
Pensando na saúde do meu filho, aceitei manter a distância na quarentena
Texto de Cris di Leva, jornalista
Costumo dizer que minha vida mudou depois que me tornei mãe. Meu filho realizou meu grande sonho, mas também é o responsável por alguns fios de cabelos brancos. O Marco é a minha vida. Ao abrir os olhos pela manhã, ele é o meu primeiro pensamento, e ao deitar, motivo de minhas orações. E agora, em tempos de coronavirus, quando tudo se torna incerto, as minhas preocupações com ele aumentam.
Como ele não mora comigo, penso em como irei fazer quando tudo isso passar, se terei condições financeiras para criá-lo e educá-lo. Mas, durante toda essa pandemia o que não sai da minha cabeça é a preocupação em relação à minha saúde e à saúde do meu filho.
Não sou mais tão jovem, tenho histórico de bronquite na infância, sou ex-fumante, e confesso que estou com muitos quilos a mais. E tudo isso me coloca no grupo de risco. Uma gripe para mim já é um desafio - ainda em março, me senti gripada, tive falta de ar e meu peito doeu muito. Já não sei mais se é ansiedade ou se realmente sou mais uma vítima da covid-19. Fato é que aderi a quarentena, ao isolamento social, e só saio de casa para o necessário. Coisa que não aconteceu, após o início do isolamento.
O Marco, hoje com 10 anos, mora com o pai em Indaiatuba, interior do estado de São Paulo, próximo a Campinas. Uma hora e meia e 109 quilômetros nos separam desde que ele tinha 3 aninhos de idade. Não, não foi por minha vontade, foi uma decisão judicial que nos separou, mas hoje já não me prendo mais a isso. O importante é ele estar bem, comigo ou com o pai. Essa distância, claro, sempre foi muito difícil para mim. Me preocupo diariamente com ele, fico pensando se ele dormiu bem, se comeu, o que comeu, como foi na escola e como está a saúde. Mas hoje, com o que estamos vivendo, tudo parece ainda mais difícil. O fato deste vírus estar entre nós, e não sabermos quem já está contaminado e quem não está me deixa agoniada.
Converso sempre por telefone com ele. Ultimamente, inclusive, faço questão de conversar por vídeo, para analisar cada detalhe: se o nariz está escorrendo, se os olhos estão vermelhos, ou se ele se mostra gripado ou resfriado. As preocupações só aumentaram. E o medo deste inimigo invisível é cada vez maior.
No interior, a decisão da prefeitura em fechar escolas e comércios foi mais tardia, e até o dia 24 de março tudo ainda estava normal: meu filho indo para escola; meu ex marido, que é dentista, entrando e saindo de casa; e a família convivendo normal com familiares e amigos. E isso aumentava o meu medo, é claro. Em março, meus finais de semana foram em casa sozinha, não saímos, não vimos os primos, amigos e nem familiares. Não tenho contato físico nem com meus pais. E, assim, chamadas de vídeo e conferência com a família viraram uma constante.
Mas em abril, um bálsamo, conseguimos nos reunir. Meu filho veio para São Paulo passar uns dias comigo, porque a escola antecipou as férias. Ficamos vários dias grudados como nunca estivemos antes. E como não temos outra distração, como idas ao shopping, cinema ou parques, tivemos que nos adaptar ao “fique em casa”. Conseguimos passar o domingo de Páscoa juntos, porém longe dos avós maternos. Mas nesses poucos dias, aproveitamos cada momento, beijo e abraço. Jogamos videogame juntos, fizemos artesanato e coisas que, com a vida corrida, nunca havíamos feito antes. Mas depois da Semana Santa, ele voltou para o pai. E a palavra saudade novamente passou a fazer parte do meu dia a dia. E enquanto não chegar o próximo encontro, vou tentando ter meu filho perto de mim de outras formas, seja pela lembrança de sua presença, pelo seu cheiro que não sai da minha memória, pela voz dele que insiste em ecoar nos meus ouvidos ou por sua imagem pela tela do celular.