Taís Araujo - Reprodução
Taís AraujoReprodução
Por Juliana Pimenta

Rio - "Mãe, liga a televisão pra mim que eu tô entediada?". Foi assim que Maria Antônia, de quatro anos, surpreendeu a mamãe Taís Araujo durante a entrevista. "Ela está adorando, acha que está de férias. Quer brincar o tempo todo e não entende muito bem quando eu digo que estou trabalhando", explicou a atriz que, de casa, divide a agenda de compromissos com a atenção das crianças.

"Eles ficam super entediados, mas variam muito. Eles têm idades bem diferentes. O João acabou de fazer 9 anos e, para ele, é mais complicado. Ele é um menino que ama estudar, ir para a escola e encontrar os colegas. Então ele está sentindo muita falta nesse sentido. Mas, no mais, eles estão igual à gente: tentando viver um dia após o outro", conta Taís, que anseia pela volta das gravações.

"A gente quer ter a nossa vida de volta. Basicamente, para uma pessoa que trabalha desde pequena igual a mim, ficar tanto tempo sem trabalhar não é bom. Eu não me reconheço sem estar trabalhando. Claro que eu quero voltar, mas a gente tem que voltar em segurança. Não adianta a gente ficar ansioso enquanto os números não caem, com esse monte de perdas e com uma abertura que não é organizada. Desse jeito, a gente fica à mercê do que vai acontecer", argumenta a atriz, que não sente saudades de ir para a rua.

"Eu vejo o povo correndo para ir à praia e ao shopping. Parece que a praia ou o shopping vão sair do lugar. Eu não tenho fogo de ir pra rua, então eu não entendo isso. Eu até achei que era 'rueira', mas não. Tudo bem que eu moro em uma casa confortável, onde eu vejo o céu, a lua… Talvez se eu morasse em um apartamento, eu sentisse falta de sair de casa. Mas eu sinto falta, claro, dos meus pais e dos meus amigos, mas sem pandemia eu posso recebê-los em casa", revela Taís.

Produções da TV

No ar em 'Aruanas', série da Globoplay, que começou a ser veiculada na TV aberta durante a pandemia, Taís elogia a bagagem que ganhou com a série, que denuncia a devastação da Amazônia. "O meu principal aprendizado foi sobre consciência ambiental e não só consciência em si, mas que ela tem que ser transformada em ações. E também saber que a maneira que a gente aprendeu a viver é o contrário da conservação, é como se tudo fosse renovável, como se o lixo fosse evaporar. A gente vive sem pensar nas consequências de como a gente vive, de como a gente desperdiça e de como a gente gasta", defende a atriz, que faz um paralelo entre as suas duas personagens Verônica ('Aruanas') e Vitória ('Amor de Mãe').

"Eu só estou pegando pedreira. Mas pedreira boa. Quanto mais complexo e difícil os personagens são, melhor pra gente. De similaridade tem a profissão, são duas advogadas, duas mulheres competentes e muito independentes. Mas cada uma de um lado da causa. A Vitória advogada para o mercado e a Verônica é contra o sistema. Já na vida pessoal, a Vitória é imensamente mais livre do que a Verônica. A Verônica é muito dura, muito fechada e até com as amigas, ela tem um limite de entrega", compara a atriz, que confessa não saber quando as produções voltam ao ritmo normal.

"A gente não sabe de nada agora: quando vamos gravar a segunda temporada da série ou quando volta a novela. Mas é uma questão séria, como é que eu vou pegar um avião para ir gravar nesse momento? Eu não sei como será essa volta, mas o que eu fico torcendo é que a novela volte antes de 'Aruanas' e eu consiga fazer as duas ao mesmo tempo".

Militância e igualdade racial

Desde que a primeira temporada de 'Aruanas' foi gravada, os problemas ambientais no Brasil se agravaram ainda mais. Taís entende que a série se mantém atual, mas lamenta os motivos. "Esse é momento propício para colocar o tema em debate. Essa série não poderia vir em melhor hora. Mas o Lázaro (Ramos, marido) sempre comenta que a nossa peça 'O Topo da Montanha' fica cada vez mais atual e isso é horrível. Ver que a gente continua denunciando os mesmos problemas só significa que as coisas não estão melhorando", defende a atriz, que ainda tenta absorver as consequências da explosão do movimentos de valorização das vidas negras no Brasil e nos EUA.

"Eu ainda não sei o que vai acontecer. Eu queria muito ter uma resposta, mas não tenho. Eu acho que as pessoas se sensibilizaram sobre o assassinato do George Floyd porque realmente foi uma cena muito chocante: um homem adulto, gritando pela mãe e pedindo para respirar. Muita gente que viu o vídeo sentiu vontade de ir lá e gritar para aquele policial sair de cima daquele homem. E é claro que, sobre o racismo, parece que uma boa parte da sociedade se mostra sensibilizada a partir de então. E eu, que tenho dois filhos negros, quero continuar lutando. Mas acho que a gente só vai ter resposta desses movimentos daqui um tempo", argumenta.

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