Gabriel (E) e Leonardo gostam de botar a mão na massa - Fotos de Ricardo Cassiano
Gabriel (E) e Leonardo gostam de botar a mão na massaFotos de Ricardo Cassiano
Por Luana Dandara

Rio - Estreando no Grupo Especial, os carnavalescos Gabriel Haddad, de 31 anos, e Leonardo Bora, 33, vão levar para a Sapucaí uma Grande Rio repaginada. A estética artesanal da dupla, vinda da Série A, aparecerá logo no início do desfile, em que o abre-alas terá mais de mil metros de trabalho de costura, como macramê, crochê e tricô.

Ao contar a história de Joãozinho da Gomeia, pai de santo mais famoso do Brasil e considerado Rei do Candomblé, a agremiação de Caxias vai criticar a intolerância religiosa e o preconceito. "Negro, nordestino, homossexual e candomblecista, Joãozinho é uma figura indócil e atual", diz Leonardo, ao explicar o enredo 'Tata londirá. O canto do caboclo no quilombo de Caxias'.

Segundo o carnavalesco, o nome de Joãozinho apareceu logo na contratação, em março do ano passado. "Era um desejo da Grande Rio falar sobre um personagem ligado à Duque de Caxias e à matriz afro-brasileira", destaca Leonardo. "E além da religiosidade, será abordado seu lado artístico e a própria ligação com o Carnaval. Pensar essa figura também é olhar para a memória carnavalesca do século XX", completa ele.

E os dois admitem que mesmo com a ascensão para a Elite do Carnaval, gostam de botar a mão na massa. "A nossa forma de trabalho é a mesma, só que em escala maior", considera Leonardo, que apresentava marca de tinta nas mãos, na entrevista. "Gostamos de dialogar com outras formas de produzir Carnaval, não convencionais. São roupas feitas à mão, com tingimentos naturais e bordados", exemplifica.

Detalhe do carro da Grande Rio: uma referência à festa de caboclos do Candomblé - Ricardo Cassiano/Agência O Dia

Mas apesar do trabalho manual e as referências africanas, as alegorias e fantasias vão apresentar também luxo e brilho. No segundo carro, o efeito do espelho será somado à grandiosidade de dez esculturas de orixás, com mais de 3 metros de altura cada. "Nos preocupamos em incluir luxo e glamour no desfile. Joãozinho usava um figurino colorido e brilhoso, até pelo seu gosto pelo Carnaval", afirma Gabriel. 

No quarto setor, o desfile mostrará a paixão do pai de santo pelo Carnaval. "Ele frequentava bailes de travesti, concursos luxuosos de fantasias e foi destaque no desfile de três escolas de samba", afirma Leonardo. "A alegoria é uma mistura dos salões de bailes do Theatro Municipal com as saudosas decorações de rua de Fernando Pamplona", revela o carnavalesco.

Quarta alegoria é uma mistura dos salões de bailes do Theatro Municipal com as decorações de rua de Fernando Pamplona - Ricardo Cassiano/Agência O Dia

Personalidades no terreiro

No quinto setor, a agremiação mostrará a vivência artística de Joãozinho da Gomeia, que também foi dançarino e ator. Fotos vão mostrar mais de 20 celebridades que frequentaram seu terreiro, segundo relatos da época, como Frank Sinatra, Dercy Gonçalves e Cauby Peixoto. "Quando Brasília ainda estava em construção, o ex-presidente Juscelino Kubitschek o convidou para visitar e plantar o axé naquela região", indica Leonardo Bora.

No fim do desfile, será abordada o espaço de convivência plural que foi a Gomeia, onde diferentes manifestações culturais se reuniam. "Vai ser um grito para que as crenças se respeitem e se unam contra toda a forma de opressão e preconceito", destaca o carnavalesco. Na alegoria, desfilarão padres, pastores, representantes do judaísmo e budismo, além de personalidades como Conceição Evaristo e o Babalawô Ivanir dos Santos. 

"É um enredo que não termina. A mensagem final contra a intolerância religiosa e todos os preconceitos é mais urgente do que nunca", pondera Leonardo.

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