Rio - Educar as meninas para que enfrentem o machismo e consigam seu espaço não é tarefa fácil. Afinal, até poucas décadas atrás, a ideia de que o homem tinha mais privilégios do que a mulher era amplamente disseminada e repassada de geração para geração, inclusive pelas mulheres de forma estrutural. Apesar das mudanças nos tempos atuais, a desigualdade ainda é visível e sentida entre os gêneros e o mesmo acontece na hora de educar. "É preciso que todos nós fiquemos atentos ao que propagamos, ainda que inconscientemente. Quantas de nós, ao comprar um presente para crianças, pensamos em bonecas para as meninas e bolas para os meninos? Ou matricular a menina no balé e o menino na luta? Para mudar esse quadro, precisamos desconstruir tudo o que a sociedade nos ensinou sobre o que é para 'eles' e para 'elas'", explica a psicóloga Ellen Senra.
Francisco, de quase 5 anos, aprende desde muito cedo que todos devem ser tratados da mesma forma. A mãe, Fabiane Barbosa, grávida de 9 meses de Elis, tenta sempre passar para ele a importância de respeitar as pessoas, especialmente as meninas. "Dou exemplos claros para a idade dele, como não beijar a coleguinha sem permissão, mostro que não existe coisa de menino e menina", conta. "Minha filha terá a mesma direção na educação, sendo sempre incentivada por mim, pelo pai e o irmão a buscar o que deseja. Sei que será um caminho mais difícil, pois vivemos em uma sociedade que ainda coloca a mulher em segundo plano. Mas acredito que estamos dando importantes passos pela conquista do nosso espaço. Espero que ela tenha uma caminhada mais fácil que a da minha geração", complementa.
Mas como praticar, de fato, o conceito de desconstrução? Mayara Martins, do Projeto Semear, que fala sobre empoderamento feminino e que tem campanhas sobre o tema voltadas para crianças e adolescentes, pontua que um caminho interessante é atuar com a criança em três áreas distintas, mas correlacionadas. "A primeira é a auto confiança. Se sua filha crescer achando que merece menos que o homem, sempre se contentará com menos. A segunda é fortalecendo sua autoestima. Quando ela tem consciência de suas qualidades, tende a reconhecer seu valor mais cedo e, assim, ajudar outras meninas a fazerem o mesmo. E a terceira, mas não menos importante, é o diálogo. Mostre para a criança que você a enxerga como mulher e capaz. E procure exemplificar o que está dizendo, usando como ganchos casos midiáticos para propor e expor debates a respeito do assunto, como uma atriz mirim que tenha conseguido o papel de destaque no lugar de um menino, ou uma aluna ganhadora de prêmios que foram disputados também por garotos", comenta.
Viviane Duarte, fundadora do Instituto Plano de Menina, que capacita meninas a serem líderes do futuro e está presente em 10 estados brasileiros, lembra, também, que as escolas têm papel importante nesse empoderamento das meninas desde crianças. "Educadores ainda reproduzem padrões machistas e falas que segregam. É necessário e urgente que haja uma conscientização destes para promover a igualdade de gênero dentro da sala de aula", diz. Além disso, ela levanta outra questão igualmente importante dentro de famílias com irmãos de sexos diferentes. "É preciso dividir tarefas sem considerar gênero. Meninos lavam louça, varrem a casa e fazem comida, assim como as meninas podem arrumar a cama ou a garagem da casa", enfatiza. E complementa: "Pais de meninos devem parar de incentivar seus filhos a mexerem com mulheres na rua para provar masculinidade. Isso já é um grande passo".
E uma última informação: atualmente, existem projetos dentro do Plano de Menina que promovem a autoestima das meninas e a capacitação para serem donas de suas vidas, como as rodas de conversa com meninos para que possam construir um presente e futuro de equidade e o Programaria, que incentiva meninas na tecnologia. Mais informações em https://planofeminino.com.br/plano-de-menina/
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