Publicado 04/12/2020 06:00 | Atualizado 04/12/2020 11:12
Rio - Com apenas 35% dos votos nas eleições municipais, Marcello Crivella (Republicanos) deixa a Prefeitura do Rio no fim de dezembro com um histórico conturbado com o mundo do samba. Marcada por corte de investimentos para as agremiações, cancelamento de ensaios técnicos (2018 e 2020) e ataques aos desfiles, a gestão do prefeito desagradou profissionais da área e quem depende da festa para sobreviver. Em entrevista ao DIA, o conselheiro da Beija-Flor Gabriel David, que comenta diariamente sobre carnaval nas redes sociais, analisou o governo Crivella e sua relação com as escolas de samba, patrimônio cultural da cidade.
"A gestão do Marcello Crivella para o carnaval foi muito ruim. Primeiro que houve uma promessa de campanha, que ele mudou logo depois que assumiu. Deixou as escolas preparadas para uma situação e fez elas enfrentarem outras situações. O carnaval não depende só financeiramente da Prefeitura. Tem toda a questão de funcionamento dos desfiles, de logística, de liberações, de utilização do espaço. E o Crivella começou a fazer uma campanha contrária a isso tudo", disse Gabriel.
"É como se o prefeito de Orlando estivesse falando mal da Disney. É muito ruim para o espetáculo e para a cidade. Ele tratou o carnaval num ponto de vista 100% religioso. Ele não respeitou a diversidade religiosa e cultural que se tem no Brasil e no Rio de Janeiro. Ele fez um governo pessoal e não para todos, afetando diretamente o carnaval. Promessas não cumpridas, falta de verba, modelo de negócios e campanha contra o carnaval, tudo isso impactou negativamente a festa", completou.
Crivella, inclusive, se tornou o primeiro prefeito a não ir à Marquês de Sapucaí em nenhum dos dias de desfiles nos quatro anos de mandato. Diante da vitória de Eduardo Paes (DEM), Gabriel projetou os próximos anos da gestão do futuro prefeito para a festa.
"Com certeza campanhas contra o carnaval não vão acontecer. A gente espera uma aproximação maior da Prefeitura com a Liesa, uma dinâmica proveitosa não só para quem consome os desfiles, mas para outros moradores ao redor que acabam afetados na semana do carnaval. Não só vamos ter mais verba direta da Prefeitura, mas indireta também, porque quando se tem um prefeito que fomenta o seu produto, consequentemente você atrai mais olhares para o espetáculo, mais parceiros e mais dinheiro", comentou.
Por conta da pandemia do novo coronavírus, os desfiles das escolas de samba, tradicionalmente realizados em fevereiro ou março foram adiados. Na última plenária da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), realizada em novembro, a festa foi remarcada para os dias 8, 9, 10 e 11 de julho. A mudança ainda gera receio até mesmo entre sambistas, por conta da baixa temporada do turismo estrangeiro em julho, economia em recuperação e junção com as festividades de festa junina/julina.
"O turismo estrangeiro é baixo em julho porque não tem carnaval em julho. A partir do momento que a gente escolheu essa data para realizar os desfiles, eu tenho convicção que o turismo vai aumentar. O público pode esperar o maior e melhor desfile de todos os tempos. A própria vitória do Eduardo condiz com isso. Temos um governador e um prefeito que apoiam o carnaval e temos pessoas que dependem disso para viver, que darão o máximo pela festa. E além de tudo temos grandes artistas que pensam e produzem o carnaval", opinou o conselheiro.
Confira outros trechos da entrevista:
E se não houver vacinação até julho?
Se a vacina não for feita, não tem como fazer os desfiles. Não é como outras áreas como o esporte, em que você consegue montar protocolos de segurança para o evento acontecer. O carnaval precisa de muitos componentes, aproximação das pessoas, interação com o público. É um festival de cultura altamente dependente da aglomeração de pessoas. Outras alternativas seriam as criações de outros produtos para as escolas, que seriam complementares e não substitutos. É o formato atual é único, envolve paixão e história.
Se vê como porta-voz das escolas?
Não me enxergo como porta-voz das escolas. Na verdade, eu vejo as decisões do carnaval muito distantes do público. A gente vive em um mundo onde a comunicação é instantânea e o carnaval não acompanhou essa mutação. A comunicação do carnaval é muito lenta, sem eficácia. Como amante da festa e pela posição que ocupo dentro, vi a necessidade de melhorar isso e conseguir dar mais informação. Essa forma foi usando as minhas redes pessoais. Tenho prazer em fazer isso e luto pela bandeira do samba e do carnaval.
As eleições da Liesa se aproximam...
"A gestão do Marcello Crivella para o carnaval foi muito ruim. Primeiro que houve uma promessa de campanha, que ele mudou logo depois que assumiu. Deixou as escolas preparadas para uma situação e fez elas enfrentarem outras situações. O carnaval não depende só financeiramente da Prefeitura. Tem toda a questão de funcionamento dos desfiles, de logística, de liberações, de utilização do espaço. E o Crivella começou a fazer uma campanha contrária a isso tudo", disse Gabriel.
"É como se o prefeito de Orlando estivesse falando mal da Disney. É muito ruim para o espetáculo e para a cidade. Ele tratou o carnaval num ponto de vista 100% religioso. Ele não respeitou a diversidade religiosa e cultural que se tem no Brasil e no Rio de Janeiro. Ele fez um governo pessoal e não para todos, afetando diretamente o carnaval. Promessas não cumpridas, falta de verba, modelo de negócios e campanha contra o carnaval, tudo isso impactou negativamente a festa", completou.
Crivella, inclusive, se tornou o primeiro prefeito a não ir à Marquês de Sapucaí em nenhum dos dias de desfiles nos quatro anos de mandato. Diante da vitória de Eduardo Paes (DEM), Gabriel projetou os próximos anos da gestão do futuro prefeito para a festa.
"Com certeza campanhas contra o carnaval não vão acontecer. A gente espera uma aproximação maior da Prefeitura com a Liesa, uma dinâmica proveitosa não só para quem consome os desfiles, mas para outros moradores ao redor que acabam afetados na semana do carnaval. Não só vamos ter mais verba direta da Prefeitura, mas indireta também, porque quando se tem um prefeito que fomenta o seu produto, consequentemente você atrai mais olhares para o espetáculo, mais parceiros e mais dinheiro", comentou.
Por conta da pandemia do novo coronavírus, os desfiles das escolas de samba, tradicionalmente realizados em fevereiro ou março foram adiados. Na última plenária da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), realizada em novembro, a festa foi remarcada para os dias 8, 9, 10 e 11 de julho. A mudança ainda gera receio até mesmo entre sambistas, por conta da baixa temporada do turismo estrangeiro em julho, economia em recuperação e junção com as festividades de festa junina/julina.
"O turismo estrangeiro é baixo em julho porque não tem carnaval em julho. A partir do momento que a gente escolheu essa data para realizar os desfiles, eu tenho convicção que o turismo vai aumentar. O público pode esperar o maior e melhor desfile de todos os tempos. A própria vitória do Eduardo condiz com isso. Temos um governador e um prefeito que apoiam o carnaval e temos pessoas que dependem disso para viver, que darão o máximo pela festa. E além de tudo temos grandes artistas que pensam e produzem o carnaval", opinou o conselheiro.
Confira outros trechos da entrevista:
E se não houver vacinação até julho?
Se a vacina não for feita, não tem como fazer os desfiles. Não é como outras áreas como o esporte, em que você consegue montar protocolos de segurança para o evento acontecer. O carnaval precisa de muitos componentes, aproximação das pessoas, interação com o público. É um festival de cultura altamente dependente da aglomeração de pessoas. Outras alternativas seriam as criações de outros produtos para as escolas, que seriam complementares e não substitutos. É o formato atual é único, envolve paixão e história.
Se vê como porta-voz das escolas?
Não me enxergo como porta-voz das escolas. Na verdade, eu vejo as decisões do carnaval muito distantes do público. A gente vive em um mundo onde a comunicação é instantânea e o carnaval não acompanhou essa mutação. A comunicação do carnaval é muito lenta, sem eficácia. Como amante da festa e pela posição que ocupo dentro, vi a necessidade de melhorar isso e conseguir dar mais informação. Essa forma foi usando as minhas redes pessoais. Tenho prazer em fazer isso e luto pela bandeira do samba e do carnaval.
As eleições da Liesa se aproximam...
A Liga tem muitas qualidades, mas a verdade é que ela parou no tempo. Está nos mesmos formatos de organização, mesmo modelo de negócio, os mesmos diretores, a mesma hierarquia. Qualquer empresa no mundo tem problemas se não mudar. Não é de hoje. A Liga é um formato dos anos 80, mas o mundo evoluiu. O Jorge (Castanheira) está no poder há 13 anos; é muito tempo para uma pessoa estar no poder de uma entidade. Não tem uma rotação. É preciso pensar fora da caixa. Acredito que essa mudança vai ser melhor para o carnaval.
Beija-Flor 2021 ('Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor')
A Beija-Flor é uma escola formada por sua comunidade, por seus torcedores majoritariamente pretos. O objetivo desse enredo é uma identificação direta com quem é Beija-Flor, com quem veste essa camisa, quem luta por escola. A gente fala de um problema não só do Brasil, mas do mundo, que é o racismo. Temos que corrigir, tem que haver uma ruptura nesse preconceito, em busca da igualdade racial. A história da Beija-Flor é preta, pessoas negras foram de extrema importância para a escola. Vamos brigar pelo título. Com a garra de um povo que está trancado dentro de casa e vai sair louco para ganhar um título. Vamos fazer um desfile de alto nível, o maior da história da escola.
*Estagiário sob supervisão de Thiago Antunes
Beija-Flor 2021 ('Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor')
A Beija-Flor é uma escola formada por sua comunidade, por seus torcedores majoritariamente pretos. O objetivo desse enredo é uma identificação direta com quem é Beija-Flor, com quem veste essa camisa, quem luta por escola. A gente fala de um problema não só do Brasil, mas do mundo, que é o racismo. Temos que corrigir, tem que haver uma ruptura nesse preconceito, em busca da igualdade racial. A história da Beija-Flor é preta, pessoas negras foram de extrema importância para a escola. Vamos brigar pelo título. Com a garra de um povo que está trancado dentro de casa e vai sair louco para ganhar um título. Vamos fazer um desfile de alto nível, o maior da história da escola.
*Estagiário sob supervisão de Thiago Antunes
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