profissional. Deixamos a vida pessoal de lado, porque é uma oportunidade de ouro. Fortaleceu nossa união, é só um pouco enjoativo", brinca Zanon. "Nos cobramos como artistas para um Carnaval com densidade e força", acrescenta Marcus.

Questionados se pretendem continuar como dupla, como um novo casal Lage, eles confirmam a vontade. "Mas só o tempo dirá. Nossa certeza é que estamos construindo um grande desfile", finaliza Zanon.

Alegoria da Vermelho e Branca remete ao artesanato produzido pelas Ganhadeiras de Itapuã - fotos de Luciano Belford

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