Adalgisa (Mariana Ximenes)  - Globo/Mauricio Fidalgo
Adalgisa (Mariana Ximenes) Globo/Mauricio Fidalgo
Por Gabriel Sobreira

Rio - Mariana Ximenes, a Adalgisa da minissérie 'Se Eu Fechar os Olhos Agora', que estreia amanhã na Globo, começou a trabalhar aos 14 anos. Tudo à revelia da mãe, que queria que ela só estudasse. Mas a adolescente, além da parte acadêmica, já pensava na independência. As oportunidades foram surgindo. E aos 17, veio para o Rio. Fez escolhas. Aguentou o tranco e não se arrepende.

INDEPENDÊNCIA

Pagou preço pela independência? "Dá trabalho. Não tem ninguém para fazer por você. Eu ainda tenho uma mãe muito presente, maravilhosa, veio morar comigo no Rio. Minha família toda me deu alicerces sólidos para eu voar. Dá trabalho ser mulher independente", avalia a intérprete. "Eu ainda não tenho filho. Vejo minhas amigas que têm. Você continua sendo dona de casa, também é profissional, é a esposa... Você tem que ter um jogo de cintura, muita fibra e muita garra", entrega.

"Eu queria um fígado no lugar do coração, porque assim eu podia beber mais e sentir menos" ou "um Dry Martini (drink) é uma refeição porque tem a bebida e tem a comida (azeitona)" são frases de Adalgisa (Mariana), uma ex-Miss Distrito Federal, um sopro de modernidade na pacata sociedade de São Miguel, em 1960. A personagem usa calça quando a convenção da sociedade espera que a mulher use saia. Ela largou a vida independente para se casar por status social com Geraldo Bastos (Gabriel Braga Nunes), um importante empresário, e viver bajulada como um troféu por ele.

Adalgisa (Mariana Ximenes) - Globo/Mauricio Fidalgo

"Sempre fui muito atenta. Nunca tive um caso disso (de alguém querer se aproveitar da imagem da atriz). Se eu suspeitei ou senti o 'cheiro' (disso), saí, desviei", entrega Mariana, que lamenta: "É uma minissérie de época, que fala ainda de temas que duram até hoje, infelizmente, como feminicídio e racismo".

SEM MACHISMO

Mariana Ximenes conta que a luta contra o machismo é um dever de todos. Ela lembra que foi à passeata no Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, e ficou impressionada com a adesão. "Era uma mulherada tão forte, tão vibrante, um grito tão potente, que espero que esse grito transborde para todas as outras que ainda não deram o seu grito (de liberdade e independência). Até ser dona de casa pode rolar, mas tem que ser a sua opção, não pode ter preconceito com isso. Se for opção dela, tudo bem", conta.

MISTÉRIOS

Na trama, Adalgisa é irreverente, vaidosa, provocativa, dona de humor ácido e preciso, e tem uma sagacidade absurda. Mas esconde um lado mais soturno. "Ela tem uma tristeza grande na alma. Ela tenta tapar um buraco existencial nela. Bebe para esquecer a dor", afirma a atriz, que dá pistas sobre os mistérios da personagem. "Ela está envolvida na morte da personagem Anita (protagonista vivida por Thainá Duarte). Isso não tem como negar. Ela tem uma outra paixão, além do marido. É tão atual. Fico muito contente que ela tenha outro romance, sim, que é misterioso e no qual ela se sente feliz e realizada. Onde ela se sente mulher", diz. "No primeiro capítulo, Adalgisa está chorando e fala: 'Saudade', mas ninguém sabe do quê. Então, tem coisa por aí. Aquela mão (dela) machucada também está esquisita. Tem coisas que quero contar, mas não posso", completa.

Aos olhos da sociedade, Adalgisa e Geraldo são um exemplo de felicidade. Mas na intimidade, o casal vive um conflito velado. "Ela bebe e fuma, e ele tem uma relação complicada com drogas. Os dois têm válvulas de escapes, mecanismos de defesa. Espero que não hajam casais assim. Mas pessoas sós, com tristeza interna mesmo casadas, infelizmente existem, sim", finaliza.

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