Hugo Bonemer - Ag. News
Hugo BonemerAg. News
Por iG
São Paulo - "O artista não pode estar em posição confortável, ele precisa sempre ser desafiado". Pensamento que resume bem a trajetória de Hugo Bonemer, primo de William Bonner, âncora e editor-chefe do "Jornal Nacional", da TV Globo. Com um extenso currículo de peças e musicais, além de alguns filmes, séries e novelas, o ator, dublador e apresentador do canal L!ke , disponível nas operadoras Net e Claro, foi um dos finalistas da edição 2019 do Show dos Famosos, quadros de sucesso do "Domingão do Faustão". 
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Em um bate-papo exclusivo com o iG Gente , o multitalentoso, que assumiu sua homoafetividade publicamente a um repórter do programa "TV Fama", da RedeTV! , corrigindo-o quando este o questionou sobre sua namorada, não fugiu de temas como pressão por audiência, homossexualidade, política, novos projetos, parentesco famoso e até a declaração de Leonardo Vieira, que se mudou para Portugal após sofrer ameaças de morte por ser gay. Vem ver as respostas em 15 perguntas para Hugo Bonemer!
Como seleciona aquilo que vai publicar e o que fica off-line?

Não raciocino muito sobre o que e como postar. Às vezes embarco em uma viagem estética, com cores e enquadramentos, mas logo desisto. A informação espontânea e natural é facilmente reconhecida e me interessa mais.

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Para o ator, a pressão por audiência é bem menor do que para o apresentador. Já sente isso na pele?

Não senti isso ainda.

No teatro você possui tantos trabalhos, ou mais, que na TV. Foi algo planejado ou foi surgindo? Como o teatro apareceu na sua vida e como ele te toca?
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É natural que o teatro tome mais tempo na minha vida porque é onde dediquei mais energia, desde garoto, aos seis anos. O diferencial do teatro é estabelecer uma conexão real com outros seres humanos na plateia. A troca de energia é concreta.

Já no "Show dos Famosos" você cantava e dançava. Isso se tornou um desafio maior e mais prazeroso? Como foi a experiência?

O "Show dos Famosos" me dá muita saudade. Não só pelo desafio, mas pelo processo de trabalho. Que delícia estar perto de uma equipe tão talentosa e carinhosa.

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Como lida com as críticas? De alguma maneira, elas te abalam?

A função da crítica é estabelecer diálogo entre o artista e o público, qualquer coisa diferente disso é opinião pessoal, então ainda que fique feliz, não me iludo com as positivas e ainda que me cause tristeza, me policio para não embarcar nas negativas. Críticas são incentivos ao diálogo e ao progresso e sempre serão bem-vindas, mas ninguém precisa de "haters".

Você parece ser um cara tranquilo. O que te tira do sério? O que não dá para suportar?

Me tira do sério ver 260 agrotóxicos sendo liberados em seis meses, me tira do sério dez anos sem dados concretos sobre a fauna aquática da costa brasileira, me tira do sério ver gente agredindo e justificando ser liberdade religiosa, me tira do sério ver unha encravada ser tratada com perna amputada, que é como órgãos e sistemas que funcionam na cultura brasileira estão sendo tratados com justificativa de combate à corrupção.
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Não se combate a corrupção combatendo a cultura. Inclusive, corrupção é falta de cultura. Cultura salva, expande pensamento, abre possibilidades, soluções e futuros. Me tira do sério ver políticos sendo tratados como mártires (de direita ou de esquerda), tendo seus erros ignorados em vez de duramente cobrados pelos que os ajudaram a chegar lá!

Você se assumiu homossexual publicamente. Teve medo que isso, de alguma forma, te atrapalhasse na profissão?

Dividir com mais pessoas que sou gay só aconteceu porque o medo não existia mais. Medo e liberdade não existem no mesmo cérebro, ou se tem uma coisa ou a outra.

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Em recente entrevista, o ator Leonardo Vieira afirmou que resolveu se mudar para Portugal após sofrer ameaças de morte por ser gay. Você já sofreu algo do tipo?

Espero que o Leonardo esteja bem, feliz e em paz consigo e com os que ama. 
Você geralmente fala o que pensa, se coloca. Alguém já te aconselhou a ser mais comedido?

Até hoje só me aconselharam coisas úteis como ficar do lado direito da escada rolante e escutar música com fone de ouvido dentro do metrô. O tempo do outro é muito precioso! Quem atrapalha o tempo do outro precisa ser mais comedido, já eu, como comunicador, respeito esse tempo e me esforço por informação de qualidade.
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Você saiu do "Domingão do Faustão" e já está confirmado na segunda temporada de "A Vida Secreta dos Casais", exibida pela HBO e escrita por Bruna Lombardi. Há mais algum projeto engatilhado?
A serie estreia em setembro e minha expectativa é de realizar pelo menos mais um trabalho de dublagem este ano e colocar em prática alguns projetos sociais envolvendo os três tópicos recorrentes ao meu universo: redução de lixo plástico, câncer infantil e direitos LGBT+.

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Ser primo de William Bonner ajudou ou atrapalhou?

Sinto que ser primo do William Bonner criou sobre mim um olhar ao mesmo tempo atento e criterioso. Vamos combinar que não se atravessa a mídia brasileira ileso sendo primo de uma figura tão emblemática na TV. A minha sorte é que ele de fato me orgulha pessoal e profissionalmente. Não porque o considere perfeito ou acima de qualquer possibilidade de erro, mas porque o conheço suficiente para ter certeza que ele de fato se preocupa em ser uma pessoa cada vez melhor.

De gente que diz que sabe tudo, coisifica outras pessoas e que permanece com a cabeça igual, o mundo já está cheio e toda pessoa que se propõe a não ser assim merece meu respeito e admiração.

Percebo que você muda muito para cada personagem que faz — o "Show dos Famosos", por exemplo, só reforçou essa teoria. Você se considera muito vaidoso? É tranquilo para você ter que ficar se adaptando a uma nova personalidade e aparência por conta do trabalho?

Obrigado pelo elogio! Nunca pensei, na verdade, que fosse capaz de ser um ator muito versátil até o "Show dos Famosos" me revelar essa disponibilidade. Eu aprendi, ao mesmo tempo que o público, que sou capaz de me transformar em personalidades muito diferentes e isso me deixou muito animado com o futuro.

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Vivemos um momento particular do país. Como você se envolve nele? Como é a sua relação com a política?

Me envolvo com política procurando ela em uma forma ainda não experimentada, a ética. Pela falta de referências esse caminho é bastante desconhecido. A ética nada mais é que o que seria bom para todos. A gente já percebeu que a política baseada moral, aquela que é bom para alguns grupos e ruim para outros não tem funcionado. Daí minha urgência em descobrir um pensamento ao mesmo tempo político e ético.

Como falar de direitos LGBTs pensando no que é bom para todos? Tudo bem que a sigla hoje só não engloba racistas e homofóbicos, mas ainda sim, como direitos beneficiam todos, mesmo os que lutam contra a existência de tais direitos? É daí que me veio o olhar mais atento às questões ambientais, especialmente à epidemia de plástico.
Venho fazendo desafios com cidadãos comuns de limpeza de espaços públicos e encontros com empresários e prefeituras sugerindo mudanças sistêmicas, que não afetem a lucratividade, mas que tenham ainda sim um impacto positivo sobre a forma que entendemos o consumo e o lixo. 
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Você descobriu cedo que queria ser ator, né? Acredita que, quando era mais novo, o que mais te encantava era a profissão em si ou a fama?

Mais novo me via deslumbrado com a fama e a ideia de ser amado por muitas pessoas. Mais tarde, no grupo Tapa, em São Paulo, descobri o prazer de se estudar nessa profissão e como o processo de trabalho é mais concreto e divertido do que a efemeridade da fama e estima de uma ou mil pessoas.
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Para encerrar, quem é Hugo Bonemer aos olhos do próprio Hugo Bonemer?

Hugo Bonemer é um paranaense tentando não estragar tudo, que erra boa parte do tempo e em meio a trancos e barrancos consegue arrumar tempo para tirar sarro de si mesmo.