Por tabata.uchoa
Igor Rickli diz que pessoas têm preconceito quando criticam sua carreira e seu casamentoFernando Souza / Agência O Dia

Rio - O piano de cauda que Igor Rickli, 29 anos, mantém na sala de sua casa, no Alto da Boa Vista, costuma deixá-lo leve, sereno. Funciona quase como uma sessão de terapia. Sob seus dedos, são reproduzidos clássicos do jazz e da música brasileira.

Cinco meses atrás, ironicamente, o intérprete do vilão Alberto de ‘Flor do Caribe’ pôde sentir o peso do instrumento sobre suas costas. Em seu primeiro papel na TV, foi duramente criticado. Chegaram a compará-lo ao também ator Ricardo Macchi, famoso por sua atuação (ruim) como o cigano Igor, de ‘Explode Coração’ (1995).

“Fiquei muito ressentido nos primeiros dias porque eu sabia que as críticas tinham algum fundamento. Eu estava começando e tinha dificuldade de me adaptar à linguagem da TV. Mas foi um período de transição. Depois que passei a me divertir um pouco mais, me soltar, as coisas fluíram e tudo melhorou pra mim”, explica. O trocadilho feito entre seu nome de batismo e o cigano interpretado por Macchi serviu para fazê-lo refletir.

“Achei cruel comigo pelo fato de eu estar começando. Não deram a chance de eu respirar, de me adaptar àquilo. Percebi que as pessoas conseguem ser bem cruéis quando querem. É como picuinha de crianças, que ficam apontando os defeitos umas das outras. E eu não quero ser criança. Não quero ficar apontando o dedo para ninguém e não vou ligar se uma ‘criança’ aponta para mim e me chama de cigano Igor. O que importa é que eu sei quem eu sou, o quanto estudei, que posso fazer meu papel da melhor forma possível”, defende-se.

O hábito de acessar um site de buscas e escrever seu nome para saber o que estavam falando sobre seu trabalho deixou de ser um prazer. Virou uma tortura. “Eu via tudo o que saía no início. Algumas coisas me deixavam feliz, outras, deprimido. Aí, pensei: ‘Não quero mais ver isso’. Não é o que me importa. Passei a me preocupar com quem realmente fizesse diferença. Meu diretor, as pessoas que eu gosto, confio. Tudo era muito grande para mim, não estava acostumado. A TV tem outras proporções, vai para o Brasil todo”, analisa.

'Não preciso de elogios para me sentir bem'

Para Igor, as críticas negativas tinham um gosto ainda mais amargo no início. No espetáculo musical ‘Hair’ (2010), no qual aparecia só de tanga no palco, ele viveu justamente o contrário. Sua atuação foi bem elogiada. Mas, segundo ele, o excesso de congratulações não lhe fez bem.

“Meu ego era muito inflado, me atrapalhava. Era um pavão na vida e no palco. Eu subia em cima das cadeiras só de tanga, via a cara das pessoas achando aquilo o máximo e eu comecei a me achar o máximo também. Aí eu tomei uma rasteira grande, porque o ego faz armadilhas com a gente. Eu acreditei no que não era verdade. Não sou um pedaço de carne. Não preciso de elogios para me sentir bem”, desabafa ele, que assume já ter sofrido preconceito por ser um homem bonito. “Acho isso tão cafona, sabe? É como se o cara de boa aparência fosse burro, prepotente, só pensasse nele e não pudesse desempenhar um bom papel”, reclama.

Nas ruas, no entanto, não há preconceito do público feminino por conta de seu par de olhos azuis. Ao contrário. “O vilão tem esse ar de sedução, né? Elas mandam fotos, dizem que querem levá-lo para casa, que vão dar muito amor ao Alberto. Eu adoro. Quem não gosta de receber carinho?”, diz Igor, casado há três anos com Aline Wirley, ex-integrante do grupo Rouge. Eles ficaram amigos durante os ensaios de ‘Hair’. Logo depois, perceberam uma identificação mútua.

Igor Rickli e a mulher%2C AlineDivulgação


“Foi natural. Hoje, não sei mais viver sem minha pretinha. Nosso amor é incrível. Graças a Deus, encontrei essa pessoa para caminhar ao meu lado”, derrete-se. Filhos fazem parte dos planos do casal. A curto prazo, ressalta Igor. “Quando conheci a pretinha, disse a ela: ‘Você vai ser a mãe dos meus filhos’. Quero ter vários. Quem sabe no final deste ano ou no próximo?”, planeja.
Igor demonstra indignação com os boatos de que viveria um casamento de fachada com Aline.

“Vamos fazer o quê? Trepar em público para provar que nosso casamento não é de fachada? Quer dizer que meu amor por ela é uma mentira? Não há o que fazer com tanta hipocrisia”, esbraveja. Para ele, essas especulações são o ônus da fama. “É um absurdo. Ninguém tem como saber, só nós dois. Como alguém pode vir e dizer que meu casamento com o amor da minha vida, com minha alma gêmea, é de fachada? Isso foi tão cruel como me chamar de cigano Igor”, reclama.

Ele conta que Aline o acalma. Por ter feito parte de um grupo musical para o público infanto-juvenil, a cantora já foi vítima de preconceito. “Ela sofria por ser do Rouge e por ser negra. Como um cara bonito, de olhos azuis, está casado com uma negra? Aí eu penso: ‘Em que século estamos vivendo?’. É inadmissível que tenhamos uma observação como essa nos dias de hoje. Não estou com ela por causa da cor, estou com a pretinha porque a amo”, diz Igor, exaltado, até sentar próximo ao seu piano.

“Posso tocar para vocês?”, pergunta à equipe ‘Já É! Domingo’. Após 10 minutos tocando música brasileira, bebe um café. “Isso realmente me acalma”, constata, aos risos.

A redenção de Alberto

A cerca de um mês para o fim de ‘Flor do Caribe’, Igor tem um palpite para o fim do vilão Alberto. “Primeiro eu achei que ele fosse morrer. Hoje, acredito que o Alberto terá uma leve redenção. Ele não vai ficar bonzinho, mas vai pagar por suas atitudes”, acredita o ator. Para Igor, seu personagem deveria esquecer Esther (Grazi Massafera) e partir para outra. “Ele precisa desapegar. Essa obsessão faz mal a ele”, opina.

Funcionário da Globo até o final de ‘Flor do Caribe’, Igor está em processo de renovação de contrato. Ele tem conversado com diretores sobre um papel numa novela da casa, com estreia em 2014. “Não posso falar muito, senão acabo perdendo. Mas eu seria um dos protagonistas”, adianta. Além da novela, Igor estreará no teatro em breve, em ‘Meu Ex Imaginário’, ao lado de Milena Toscano.

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