Por Juliana Pimenta

Na série, Carla diz que o auge do programa é o subúrbio, é Madureira. "A favela, os bairros de classe baixa e o subúrbio são muito ricos. A gente pode fazer vários programas sobre subúrbio, e ainda assim vai ter assunto, porque é um lugar com muitos textos, palavras e histórias boas. O subúrbio é real, autêntico e muitas vezes leva a gente para o humor. Porque o suburbano, o favelado e as pessoas de classe mais baixa usam o sofrimento para sorrir. Assim se vive e sobrevive", defende a atriz, que atualmente mora em Santa Teresa.

Vocação

Apesar da infância humilde, Carla sempre acreditou na carreira de atriz. "Desde criança, queria ser atriz, mas não tinha condições para fazer curso de teatro. E, mesmo que minha mãe pudesse pagar, não teria quem me levasse. Houve uma época em que eu não tinha boneca, aí pegava os sacos de arroz e feijão e usava como personagens para brincar de encenar. Ela até achava que ia ter que me levar em um especialista quando crescesse, porque pensou que tinha alguma coisa errada comigo. Era psicólogo ou teatro".

A atriz já tinha tido o talento reconhecido na adolescência. "Aos 14 anos, na escola, a professora de artes cênicas mandou chamar minha mãe e falou que eu era atriz. Ela disse: 'você tem que dar atenção para ela, tente investir daqui a uns anos. Sua filha é negra, tem cabelo crespo, é cheinha, mas sua filha é muito boa atriz'", conta.

Ela atribui o sucesso na carreira à mãe, Dona Iracema, que morreu há dez anos. "Eu tive uma mãe muito diva. Ela era empregada doméstica e falou que eu e minha irmã íamos ser o que nós quiséssemos. A gente morava numa casa muito simples, que não tinha nada. Ela catava muita coisa do lixo, pintava e reformava porque era muito inteligente, mente aberta. Ela sempre quis que a gente estudasse e fizesse uma faculdade, mas dizia que não poderia impedir a gente de sonhar", lembra.

Carla compara a mãe com a protagonista da trama. "Ela era a Paloma (Grazi Massafera). Gostava de ler livro, revista, jornal. Vinha no ônibus do trabalho lendo livro, chegava em casa e ainda cuidava da gente", conta a atriz, que também herdou o gosto pela leitura.

Sucesso na trama

Para Carla, a vida da protagonista de 'Bom Sucesso' é muito mais fácil e divertida graças aos cuidados de Lulu, que tem uma barraquinha de comes e bebes.

"A Paloma é sozinha, com três filhos, e não param de surgir problemas. A Lulu é a alegria e a autoestima. Ela é uma amiga que veio para balancear isso. A Paloma já teria surtado sem ela. Quando a Paloma não tem coragem, ela dá coragem, ajuda com as crianças. Ela é a alegria dessa família, nesse núcleo", defende a atriz, que vê nas personagens um reflexo de uma mulher real.

"As duas são mulheres bem brasileiras. Conheço muitas mulheres que criaram e formaram os filhos sozinhas, vendendo churrasquinho, tapioca. A mulher brasileira é muito guerreira e vive correndo atrás. A Lulu e a Paloma são assim", diz.

Ela aproveita para exaltar os colegas de elenco, que transformam o trabalho em diversão. "O Anderson (Müller, marido dela na trama) é comédia 24 horas por dia. Eu vou levar para vida, é meu amigo, meu irmão. E sobre a Grazi, ah, não tem ninguém mais simples na face terra. Do fundo do coração, ela é a mesma pessoa o tempo todo. Aliás, o clima com todo mundo é muito bom", comemora.

Racismo estrutural

Se em 'Bom Sucesso', Lulu foi vítima de racismo, as coisas não são muito diferentes na vida de Carla Cristina. A atriz, inclusive, defende uma reação mais assertiva em casos como esse.

"Na novela, ela foi até educadinha demais. Eu passei por isso agora no Carnaval e agi de forma diferente. Vim de Búzios e parei em um desses postos de estrada. Estava na fila para pagar, e duas pessoas vieram me pedir informação de maneira grosseira. Contei até dez e veio a outra pessoa me perguntando onde ficava o banheiro. Respondi: 'por que não pergunta para alguém que trabalha aqui?'", lembra Carla, chateada ao reconhecer que pessoas negras são sempre vistas como subalternas.

"Isso é muito atual. Fui bem grossa, mas porque as pessoas acabam se acostumando a agir assim. Geralmente se espera que a negra seja a faxineira. E é trabalho de todo cidadão reparar nisso e ver o que pode ser feito. Mas é importante a gente falar sobre isso, assim como é importante eu ter passado por essa situação", defende.

A atriz conta que vive episódios como esse desde a infância. "Quando criança, eu passei muito por isso. Já aconteceu de mãe de coleguinha que separava a gente na hora de almoçar. Eu almoçava na cozinha e minha amiga na sala assistindo televisão", lamenta.

Mas, em um cenário otimista, Carla diz ter percebido mudanças positivas por onde passa. "Minha novela, por exemplo, tem protagonista, colaborador, diretor e assistente de direção negros. Estamos com 17 negros no elenco. Então, as coisas estão andando", comemora.

Namorando há quatro anos, a atriz revela o desejo de adotar uma criança, sem distinção de cor ou idade. "Tenho vontade de ser mãe", diz.

Racismo estrutural
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E, se em ‘Bom Sucesso’, Lulu foi vítima de racismo, as coisas não são muito diferentes na vida de Carla. A atriz, inclusive, defende uma reação mais assertiva em casos como esse. “Na novela, ela foi até educadinha demais. Eu passei por isso agora no carnaval e agi de forma diferente. Vim de Búzios e parei em um desses postos de estrada. Estava na fila para pagar e duas pessoas vieram me pedir informação de maneira grosseira. Contei até dez e veio a outra pessoa me perguntando onde ficava o banheiro. Eu respondi: ‘por que não pergunta para alguém que trabalha aqui?’”, lembra Carla, chateada ao reconhecer que pessoas negras são sempre vistas como subalternas.

“Isso é muito atual. Eu fui bem grossa, mas porque as pessoas acabam se acostumando a agir assim. Geralmente se espera que a negra seja a faxineira. E é trabalho de todo cidadão reparar nisso e ver o que pode ser feito. Mas é importante a gente falar sobre isso assim como é importante eu ter passado por essa situação”, defende a atriz que vive episódios como esse desde a infância. “Quando criança, eu passei muito por isso. Já aconteceu de mãe de coleguinha que separava a gente na hora de almoçar. Eu almoçava na cozinha e minha amiga na sala assistindo televisão”, lamenta.

Mas, em um cenário otimista, Carla diz ter percebido mudanças positivas por onde passa. “Minha novela, por exemplo, tem protagonista, colaborador, diretor e assistente de direção negro. Nós estamos com 17 negros no elenco. Então, as coisas tão andando”, comemora a atriz.
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