Aula 'Proibidona', que acontece toda sexta-feira, na Lapa - Maira Matos/Divulgação
Aula 'Proibidona', que acontece toda sexta-feira, na LapaMaira Matos/Divulgação
Por Gabriel Sobreira

Rio - Toda sexta-feira, das 20h às 22h, aproximadamente 35 mulheres — de todas as idades, formas, cores e classes sociais — se encontram na Lapa (Rua Mem de Sá 35, próximo aos Arcos) para uma oficina de dança funk. Mas não é uma oficina qualquer. O projeto 'Proibidona' só toca músicas com teor sexual explícito em ritmo de batidão. Não precisa se inscrever, é chegar e rebolar sem pudor e com gosto — a aula custa R$ 50. A iniciativa faz parte do projeto Afrofunk Rio, comandado por Taísa Machado, que já dançou com mais de mil mulheres.

"Usamos o funk para treinamento sexual, a gente rebola muito, nessa direção de como poder usar isso em outros momentos", diz a carioca Taísa, de 30 anos. "As alunas falam: 'Meu namorado está adorando desde que comecei a fazer as aulas', 'estou muito melhor (na cama)'. Comecei a dar aulas em São Paulo e lá elas dizem: 'isso que a gente precisa', 'quero transar melhor', 'São Paulo precisa transar melhor'", acrescenta, aos risos.

CURA E LIBERTAÇÃO

Segundo a professora, a aula tem um 'Q' de terapia misturada com cura e libertação. "A gente tenta se destoar das ideias de padrão de corpo, para poder trabalhar essa sexualidade. E se descolar um pouco da hipocrisia", defende Taísa. A oficina não é nada convencional. Não existe uniforme, o dress code é short confortável e um cropped. Jeans não é recomendado. "Às vezes, elas esquecem o short e nem por isso deixam de dançar, fazem de calcinha, de body... Super de boa", conta a professora.

OFICINAS

O 'Proibidona' surgiu de uma paixão e pesquisa de Taísa por dança e funk. Quando ficou sem emprego e precisava de dinheiro, ela pensou em transformar toda a pesquisa em aula. Isso foi no final de 2014. A primeira aula foi divulgada na internet com um flyer despretensioso. Resultado: apareceram 35 mulheres. Taísa, então, percebeu que havia um nicho a ser explorado. Atualmente, ela tem outras oficinas, como 'Afrofunk Queer' (para o universo LGBTQI) e 'Afrofunk' ou 'Ancestralidade do Tamborzão' (que é mais genérica e menos sexual).

Nesses quase cinco anos de 'Proibidona', Taísa tem notado que o público vem mudando muito. No começo, as mulheres que apareciam tinham aproximadamente 30 anos e queriam aprender a dançar funk para arrasar na pista. Mas, de uns três anos para cá, o perfil das alunas se modificou. "É cada vez mais comum ter mulheres com mais de 45/50 anos", comemora a professora.

MUNDO AFORA

Além de São Paulo, Taísa já levou o projeto para Belo Horizonte (MG), Recife (PE), Cuiabá (MT), Brasília (DF), Poconé (MT) e até Buenos Aires, na Argentina. "A minha meta em 2020 é ir pra outros países", adianta ela, que sempre que dá aula fora do Rio pede que as alunas fechem os olhos e imaginem uma mulher dançando. Em seguida, a professora pede que elas descrevam o que pensaram.

"No começo do projeto era muito comum imaginarem mulheres bem novas, tipo 15/17 anos e magras. Agora, a resposta é: 'tem o corpo parecido com o meu'", comemora Taísa. "As mulheres estão quebrando, de verdade, esse padrão de corpo que inventaram para a dança brasileira, e principalmente para a dança sensual. Isso tem me surpreendido bastante, tenho aprendido muito. Virou uma jornada pessoal", acrescenta.

 

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