Desenvolvimento do bebê - Dri Maciel Fotografia
Desenvolvimento do bebêDri Maciel Fotografia
Por O Dia
Rio - Luiza Castro tem dois filhos, um com 7 e outro com recém-completados 2 anos. O primeiro, já na escola, apesar de estar entediado com o isolamento, tem participado das aulas online diariamente, ajuda a arrumar e cuidar da casa, às vezes tenta auxiliar os pais que estão trabalhando em home office e tem seus próprios hobbies. Mas o mais novinho, sem total noção do que está acontecendo, muitas vezes dá sinais de ansiedade e estresse causados pelo confinamento: está com o sono desregulado e agitado, grita muito, não desgruda dos pais - especialmente da mãe.

O quadro acima mostra uma diferente normalidade dentro das famílias com crianças. Com rotinas totalmente modificadas por conta da covid-19, muito tem se falado sobre como entreter as crianças nesse período de pandemia. Porém, além das brincadeiras e passatempos, outro aspecto tem chamado a atenção dos pais e responsáveis: o desenvolvimento dos filhos que têm entre 0 a 3 anos.

A psicóloga e psicomotricista Cristine Lima dos Santos explica que os pais precisam saber que agora é a hora de eles se dedicarem aos filhos quanto ao desenvolvimento da parte psicomotora. “Se tiver um irmão ou uma irmã, melhor ainda, mas a palavra de ordem é criar. Não precisa ter muito espaço para fazer uma linha de fita crepe no chão ou um zigue-zague e brincar com a criança de andar sobre ela. Atividades de colorir, seja com lápis de cor, giz de cera, tinta guache ou o que for, também são ótimas para isso. Bambolês, peças de encaixes, vale até recorrer a uma caixa de sapato e tentar acertar uma bola de meia dentro dela. O importante é estimular a criança, porque se ela está dentro de casa e não pode sair, então, é dentro de casa que ela irá ter o incentivo psicomotor. E hoje temos a internet, com inúmeras dicas de atividades e sugestões de como lidar com isso, que os pais podem e devem recorrer”, comenta.

A também psicóloga Ellen Moraes Senra, especialista em Terapia Cognitivo Comportamental, lembra, ainda, que como com a Pandemia as crianças ficam com o espaço limitado, especialmente as que moram em apartamento, elas acabam não podendo explorar brincadeiras distintas, como em parquinhos por exemplo.
“Por isso, os pais precisam lançar mão da criatividade e recorrer a jogos e atividades que as façam se movimentar. Se não houver estímulo em casa, pode ser que haja algum atraso, mas nada que não possa ser recuperado depois. O que fica mais prejudicado realmente é a interação social e o senso de autonomia que nessa idade estão sendo desenvolvidos. Pode ser que o processo de desfralde também atrase um pouco. Então, os pais precisarão ter ainda mais paciência e compreender que o cenário se modificou”, complementa. Já em relação a algum comprometimento intelectual, ela acredita que as crianças pequenas que já frequentem creche ou escolinha podem se esquecer de algumas habilidades e associações que já faziam, o que pode ser um inconveniente. Porém, os responsáveis que estiverem em casa podem usar a criatividade para reforçar essas habilidades, desde que estejam por dentro do que a criança já sabe.

Outra situação bastante comum nesse período é o excesso de mimo que os pais acabam cometendo por estarem 24 horas por dia com os filhos. Ellen comenta que é preciso cuidado, embora entenda que seja difícil administrar. “Por estarem integralmente com um ou ambos os responsáveis, a criança pode acabar ficando mais dependente do que o habitual. Além disso, para facilitar esse cotidiano tão novo, os pais podem acabar cedendo mais que o normal em algumas situações. Portanto, é compreensível que façam mais as vontades dos filhos vez ou outra, mas é fundamental também tentar deixá-los ter alguma autonomia”, conclui.

Desenvolvimento motor
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Enio Funchal, fisioterapeuta e professor do curso de Fisioterapia da Pontifícia Universidade Católica do Parana (PUCPR), explica que a faixa etária de 0 a 3 anos e considerada uma fase sensório-motora. Ou seja, para que a criança se desenvolva, precisa se relacionar as questões sensoriais, especialmente ao tato, a visão e a audição. “Por isso, e importante que seja estimulada sempre de forma lúdica, por meio de brincadeiras com objetos que possa manusear e levar a boca para reconhecer o tamanho, a textura, a temperatura e o gosto, entre outros aspectos; com elementos sonoros, que a faca procurar o som; e com pecas coloridas, que sejam de fácil observação. Inclusive, se o mesmo brinquedo tiver essas três coisas ao mesmo tempo, e ainda melhor”.

Para Patricia Daniele de Arruda Fodra, fisioterapeuta com especialização em Fisioterapia Pediátrica e Neuro Pediatria, é fundamental que os pais estimulem as crianças a todo momento. Na hora que forem comer, devem orientar para uma alimentação independente a partir de 1 ano e meio (segurando a colher). Na hora de brincar, devem escolher brinquedos visuais e auditivos (estímulos sensoriais) e colocar uma função na brincadeira, para que, assim, também trabalhe a disciplina, regras e limites. Já na hora do banho, devem estimular e orientar a criança a se lavar de forma sozinha - com supervisão de um responsável, é claro. “Seria interessante, também, criar o hábito de meditação, que ajuda muito a diminuir a ansiedade que o isolamento está acarretando nas crianças”, acrescenta.

Um outro ponto importante lembrado por Patrícia é em relação a algum tipo de comprometimento motor pelo fato de estarmos há tanto tempo em quarentena – e sem uma definição sobre quando será possível voltar a normalidade. “Existem estudos que mostram que já houve um aumento da obesidade nas crianças nesse período de isolamento. E, com isso, vem o atraso motor e outros atrasos, assim como algumas manifestações emocionais”, diz.
Ou seja, além da parte motora em si, os responsáveis não podem esquecer de manter uma rotina alimentar que não prejudique o corpo da criança, já que muitos estão abusando das guloseimas nesse período. Já a fisioterapeuta e osteopata Isis Badini faz outro alerta importante: apesar dos pequenos terem predisposição para brincar e se movimentar, os dispositivos tecnológicos, como celulares, computadores, tablets, videogames e TV, podem acabar chamando mais a atenção nesse momento do que devem. Por isso, é importante que esse uso seja limitado e que não passem grande parte do dia envolvidos com esses aparelhos. "Crianças que ficam muito tempo grudadas em uma tela podem apresentar atrasos no desenvolvimento, além da aquisição de maus hábitos de difícil reversão no futuro", declara.

Os pais devem ter cuidado em relação às posturas durante essa fase. Abaixo, o professor Enio explica as posições indicadas de acordo com cada etapa da vida do bebê:

- “De 0 a 3 meses, e importante que as crianças sejam mantidas, sempre que possível, de barriga para baixo. Dessa forma, e antecipado o controle cervical da criança".

- "Dos 4 ate os 7 meses, podem ser incentivados os movimentos de rotação para um lado e para o outro, pois irão preparar a forca e o controle do tronco".

- "A partir dos 6 meses, a criança possa sentar-se sem apoio. Depois de sentada, ela vai dominar a posição, se virar, se arrastar, se preparando para a posição de quatro apoios, chamada gatas, que deve acontecer dos 8 aos 10 meses".

- "No décimo mês, a criança já pode começar a engatinhar. E dos 10 aos 12 meses e a fase do início da marcha, em que ela começa a caminhar com apoio e depois deambula sem apoio. Vale lembrar que nessa faixa etária e importante que a criança seja mantida sobre um cobertor ou tatame, para que brinque ao seu redor, indo atras dos brinquedos, e não como muitos pais acabam fazendo, que e colocando a criança fixa em um canto com os brinquedos na mão".

- "A partir de 1 ano até os 3, serão trabalhados outros conceitos psicomotores importantes, como o reconhecimento do próprio corpo e o desenvolvimento de sua própria estrutura espacial, quando vão reconhecer os termos espaciais como ‘perto’, ‘longe’, ‘pegar’, ‘soltar’, ‘levar’, ‘trazer’, ‘dentro’, ‘fora’, ‘ir’ e ‘vir’ etc. Também e nessa época que as noções temporais passam a ser trabalhadas, como ‘cedo’, ‘tarde’, duração dos períodos de intervalos etc. Inclusive, existe uma serie de brincadeiras que podem ser feitas na tentativa de desenvolver esses conceitos”, detalha. Ele indica pintar, desenhar, riscar, manusear objetos pequenos, colocar e tirar itens de dentro de caixas, empilhar brinquedos, colocar em ordem crescente de tamanho e trabalhar todos os conceitos psicomotores associados a habilidades manuais. Já em relação às habilidades motora grossas, são indicadas as brincadeiras de pular para frente, para trás, ficar em um pé só, roda, bambolê e atividade com bola e de equilíbrio. O especialista também enfatiza a relação direta existente entre os estímulos motores e o desenvolvimento emocional e cognitivo.

E um lembrete final para os pais e responsáveis, mas não menos importante: este é um período totalmente novo para todos. Portanto, não se culpe se em alguma situação se sentir perdido sobre o que, quando e como fazer algo. Caso tenha alguma dúvida, procure ajuda. Além disso, se em algum momento perceber que vai perder a paciência, pare, respire fundo e se acalme. Afinal, é a primeira vez todos estão integralmente em casa, se equilibrando entre as funções como pais, organização da casa e trabalho em home office.