Beatriz Damini fala sobre carreira e sua vida: 'Não me rotulo' - Daniel Castelo Branco
Beatriz Damini fala sobre carreira e sua vida: 'Não me rotulo'Daniel Castelo Branco
Por Isabelle Rosa

Rio - De tênis, meia com estampa de rosas, calça jeans, suspensório e camiseta vermelha. Foi assim que a atriz Beatriz Damini chegou à redação do jornal O DIA, na Lapa. Um visual bem diferente do que o público costuma vê-la, como Martinha, de 'Malhação - Toda Forma de Amar', da TV Globo. Durante o ensaio, ela fez caras, bocas e se divertiu ao inventar poses. O jeito moleca conquista. Mas é na entrevista que a atriz surpreende. Com um discurso firme e livre, no auge de seus 20 anos, ela dá uma aula de como é viver sem se importar com os padrões.

"Não me rotulo. Os rótulos para algumas pessoas vêm para ajudar. Hoje em dia, tem rótulo para tudo. Às vezes, até ajuda para você tomar um norte e tal. Mas usar disso para uma definição, acho muito perigoso. Sou a Beatriz sem definição. Pra que definição para as coisas? E é isso. Apenas viva, vista-se do jeito que você quiser, fale o que você quiser, desde que não ofenda ninguém, seja você e está tudo bem", encoraja.

Além do discurso, o visual de Beatriz chama a atenção. "Foi uma coisa que eu lutei muito para conquistar, que demorou muito. Porque eu venho de uma cidade do interior de São Paulo. Então, sempre foi uma coisa que alguém esperava que eu me vestisse, como eu me portasse. A partir do momento em que fui para o intercâmbio (nos Estados Unidos, em 2016), passei a olhar para as coisas com outros olhos. E lá, eu falei: 'Pera aí, posso ser exatamente o que eu sou, quem eu quero ser. E foi aí que fui moldando essa nova identidade. Um marco para mim foi quando eu cortei o cabelo, de fato", conta.

Mas não foi por causa do corte de cabelo que a atriz decidiu se vestir com roupas consideradas ‘masculinas’." “Não comecei a usar roupa masculina depois que eu cortei o cabelo, já usava antes. E, sim, rola um estranhamento das pessoas ao me verem com roupa masculina. Elas me confundem com menino na rua e é engraçado isso. Às vezes, até entro na brinca deira, porque quando falo que não (sou um menino), a pessoa tem um constrangimento. E eu não gosto de ver a pessoa passar por aquele constrangimento. Respondo normal, não falo que sou mulher. Não me incomodo, acho engraçado. As pessoas se incomodam muito com separação de gênero. É masculino ou é feminino. Aí, você confundiu os dois e as pessoas dizem: ‘Meu Deus, me desculpa’. Não, está tudo bem. Nem precisa disso. É uma coisa que a gente criou. Eu sou muito bem resolvida co migo mesma, então, nenhum rótulo é capaz de me ofender, de me reprimir”, avalia.

Quando o assunto é amor, ela não se limita nem mesmo a di zer sua orientação sexual. "Eu sempre estou amando. Estou em um momento fechada para balanço. Sou uma pessoa muito livre em todos os sentidos 
Se não gosto de rótulo, eu também não gosto de atribuir isso a nenhuma outra pessoa. Nunca vou olhar uma pessoa já com rótulo: ‘Você é uma mulher, heterossexual’. Não, eu olho aquele indivíduo, aquele ser humano. Às vezes, me perguntam: ‘Você namora menina, você namora menino?’ Eu namoro pessoas. Acho que tem um pou co isso, a gente rotula tanto que a gente diminui. Tem uma frase que diz: ‘Quando você rotula o fenômeno, você se afasta do fenômeno’. E é algo que eu abomino. Quero me aproximar dos fenômenos, da vida", diz ela.

A atriz ainda abre o jogo e fala como foi assumir para outras pessoas que ela gostava de pessoas e não, necessariamente, do gênero delas e aconselha quem deseja fazer o mesmo. "Eu tinha muito medo. De tudo. Você poder ser quem você é, é assustador, mas também libertador. A consequência de todo o sofrimento é uma libertação. A partir do momento que você passa por isso, o conselho é: seja íntegro o suficiente para poder ir até o final. Vai doer, não é fácil, mas é muito libertador no final", diz ela, que confessa ainda: "É muito libertador pra mim viver como eu sou. Até porque já fui assim, já estive num ‘buraco fechado escuro’. É muito cruel".

Mesmo sem rótulos, Beatriz sabe muito bem quem ela é. "Eu sou essa coisa aqui. Sabe uma coisa que pulsa? Muito, forte, que tem muita paixão e curiosidade pelas pequenas coisas, por tudo o que está ao meu lado. Acho que sou essa pessoa que pulsa muito e que quer conhecer e experienciar a vida ao máximo".

Preconceito

Por ter um estilo de vida livre, Beatriz conta que já sofreu preconceito. "Isso rola. A gente está em uma sociedade, infelizmente, que vem retrocedendo e é muito triste ver isso acontecer. A gente tem tantos artistas, tantas pessoas que batalharam muito pra conquistar um espaço pra gente. De repente, existem pensamentos que só colocam a gente em um buraco fechado e escuro. Isso é muito cruel com as pessoas. Qualquer tipo de pre conceito eu só olho com o olhar mesmo do perdão, desse sentimento de: ‘que péssimo para você sentir isso'", diz.

A atriz relata o retrocesso das pessoas, mas também frisa que hoje elas se assumem e se ajudam mais. "Sim, eu acho isso muito bonito. Acho que é a luz no fim do túnel. Ao mesmo tempo que muita gente está nesse ‘buraco escuro e estranho’, que não sei como é, por que faz muito tempo que eu saí de lá, tem pessoas que vêm exatamente pensando sobre isso, buscando maneiras de lutar, de fazer um mundo melhor", diz ela, que saiu do ‘buraco’ há apenas três anos. "Ah, mas eu já passei por tanta coisa que parece que faz muito tempo", diverte-se.

Corte de cabelo

Beatriz diz que era um desejo antigo deixar as madeixas bem curtinhas, mas que só tomou coragem após um acidente. "Queria cortar desde muito pequena. Só que eu nunca tive coragem. Um dia, eu desmaiei, caí e bati a cabeça. Abri a cabeça e fui para o hospital. A primeira coisa que eles fizeram para dar o ponto foi raspar um pedaço. No dia seguinte, fui com ponto na cabeça no cabeleireiro cortar meu cabelo e disse: ‘Tem que ser hoje, se não for hoje nunca mais vou fazer’. Fiz, amei, e foi um marco realmente de identidade, de  eu olhar no espelho e falar: ‘Nossa, agora sim’. Se reconhecer".

Empoderada

Com uma opinião forte, não dá para negar que a atriz é empoderada. "Me sinto desta forma, empoderada. Não digo que todos os dias eu me sinto assim, porque acho que todo mundo tem suas questões. Seria até injusto da minha parte eu sair pregando um monte de coisa. Sei que tudo é muito difícil. Uma das minhas lutas, que tive esses anos anteriores, foi construir esse amor próprio, essa blindagem de mim mesma, que é algo que a gente tem que construir todos os dias. O empoderamento vem muito disso também, de a gente poder se olhar, construir aquilo que a gente acre dita e se manter firme nisso".

Estreia na TV

Martinha é o primeiro papel de Damini na televisão, em ‘Malhação - Toda Forma de Amar’, da Globo. "Está sendo um desafio a cada dia, porque a Martinha é uma pessoa muito misteriosa. Pra mim também. Então, na hora que chegam os capítulos, eu me surpreendo, o que é muito legal. Me dá esse gosto de fazer o que estou fazendo, porque sempre sou surpreendida e tenho novos desafios. E eu adoro desafios. Ela é uma pessoa muito profunda".

Ícone acessível

Com um público adolescente grande, a atriz afirma que nota a presença deles em suas redes sociais. "É engraçado que eles misturam muito as coisas. Então, para muitos não tem a Beatriz, só tem a Martinha", afirma ela, que criou um Twitter para interagir mais com os fãs. "Criei um Twitter, e é muito legal conhecê los. Esses dias, fiz uma live no Instagram, e as pessoa entraram. Eles me chamam de ícone acessível, eu acho engraçado", brinca.

Atriz e cantora

Além de atriz, ela é cantora e mostra seus dotes musicais em seu Instagram. "Consigo conciliar muito bem. Gosto muito das duas coisas, são os dois amores da minha vida. Tenho pensado sobre o EP, tem música, já está pronto, só falta gravar. Acho que nesse ano deve sair".

Vida no Rio de Janeiro

Natural de Sorocaba, no interior de São Paulo, Beatriz fala sobre sua vida no Rio. "Eu estou achando incrível, porque aqui tem praia! Eu amo! Quando tenho dia de folga, vou conhecer praias novas", afirma ela, que mora na Barra da Tijuca, Zona Oeste da cidade. Mas a atriz diz voltar para suas origens do interior de vez em quando. "Eu gosto muito de lá, tenho várias florestas e posso fazer várias trilhas, então gosto muito por isso. Adoro a natureza".

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