Dalila (Alice Wegmann): ódio de Laila por causa da morte do pai e da mãe  
 - Globo/Paulo Belote
Dalila (Alice Wegmann): ódio de Laila por causa da morte do pai e da mãe Globo/Paulo Belote
Por Gabriel Sobreira

Rio - Dia desses, Alice Wegmann estava na rua por volta de meia-noite, deixou uma amiga no táxi e foi andando até em casa. No caminho, a dois quarteirões de sua residência, uma outra menina a viu sozinha e ofereceu uma carona. "Quando eu ia entrar no carro dela, um cara de 50/60 e poucos anos abaixou o short dele e começou a se masturbar na nossa frente. Isso foi completamente desconcertante, foi constrangedor. A gente passa por esse tipo de situação o tempo todo. Ser mulher é foda", desabafa a atriz de 'Órfãos da Terra', novela das 18h da Globo.

"Eu estava protegida porque estava dentro do carro, mas e as mulheres que passam por isso em lugares completamente escuros ou no ônibus, lugares públicos, sem ninguém por perto, sem ter apoio? Então, tudo é muito complicado (para nós mulheres)", completa ela, que vive a inescrupulosa Dalila na novela de Thelma Guedes e Duca Rachid.

CHEGA DE FEMINICÍDIO

Com os costumes árabes de pano de fundo, a trama mostra, entre outras questões, o machismo enraizado na religião. Mas, na opinião da atriz, isso não é muito diferente do que acontece no mundo ocidental. "Aqui no Brasil também temos muitas questões. Um estupro acontece a cada 11 minutos, tem 536 mulheres mortas durante uma hora de almoço no mundo, por exemplo. A gente precisa também falar sobre isso. O machismo precisa ser combatido em todos os lugares do mundo", alerta. "Precisamos bater cada vez mais nessas teclas. Às vezes, as pessoas falam: 'Ah, é mimimi. Esse assunto é muito repetitivo'. Então, por que ainda tem mulher morrendo? Por que tem tanta taxa de feminicídio? Parem de matar as mulheres, parem de matar a gente", indigna-se.

Alice Wegmann - Reprodução

LUTA

Com apenas 23 anos, Alice Wegman faz parte de uma geração de artistas que fala abertamente sobre temas importantes para a sociedade e sabe o peso que isso representa. "As pessoas, às vezes, me perguntam: 'Não acha que fica repetitivo você falar sobre isso?'. Enquanto tiver mulher morrendo, mulher sofrendo por isso, eu vou falar, sim", enfrenta.

A militância da carioca não está apenas nos discursos quando é entrevistada, mas também em suas redes sociais (só no Instagram ela é seguida por mais de 2,2 milhões de pessoas). Para Alice, a arte é uma política e cabe aos artistas usarem a força que eles têm para chamar a atenção para certas causas. "Claro que muitos desses lugares não são meus lugares de fala. Tenho muita coisa pra aprender com uma mulher negra, por exemplo, com a população LGBT. Mas eu quero ceder o meu espaço para essas pessoas, ceder a minha voz para que as pessoas possam gritar mais alto", se dispõe ela, que já está acostumada com a turma dos "haters".

"Ninguém é obrigado a gostar de tudo que você faz e de tudo em que você acredita. E tudo bem, desde que isso seja respeitoso em algum lugar" defende. Segundo Alice, ela é do tipo de pessoa que preza tanto a diversidade quanto a liberdade — tanto para ela quanto para os outros. "Quando desrespeitam isso, tanto as pessoas no lugar comum, como os governadores, presidentes, qualquer pessoa no mundo, eu acho que isso me incomoda, sim, e me coloco, sim, em relação a isso".

PADRÕES

O ativismo dela não se resume ao mundo cibernético. Ela faz questão de levar para as ruas e também para o dia a dia tudo que aprende. Um exemplo disso foi o livro 'O Mito da Beleza', da escritora Naomi Wolf. "Isso mudou a minha vida", derrete-se a atriz, que depois que leu a obra, começou a entender melhor a não ceder aos padrões estéticos de beleza. "Você começa a repensar tanta coisa e vê o quanto é julgada o tempo todo pela estrutura do seu corpo, a forma como você se veste, ainda mais no meio da TV", observa.

PALAVRA AMIGA

A jovem conta que durante muitos anos isso tudo foi um peso para ela, mas que hoje em dia prefere se dedicar às coisas mais importante. "Realmente, o feminismo me ajudou muito a enxergar esse tipo de coisa. E atualmente, quando uma mulher vem falar: 'Preciso emagrecer, preciso fazer dieta', eu a chamo pra conversar dois minutinhos e pergunto se ela realmente precisa para se sentir bem com ela mesma ou para os outros", entrega.

Para Alice, esse tipo de questionamento ajuda as pessoas a se libertarem e, inclusive, a fez repensar certas atitudes. "Antigamente, eu dava entrevistas falando: 'Porque fiz a dieta tal ' ou 'de manhã como isso, de tarde como aquilo'. Hoje em dia, eu não falo sobre isso porque não quero que nenhuma outra mulher adoeça tentando ser aquilo que ela não é. Como eu adoeci", desabafa a atriz, que sofreu transtornos alimentares na adolescência.

Dalila (Alice Wegmann) - Globo/Paulo Belote

DALILA

Quando o assunto é a novela 'Órfãos da Terra', a intérprete está animada com sua personagem, a primeira vilã da carreira (apesar de, em 'Laços de Família', ter vivido a víbora Shirley por apenas oito capítulos). "A Dalila é muito egocêntrica, não é uma pessoa pra gente se espelhar. Ela não sabe lidar com o 'não', sempre foi muito mimada", explica. Na história, a megera desperta o amor em Youssef (Allan Souza Lima), mas ela só tem olhos para Jamil (Renato Góes), que é apaixonado por Laila (Julia Dalavia). E ela não conhecerá limites para conseguir ter o homem que deseja.

"Ela é muito determinada, até demais. Ela chega a ser obsessiva. Uma coisa é você amar e lutar por essa pessoa, a outra é você ultrapassar qualquer limite e prejudicar as pessoas que estão à sua volta. E ela realmente prejudica todo mundo", conta.

Apesar de toda essa frieza, Alice conta que a personagem possui outras facetas. "A Dalila tem momento, sim, de fragilidade, de humanidade. De alguma forma, as pessoas vão se identificar com ela em alguns momentos. Mesmo que sejam bem poucos", diz.

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