'Eu nunca fiz uma personagem nem de classe média, quanto mais rica', diz Regina Casé
'Todas as Flores', de João Emanuel Carneiro, estreia nesta quarta-feira no Globoplay e traz Sophie Charlotte, Regina Casé, Letícia Colin e Mariana Sousa Nunes como protagonistas
Televisão
Tábata UchoaRio - A novela "Todas as Flores", de João Emanuel Carneiro, estreia nesta quarta-feira na plataforma de streaming Globoplay. Com a exibição de "Travessia", de Gloria Perez, na TV aberta, esta é a primeira vez em que a Globo tem duas tramas inéditas, com o peso de uma produção de horário nobre, exibidas simultaneamente. O folhetim será dividido em duas temporadas de 45 episódios. A cada semana, cinco capítulos serão disponibilizados na plataforma, possibilitando aos telespectadores a experiência de maratonar a história das irmãs Maíra (Sophie Charlotte) e Vanessa (Letícia Colin).
De acordo com o autor João Emanuel Carneiro, "Todas as Flores" é um conto de fadas moderno. "Estou muito feliz e entusiasmado de fazer a minha primeira novela no streaming. É um formato um pouco menor, em que posso pensar mais ou menos até o final da história, que é uma coisa diferente pra mim. É uma brincadeira com a história da Gata Borralheira", avisa. "Eu sou conhecido por ser um autor muito inquieto, eu gosto de fazer cada capítulo como se fosse um filme, pensando muito no gancho final. Cada capítulo é um desafio, eu tenho que criar um problema muito grande para cada episódio", explica o autor, sobre sua forma de desenvolver uma novela para o streaming.
Na trama, Maíra (Sophie Charlotte) é uma jovem cega que mora em Pirenópolis, em Goiás, com o pai, Ivaldo (Chico Diaz). Sua vida muda completamente com a chegada da mãe, Zoé (Regina Casé), que ela acreditava estar morta. Zoé vai atrás da filha para convencê-la a fazer uma doação de medula para sua irmã, Vanessa (Letícia Colin), que tem leucemia.
"A Maíra vive até então com seu pai, em harmonia, em paz, muito contato com a natureza... É uma mulher que tem uma deficiência visual, que estudou e é formada em Farmácia e tem o sonho de se tornar perfumista, que é a profissão do pai. A vida dela é transformada com a chegada da mãe, que coincide com o dia em que o pai dela falece. Então, ela resolve partir pro Rio de Janeiro, recomeçar a história e conhecer essa irmã que ela não sabia que existia, que é a Vanessa", diz Sophie Charlotte sobre sua personagem.
"A Vanessa é uma alpinista social, foi criada para casar com um homem rico. A Zoé criou a Vanessa para ser uma espécie de galinha de ovos de ouro dessa família. Então, ela aprendeu todo sortilégio de truques, manipulação, ardilosidade, para conseguir dinheiro, poder, sucesso", conta Letícia Colin. "Só que tem um problema: ela começa a trama precisando se curar de uma leucemia, ela tem câncer. Isso faz com que elas precisem resgatar essa irmã, Maíra, que está em Pirenópolis. De cara, as duas irmãs são unidas por esse transplante. Aí a história começa a se desenrolar porque o Rafael (Humberto Carrão), que era o pretendente da Vanessa desde sempre, se apaixona por Maíra e a Vanessa não vai deixar barato", completa.
Regina Casé conta que está entusiasmada por viver, pela primeira vez, uma mulher rica e, além de tudo, vilã. "Eu nunca fiz uma personagem nem de classe média, quanto mais uma rica, vilã. Mas essa maldade, essa construção da personalidade é quebrada já no primeiro capítulo, quando ela encontra a Maíra. Encontrar pela primeira vez uma filha, que é cega, que ela foi buscar para salvar essa outra filha, com quem ela não conseguiu construir uma boa relação... O foco da Zoé e da Vanessa é grana, manter aquele padrão que já não é tão alto, manter o apartamento, a casa, as roupas, as bolsas... Uma coisa que também me surpreende muito é como o encontro com a Maíra é muito impactante e aos poucos vai humanizando a Zoé. Ela leva um susto de estar sentindo amor, carinho, de se sentir bem tratada pela filha. A outra só briga com ela. É a primeira vez que ela enfrenta alguns sentimentos que ela nem sabia que existia", diz a atriz.
A grande rival de Zoé será Judite (Mariana Sousa Nunes), que afirma que sua personagem é uma espécie de "fada madrinha" para Maíra. "A Judite é uma mulher da Gamboa, que é um núcleo bem importante da novela. Um núcleo musical, que traz o samba. Ela é uma espécie de líder comunitária, mas transita mais no núcleo central da trama, entre Zoé e Maíra, principalmente. Judite é madrinha de Maíra e, dentro dessa nossa fábula, a gente entende ela como uma fada madrinha, que está sempre protegendo a Maíra para que ela consiga alcançar seus objetivos. Quanto mais eu assisto a novela, mais eu vejo o quanto a Judite é misteriosa. Ela tem uma história do passado e a gente não sabe exatamente o que é", revela a atriz.
Já Zoé tem envolvimento com tráfico de pessoas e de drogas. Regina Casé se diverte com a personagem, que é capaz de cometer diversos crimes e depois seguir a vida normalmente. "Tudo que ela faz é por dinheiro. Ela não é uma personagem que quer vingança, coisas maquiavélicas, ou psicopata. Ela quer grana. Ela encara tudo que faz como o trabalho dela. Ela acaba de fazer uma coisa terrível, volta pra casa e faz um bolinho formigueiro para a filha. Passa quatro, cinco cenas fazendo chazinho, cuidando...".
Quem também está gostando da vilania é Letícia Colin. "Estou amando ser vilã. A Vanessa é o contrário de tudo que eu acredito no mundo, de tudo que eu desejo pra mim, pro meu filho. Eu sou progressista, acho que a Vanessa é mais conservadora. Ela é muito egoísta, eu sou a favor de uma coisa mais democrática. Nosso trabalho (dos atores) é não ser a gente, é representar essas pessoas que também existem para que a gente possa olhar criticamente e ver que não dá certo. É um personagem que eu tento trazer uma leveza também, um bom humor. Ela é patética, porque é claro que ela não se dá só bem. Ela se ferra muito, os planos dão muito errado. É gostoso você ver ela errando, tropeçando, as coisas não dando certo. Ela fica com raiva", diz.
Mas também há partes difíceis. "A parte mais difícil desse trabalho é ela ser tão capacitista. A vanessa é uma personagem que fala muitos absurdos e isso vai servir pra gente tirar essas coisas do nosso vocabulário. Vai ficar bem nítido que quem está dizendo isso é uma vilã, que não é a maneira correta de se relacionar", afirma a atriz.