Cid Moreira - Divulgação/Daniel Ebendinger.
Cid MoreiraDivulgação/Daniel Ebendinger.
Por RICARDO SCHOTT

Rio - Durante o preparo do primeiro dia do 'Jornal Nacional' (que estreou na tela da Rede Globo em 1º de setembro de 1969,e completa 50 anos amanhã), havia uma pessoa na emissora que não fazia a menor ideia de que aquela trabalheira toda nos estúdios era por causa da estreia de um grande jornal. E ela estava à frente das câmeras: era o próprio apresentador da atração, Cid Moreira — que por aqueles tempos dividia a bancada com Hilton Gomes (1924-1999).

"Sério, eu nem sabia que aquilo estava sendo feito para o 'JN'", diz, rindo, o locutor, que também faz aniversário em setembro (fará inacreditáveis 92 anos no dia 29). "Eu já apresentava com Hilton o 'Jornal da Globo' e para mim era tudo normal, era mais um jornal. A diferença é que no dia 1º de setembro o jornal seria transmitido por links. Seria visto em São Paulo, Belo Horizonte, Paraná e, se não me engano, Rio Grande do Sul. Os links foram sendo instalados em outros estados e depois viria a transmissão por satélite, que realmente o transformou num 'Jornal Nacional'".

Em forma após os 90, Cid tem planos: o apresentador pretende lançar poemas ("venho estudando bastante o assunto", conta). E vem por aí um documentário sobre sua história: é 'Boa Noite', de Clarice Saliby, que sai em breve. "Sempre tenho alguma coisa em vista, sou viciado em trabalho", diz. O 'JN' já passou dos 14 mil "boas noites" nessas cinco décadas — quem diz é a própria Rede Globo. Cid esteve na bancada do telejornal de 1969 a 1996. Se valer o número levantado pela emissora, algo em torno de 7 mil dessas despedidas saíram da voz grave de Cid.

"Eu sou o Guinness Book, 27 anos à frente de um mesmo jornal", brinca. "Imagina quantas notícias foram dadas, não é? E o chato é que notícia boa geralmente é notícia trágica", completa, recordando-se da alegria que foi noticiar a volta das eleições diretas para presidente do Brasil (em 1989) e da tristeza que foi acompanhar o desabamento do Elevado Paulo de Frontin, no Rio Comprido, Zona Norte do Rio (1972).

Meme

A imagem de Cid e de Sergio Chapelin, nos anos 1970,usando ternos e ostentando cabelos um pouco compridos, marcou época na telinha. Durante vários anos, Sergio foi o companheiro mais assíduo de Cid na bancada do 'JN'.

"Ótima pessoa e ótimo profissional", define Cid, que ao lado do ex-colega, recentemente, virou meme (uma pessoa acrescentou um "Pink Floyd" numa foto da dupla, como se a imagem fosse a capa de um disco da banda inglesa). "Mas também dividi a bancada com vários outros colegas excelentes, como Carlos Campbell, Celso Freitas, Lilian Witte Fibe, e até o William Bonner", faz questão de citar.

No comecinho do 'JN', lembra Cid, colocar um jornal em rede no ar dava nervoso — a ponto de Armando Nogueira (1927-2010), então diretor de jornalismo da Globo, comparar a operação com a decolagem de um avião da Boeing. "Dependia da redação das matérias, que chegavam às vezes atrasadas. Dependia também da chegada do som e da imagem. Era complexo", conta. Aconteciam erros? Sim, e um deles não sai da memória de Cid.

"Quando eu apresentava o jornal com Hilton Gomes, eram duas bancadas leves de compensado, com dois blocos de cimento de cada lado. Hoje, o 'JN' é essa nave espacial, mas naquela época, não era. Uma vez, estávamos os dois, e o João Saldanha estava no meio. Ele falava um minuto sobre futebol, aí entrava uma propaganda e ele se levantava. Só que numa vez, o bloco não estava seguro. Ele levantou e derrubou tudo. O meu script e o do Hilton se misturaram", brinca.

Saúde

Cid jogou tênis até três anos atrás, e hoje cuida da saúde com pilates e alimentação vegetariana. "Minha fisioterapeuta diz que meu físico é de uma pessoa de 70 anos. Me sinto bem assim, mas claro que antes eu me sentia melhor", brinca. "Tomo muito cuidado com a alimentação e principalmente com o mastigar, que é uma coisa que ninguém faz direito. Muita gente marca reunião de trabalho durante almoço e fala mais do que mastiga", diz ele, que é casado há quase 20 anos com a jornalista Fátima Sampaio, e entrega que a esposa mastiga pouco ao comer.

Redes

Cid hoje está no Instagram e no YouTube, e diz que as redes sociais o rejuvenesceram.O locutor costuma ser abordado por fãs para que grave expressões que imortalizou, como "jabulaaaani" (referência à bola usada na Copa de 2010, disputada na África do Sul) e "parabéns, Mister M" (o ilusionista americano popularizado pelo 'Fantástico' há 20 anos).

"Mas gosto mesmo é quando falam das gravações que fiz da Bíblia. Foi um trabalho que demorou seis anos para ser feito. Tenho um compromisso com o Todo-Poderoso de levar a palavra Dele até o último dia da minha vida", conta o locutor.

Por sinal, o ex-apresentador do 'JN' entrou nas redes sociais por um motivo bem inusitado: Cid descobriu que havia vários homônimos por lá,passando-se por ele. "Eram mais de dez pessoas! Resolvi me registrar usando meu nome verdadeiro. Não foi fácil, e até receber o selinho azul (dado a celebridades) demorou bastante", conta.

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