Com a reabertura dos espaços, todo cuidado é pouco com as crianças - Divulgação
Com a reabertura dos espaços, todo cuidado é pouco com as criançasDivulgação
Por O Dia
Rio - Nas últimas semanas, várias cidades do país começaram a flexibilizar a quarentena e as famílias têm tentado voltar à rotina que conheciam antes de março e do início da pandemia. Shoppings voltaram a funcionar, parques reabriram seus portões e até as praias têm recebido visitantes para “apenas um mergulho” – embora este detalhe ainda seja proibido. Entretanto, a não descoberta da vacina ainda faz das ruas um campo minado. Afinal, a possibilidade de contágio existe e é real. Essa nova realidade também tem feito muitos pais afrouxarem um pouco o controle sobre o isolamento dos filhos, cansados de ficar trancados por meses em casa. Mas a grande questão sobre voltar a sair com as crianças é até que ponto esses locais oferecem algum tipo de risco e como os responsáveis devem agir para proteger os filhos.
Soraya Regina Abu Jamra, professora da Estácio e médica especialista em pediatria, alergia e imunologia pediátrica, pontua que, antes de sair, é importante que as crianças sejam esclarecidas sobre a situação de pandemia, para que não fiquem no escuro. “Os pais precisam explicar para seus filhos sobre o coronavírus e suas formas de contágio, por meio de linguagem clara e direcionada para cada faixa etária. As crianças devem ser orientadas sobre a importância de lavar bem as mãos com água e sabão e evitar ao máximo o contato das mãos com o rosto (olhos, boca, nariz, principalmente). Elas também precisam saber que, em ambientes fora de casa, é importante evitar encostar em objetos em geral, e, caso isso aconteça, será necessário limpar as mãos com álcool em gel”, explica.
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A pediatra do Grupo Prontobaby, Patrícia Rezende destaca alguns pontos que precisam ser abordados com as crianças. “É importante falar sobre não mexerem nas máscaras, não irem em brinquedos e não brincarem com outras crianças”, comenta. Além disso, lembra ela, ao voltarem para casa após o passeio, o ideal é que tenha uma área delimitada na entrada, onde todo mundo possa, ali mesmo, tirar a roupa, colocar para lavar e ir direto para o banho. “Mas se não for possível, lave pelo menos as áreas expostas como os braços. Também é importante lembrar de higienizar frequentemente as maçanetas, as chaves. Os sapatos devem ficar do lado de fora quando chegar em casa. A água e o sabão higienizam tão bem quanto o álcool. Então, dentro de casa não há necessidade do uso do álcool gel, a gente pode reservá-lo para usar na rua”, completa. 
Sair ou não sair, eis a questão?
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A maioria dos pais, embora reticente sobre sair de casa, sabe que a saúde mental dos filhos está abalada. Afinal, se para adultos está difícil manter o isolamento, para os pequenos é ainda mais complicado. Para Patrícia, como muitas crianças estão com o emocional abalado, vale a pena investir nesses passeios ao ar livre. Já para outras que estão bem adaptadas - algumas têm quintal em casa ou uma área aberta -, a recomendação continua sendo, para quem puder, ficar em casa. Silvana Fahel, pediatra do Grupo Sabin Medicina Diagnóstica, destaca que todas as saídas desnecessárias devem ser evitadas. “Até um ano de idade, o mundo é a casa delas.
Então, elas toleram relativamente bem o isolamento. Para os maiores, se a família sentir que precisa diminuir o estresse, a recomendação é que procure espaços abertos sem aglomeração para atividades ao ar livre. Lembrando que máscaras só acima de dois anos”, diz.
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Soraya lembra também que é muito importante para crianças e adolescentes a prática de exercícios, o contato com a natureza, tomar sol e brincar. Todas essas medidas são importantes para a saúde física (efeitos positivos sobre o sistema imunológico), mental e emocional, aliviam o estresse e promovem alegria, tão essencial nesse momento de distanciamento social.
Desta forma, fazer passeios depois de tanto tempo trancado, desde que tomadas as medidas de isolamento social e de higiene, trazem grandes benefícios. Porém, a médica não indica que recém-nascidos saiam, mesmo fora do contexto de pandemia, porque eles têm o sistema imunológico pouco desenvolvido e correm mais risco de pegar uma infecção. “Então, sempre é recomendado que os pais evitem levar os recém-nascidos a aglomerações. Após os seis meses, já é possível levar a criança para andar de carrinho em um parque ou praça, desde que seja respeitado o distanciamento e evite-se aglomerações”, determina.
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Já para as crianças que querem sair, mas estão com medo, por já entenderem melhor o momento que estamos passando, é importante que os pais expliquem que os riscos existem, mas que todos os cuidados estão sendo tomados para minimizá-los. É preciso passar tranquilidade, conversar, dizer com verdade o que está acontecendo, tirar todas as dúvidas que as crianças possam ter sobre o coronavírus e enfatizar que, tomando todos os cuidados, o risco de contágio é baixo.
Existe um local melhor para levar crianças?
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Embora tudo esteja sendo reaberto, uma questão frequente é sobre onde ir para evitar ao máximo o contato com outras pessoas e possíveis transmissões. Para começar, qualquer local com chance de aglomeração deve ser evitado – e, mesmo os que estejam vazios, demandam cuidados, seguindo as orientações básicas de higiene de mãos, uso de máscaras, distanciamento de 2 metros entre pessoas não familiares, entre outros protocolos constantemente informados pelos órgãos oficiais. Outra prática importante é, sempre que possível, higienizar as superfícies que serão usadas por todos e fazer pausas para lavar as mãos dos adultos e crianças - com água e sabão ou usar álcool gel.
Uma dúvida comum é sobre o período que o vírus permanece vivo em superfícies. Soraya explica que esse tempo é variável e, também por isso, é recomendável intensificar a limpeza dos brinquedos de parquinho e bancos, além de higienizar as mãos sempre após tocar superfícies. “Luvas não são recomendadas, pois as crianças podem tocar locais contaminados e colocar a mão no rosto, sendo, então, preferível a lavagem frequente das mãos”, complementa.
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Mas é preciso fazer um alerta importante: mesmo tomando todas as precauções, muitas vezes, o controle total da situação não será possível. Parquinhos ao ar livre, por exemplo, que deveriam ser mantidos higienizados pelas prefeituras ou outros órgãos governamentais, na prática dificilmente vão manter essa limpeza em tempo integral. “Se a criança for no balanço, por exemplo, os pais devem limpar suas mãos em seguida com álcool gel. O problema não é colocar as mãos nos brinquedos ou sentar, mas, sim, colocar as mãos no rosto em seguida.”, pontua Soraya. Para a médica do Grupo Prontobaby, o ideal seria procurar parques abertos, mas sem brinquedos, para que a criança possam correr. “Se for a algum parque com brinquedo, é importante que a mãe leve lenço descartável e borrife álcool para higienizar porque outra criança pode ter usado há pouco tempo o brinquedo e deixado contaminado”, complementa.
Outra preocupação frequente é em relação às crianças pisarem descalças na grama ou na areia, além de sentarem no chão, quando forem a parques e praias. Para Patrícia, andar descalço não só pode, como deve, já que contato com a natureza deve ser estimulado sempre que possível. “O único cuidado é quando acabar a brincadeira, limpar os pés antes de sair. Não por conta do coronavírus, mas por causa de verminoses etc”, diz. Quanto às crianças que gostam de sentar no chão e na grama, ela explica que o vírus sobrevive muito pouco tempo quando está batendo sol. “Então, as crianças podem correr no chão e na grama descalços, pois isso ajuda a manter o sistema imunológico mais forte”, comenta. Quanto aos piqueniques em ambientes abertos, estes são ótimas opções de entretenimento e estão liberados.
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Mas, na hora de comer fora, o ideal é levar algo de casa que seja preparado por pessoas conhecidas e que mantenham todos os cuidados de higiene. “A alimentação da sua própria casa costuma ser a mais adequada, principalmente para as crianças. Se for necessário ir a um restaurante, deve-se ir a local já conhecido e no qual o distanciamento social e os cuidados com proteção estejam vigentes”, pontua Fahel.
Já em relação aos shoppings, embora tenham recebido autorização para reabrir, é preferível que sejam evitados. “Locais de recreação ao ar livre, como parques, praias e praças, são preferíveis aos shoppings, cinemas e teatros, pois possuem melhor circulação do ar e mais facilidade para manter o distanciamento, reduzindo, assim, o risco de contágio”, lembra Soraya. Patrícia também pensa o mesmo sobre os malls, que apesar de já estarem funcionando, idealmente, é bom evitar porque são lugares fechados. “O ar ali dentro fica circulando por sistemas fechados. Então, o vírus pode circular por mais tempo”, complementa.
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A verdade é que este processo de reabertura dos espaços precisa de muita cautela e atenção redobrada, e que controlar as crianças neste momento realmente não será uma tarefa fácil, especialmente pelo fato dos pequenos estarem tão acostumados a ficar em grupo e muitos não entenderem a necessidade do distanciamento social. Portanto, caberá aos pais e demais responsáveis avaliar a real necessidade de sair de casa e equilibrar os prós e contras na hora de expor os filhos às ruas.