Rio - Wesley Safadão, a sua mulher, Thyane Dantas, e a assessora do músico, Sabrina Tavares, negaram um acordo ofertado pelo Ministério Público do Ceará (MPCE), na manhã desta quinta-feira, para que a investigação sobre a vacinação irregular dos três na campanha de imunização contra a covid-19 não prosseguisse. O acordo consistia ao pagamento de um valor, ainda a ser especificado, a uma organização social, como pena por terem furado a fila da vacinação.
"Oportunidade em que lhes foi oferecida proposta de Acordo de Não Persecução Penal – ANPP, pelo Ministério Público... consistente em prestação pecuniária a ser destinada a entidade pública ou privada, com destinação social a ser indicada pela autoridade judiciária responsável pela homologação do possível acordo, contudo, a proposta não foi aceita pelos investigados e seu advogado", diz a certidão que consta no processo.
A defesa dos três havia pedido, no dia 14 de outubro, que fosse "avaliada a possibilidade da celebração de acordo de não persecução penal". Trata-se de uma possibilidade dada aos autores de crimes de “substituir” o processo criminal por outras formas de reparação dos danos causados com o delito.
O DIA procurou a assessoria do cantor, que enviou a seguinte nota: "Ainda não temos informações sobre esse episódio, estamos aguardando um retorno do departamento jurídico". O espaço está aberto para manifestação dos envolvidos.
Relembre o caso
Em 8 de julho de 2021, Thyane Dantas furou a fila da vacina contra a Covid-19. Ela tinha 30 anos e, na época, o calendário municipal de vacinação previa aplicação em pessoas com 32 anos ou mais. Já Wesley Safadão e a produtora Sabrina Tavares estavam agendados para serem vacinados no mesmo dia no Centro de Eventos do Ceará, mas foram a outro posto de vacinação, num shopping. O caso é alvo de duas investigações — na Polícia Civil e no Ministério Público — e gerou um processo administrativo na Prefeitura de Fortaleza, em que uma servidora pública foi identificada e deve responder pela facilitação. Oito pessoas foram indiciadas pela Polícia Civil.
Vacinação foi 'ilegal, imoral e criminosa'
O Ministério Público do Ceará classifica a vacinação do trio como "ilegal, imoral e criminosa", conforme revelaram as investigações. Para chegar à conclusão que deu base ao despacho, a apuração analisou imagens do North Shopping Jóquei, onde os três foram se vacinar, além de documentos e depoimentos colhidos. Segundo o órgão, houve atuação direta do amigo e ex-funcionário Marcelo da Silva Matos, conhecido como "Marcelo Tchela".
Influência política
Segundo o MP, Marcelo da Silva Matos entrou em contato com uma pessoa que teria contatos e influência na rede municipal de saúde do município de Fortaleza e já havia trabalhado para Marcelo durante a campanha dele para vereador em Fortaleza no ano passado. De acordo com o Ministério Público, ela teria acionado uma servidora que atuava no setor de logística da vacinação da Secretaria Regional III, onde fica o posto em que o trio se imunizou irregularmente. No dia da vacinação, a servidora ligou para um terceirizado da Servnac que atuavam no shopping onde o trio foi vacinado. Ela disse que levaria os três para serem vacinados.
Marcelo foi ao shopping com os três e subiu com a produtora do cantor para a imunização; Thyane e Wesley ficaram no estacionamento aguardando "sinal verde". Ao recebê-lo, o casal subiu de elevador e foi encaminhado pelo funcionário terceirizado e também pelo supervisor do local. Os três não passaram pelo setor de registros, nem pelo de triagem da imunização.