Leandro Vieira promete surpreender:
Leandro Vieira promete surpreender: "a escola que vai disputar o bicampeonato precisa se superar" Gilvan de Souza
Por Luana Dandara

'Rosto negro, sangue índio, corpo de mulher". Esse é o Jesus que a Mangueira quer retratar neste Carnaval. Ao fazer uma releitura da vida de Cristo, a atual campeã vai pintar um novo retrato da Sagrada Família em plena Sapucaí. No abre-alas, os baluartes Nelson Sargento e Alcione vão representar José e Maria no nascimento de Cristo. O desfile também será encerrado com um momento carregado de emoção: após ser crucificado, Jesus vai renascer no Morro da Mangueira, vestindo Verde e Rosa.

O carnavalesco Leandro Vieira explica que a ideia é aproximar Jesus do povo. Um Jesus como homem periférico, que andou com gente pobre e se colocou contra a opressão, destaca ele.

"Já na abertura, eu rompo com a tradição de branqueamento, apresentando José e Maria como dois negros retintos. Jesus nascerá com a cara de um bebê do Morro da Mangueira", indica. "Apresentar isso é dizer que essa família, que serve de modelo, também pode ser a que habita esse morro", completa ele.

Intenção é aproximar Jesus do povo, segundo o carnavalesco: um Jesus que se colocou contra a opressão - Gilvan de Souza / Agência O Dia

O enredo 'A verdade vos fará livre', segundo Vieira, partiu do olhar para um Brasil que se apoderou da figura de Jesus. "Com o avanço do discurso religioso sobre a política e a moral, a figura de Cristo virou uma espécie de fiador em práticas anticristãs, como a política armamentista. Ao longo da história, Jesus foi usado para projetos de poder. O Jesus que a Mangueira apresenta é o original, antes de se tornar o mito", diz o carnavalesco.

E apesar de diversas polêmicas que o tema tem gerado, como um abaixo-assinado virtual que chama o samba-enredo de blasfêmia, Vieira deixa claro que não pretende "vilipendiar absolutamente nada, blasfemar contra nada, nem agredir a religião de ninguém". "Minha intenção é apresentar Jesus em diferentes faces e vislumbrar a compaixão das pessoas nesses rostos", defende o dono de dois campeonatos no Grupo Especial.

Capricho para buscar bicampeonato

Com cinco carros alegóricos e três tripés, Leandro Vieira promete que será seu maior e melhor Carnaval. "Melhor em termos estéticos e maior nas proporções de alegorias. A escola que vai disputar o bicampeonato precisa se superar".

Detalhe do abre-alas da Mangueira: alegoria terá uma estética tradicional do presépio, com família negra - Gilvan de Souza

E a passagem Verde e Rosa pela Avenida será fechada com festa. "Quando Jesus ascende aos céus no Morro da Mangueira, é lá que ele deixa sua mensagem, do nosso samba, 'Mangueira, vão te inventar mil pecados, mas estou do seu lado e do lado do samba também'", revela.

O carnavalesco conta ainda que fez questão de procurar a Arquidiocese do Rio, com quem mantém bom diálogo. "Não se trata de aprovação, mas sim de conversas. Entendia que o enredo e a proposta podiam levantar desconforto".

Questionado se há uma preocupação de acontecer o mesmo que em 1989, quando o Cristo Mendigo foi proibido de passar pela Sapucaí, ele nega. "Não penso nisso. O Cristo da Beija-Flor estava envolvido com outro contexto".

"Quero que Maria tenha orgulho de mim", diz Alcione

Presença assídua nos desfiles da Verde e Rosa, Alcione conta que recebeu como um presente o convite de Vieira para representar Maria, mãe de Jesus. "Embora eu seja umbandista, sou muito devota de Nossa Senhora e me senti honrada. Será linda essa passagem, a Mangueira vai fazer história na Avenida".

As longas e ousadas unhas, marca registrada da Marrom, serão cortadas especialmente para a apresentação.

A cantora Alcione é presença assídua nos desfiles da sua escola de coração - Daniel Castelo Branco

"Vou desfilar como manda o figurino, respeito o Sagrado. Quero que Maria tenha orgulho de mim. Vou cortar e pintar de cor clarinha", afirma a cantora, que rasga elogios ao carnavalesco da Mangueira. "Ele tem um pensamento parecido com o de Jesus. O mangueirense está consciente de quem vai representar na Avenida", acredita Alcione.

Já o ator Humberto Carrão, um dos intérpretes de Jesus no desfile, virá na segunda alegoria, que trata do Templo de Jerusalém.

"Meus últimos carnavais têm mostrado que escola de samba é coisa séria. O quequero levar para a Sapucaí em 2020 é muito mais que um Jesus na festa. É um enredo biográfico, mas com uma nova interpretação", finaliza o carnavalesco Leandro Vieira.

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