Por karilayn.areias
Tom Courtenay e Charlotte Rampling em cena do filme ‘45 anos’Divulgação

Rio - Não é um casal qualquer. Charlotte Rampling e Tom Courtenay preparam para o espectador uma verdadeira aula de interpretação no penetrante ‘45 Anos’, de Andrew Haigh, que valeu aos dois o Urso de Prata de Melhores Atores no Festival de Berlim deste ano e caiu no boca a boca do público do Rio de Janeiro.

Charlotte Rampling é Kate, solidária esposa de Geoff (Tom Courtenay), às voltas com a festa que celebrará os seus 45 anos de casamento. Tudo parece caminhar nos conformes até o marido receber uma carta relatando que o corpo de Katya, sua namorada antes de Kate, foi encontrado 50 anos após um acidente fatal na neve. A notícia afeta o comportamento do casal. Geoff não esconde a melancolia e Kate perscruta segredos que irão revelar surpresas nada agradáveis. Todos guardados no sótão da memória.

Com ecos do ‘Amor’, de Michael Haneke, e ‘Cenas de um Casamento Sueco’, de Ingmar Bergman, ‘45 Anos’ não tem o apelo emocional do primeiro nem a profundidade dos diálogos do segundo, o que está longe de ser uma crítica. É um filme que corre em espaço próprio, em que o passado invade as frestas de uma vida comum e coloca em xeque a cumplicidade matrimonial mostrando que o tempo, por si só, não cimenta as relações. Um filme sobre a maturidade.

Destaca-se sobretudo pelas interpretações do casal em crise. Courtenay, em interpretação primorosa, constrói um Geoff frágil e perplexo diante das voltas da vida. Seu ar distante não o afasta de Kate. De certa forma, é justamente o que ainda lhe sustenta o charme. Sua perplexidade, diante do acaso, não transpira desamor.

Kate, por sua vez, é quem conduz o filme, com seu olhar atento, observador e fiel à paixão pelo marido, embora nunca subserviente. Charlotte Rampling, sublime, busca a cumplicidade do espectador numa interpretação intimista, sedimentada por um olhar dolorosamente dividido, que preserva e ao mesmo tempo desafia uma relação maculada pela dúvida.

O casal Kate e Geoff pode até ser feliz para sempre. Mas de um modo bem particular.

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