Crianças cultivam horta: nova prática durante isolamento socialDivulgação
Por O Dia
Publicado 12/07/2020 14:44
Nos últimos meses, muitas famílias passaram a adquirir novos hábitos em casa, devido ao isolamento. Além da rotina de estudos e trabalho em home office, os pais tiveram que se reinventar e, junto com as crianças, definiram novas atividades, entre brincadeiras, tarefas domésticas e alguns ensinamentos que certamente levarão para o resto da vida, como o de mexer com a terra – e, consequentemente, plantar os próprios alimentos.
Hortinhas e lições sobre jardinagem não são exatamente práticas novas para os pequenos de uma forma geral. Mas, atualmente, o contato com a terra tem chamado a atenção da garotada para além de um passatempo: eles estão entendendo a importância desse hábito para a qualidade de vida e como ele pode impactar no futuro do planeta.
Para a paisagista Marisa Cantù, o contato das crianças com o mundo verde é extremamente benéfico, ainda que seja com tarefas simples, como regar uma planta, mexer com a terra, acompanhando o crescimento ou até, em algumas vezes, vendo a planta morrer. “Essas ações, que parecem singelas, ajudam os pequenos a entender uma série de sentimentos como responsabilidade, alegria, curiosidade, segurança, autonomia e tristeza, emoções, estas, que fazem parte do crescimento da criança e que são pura vivência”, diz. “E nesse período de confinamento, em que as pessoas precisam parar, respirar e refletir diante do caos, o contato com a natureza ajuda a nos confortar. Algumas pessoas estão experimentando esse contato com o verde pela primeira vez, mas acredito que essa experiência, ou a retomada desse contato, continuará no pós-pandemia”, completa.
Laís Fleury, coordenadora do programa Criança e Natureza, do Instituto Alana, e cofundadora da Associação Vaga Lume, explica que os filhos têm naturalmente esta necessidade biofílica de estar em contato com a natureza. E nesta época de isolamento social, em que as crianças têm sentido muita falta deste contato, um bom jeito de oferecer interação é cultivando plantas em casa. "O contato com a natureza traz benefícios diretos à saúde da criança e contribui para o seu desenvolvimento intelectual, social, emocional, espiritual e físico. A criança está em uma fase de desenvolvimento muito aberta aos estímulos sensoriais. E o contato com a terra se revela como um fluxo contínuo de criação. É possível modelar, sentir cheiro, experienciar diferentes texturas", esclarece.
Na casa de Tatiana Sondahl, mãe de Arthur e Luana, de 9 e 11 anos, o hábito de literalmente mexer com a terra já acontece há muito e começou bem antes da pandemia. Porém, com o isolamento, as crianças ficaram ainda mais dedicadas. “Como estamos o tempo todo em casa, eles têm ajudado mais, pois distribuímos as atividades entre a família toda. Arthur passou a ser responsável pela piscina e a Luana pelo jardim de uma forma geral. Mas na hora de cuidar das árvores frutíferas e da horta com temperos, os dois fazem questão de participar”, conta. E não é de se estranhar mesmo, já que o quintal tem pés de acerola, jabuticaba, laranja, uva, amora, pitanga e romã, e uma horta com vários temperos. “Além desse contato com a natureza, que os faz entenderem a importância de cuidarmos das plantas etc, eu ainda converso sobre o privilégio que temos em poder colher a fruta no pé, comer alimentos livres de agrotóxicos etc. Inclusive, na última semana foi uma festa quando colheram as laranjas”.
Já Gabriela Cantú, sobrinha de Marisa e mãe de Arthur e Bento, de 6 e 3 anos, conta que já havia tentado algumas vezes fazer uma hortinha em casa, mas nunca havia dado muito certo, especialmente quando se tratava de plantas que precisavam de uma rotina diária de cuidados. Porém, com a pandemia e o tempo em casa, a mãe resolveu tentar mais uma vez. “No começo, eu mexia nas plantas sozinha, mas meus filhos começaram a se interessar. Eles adoram brincar com a terra, ficam radiantes quando acham uma minhoca no meio”, comenta. Além da diversão em si, a nova tentativa também tem a ver com a forma que as crianças se alimentam em casa e na escola. “Sempre comemos de maneira balanceada e a creche deles também é toda voltada para esse tipo de alimentação saudável e natural, inclusive com uma horta no local. Costumo reforçar sempre a importância de ingerirem uma comida fresca e sem venenos. É uma delícia poder temperar uma comida ou comer algo que temos dentro de casa. E ainda tem o fato das crianças ficarem mais empolgadas e incentivadas a consumir algo que elas ajudaram a cuidar”, conclui.
Hoje, a família tem em casa, além do boldo chileno, hortelã pimenta, hortelã comum (que, inclusive, os meninos pegam folhinhas para colocar na água deles), uma jabuticabeira e um limoeiro. As próximas tentativas serão com alho, batata doce, beterraba e cenoura.
Vale lembrar, ainda, que para a criança associar essas hortas a hábitos mais saudáveis em relação à alimentação e ao meio ambiente, é importante que os pais deixem a criança plantar e acompanhar a evolução de um alimento para depois comê-lo. "A criança se orgulha em experimentar um alimento que ela mesma plantou, que é rico em textura, cheiros e forma. E para tudo isso ser um processo prazeroso e lúdico, é essencial garantir tempo e autonomia para que brinquem com a terra e as plantas, deixando a curiosidade e a imaginação se manifestarem e dando permissão para que possam se sujar", complementa Laís.
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Aprendendo nos detalhes
Na prática
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A seguir, Marisa Cantù dá um passo a passo para que pais e filhos plantem em vasinhos e o melhor: as crianças podem participar de quase todas as etapas.
- Comece fazendo uma boa drenagem, com pedrinhas ou argila expandida no fundo do vaso;
- Coloque a manta de drenagem. Ela precisa ser cortada com uma tesoura com a medida do diâmetro do vaso (essa tarefa é mais indicada para um adulto fazer);
- Coloque o substrato, que é a terra bem adubada;
- Faça um buraco na terra para colocar a muda;
- Tire a muda do saquinho e plante no vaso.

“Se deseja começar com uma mais fácil ainda, pode ser a cebolinha. Aquela mesma que vem com raízes no maço da salsinha na feira. Plante num vaso de 15 cm de diâmetro do mesmo modo que a hortelã. A regas podem ser de 2 a 3 vezes por semana. Se quiser plantar frutíferas em vasos, as mais fáceis são romã, laranja kinkan, amora e jabuticaba. Escolha vasos grandes e lembre-se que é uma árvore. E não esqueça que a adubação das plantas deve ser feita com frequência para mantê-las saudáveis e produzindo”, conclui Cantú.