Pai e filha - Divulgação
Pai e filhaDivulgação
Por O Dia
Rio - Nas últimas duas semanas, um anúncio de Dia dos Pais de uma marca de cosméticos brasileira foi alvo de brigas nas redes sociais por colocar um homem trans como símbolo da campanha. A discussão – diga-se de passagem sem propósito, já que ele é, sim, pai – levantou uma outra questão muito mais importante: Quem é verdadeiramente pai? O que tem apenas o nome em uma certidão ou quem, de fato, ama, protege e cuida dos filhos?

A seguir, conversamos com homens que falam sobre a paternidade real, sobre o amor sem limites pelos filhos e sobre como ser pai vai muito além do preconceito destilado na Internet nos últimos dias.

“Paternidade pra mim é o amor verdadeiro que preenche o peito. Foge dos limites da vida humana. Vira doação. Faz a gente querer ser exemplo, se tornar quem nunca tivemos perto da gente, pois muitos de nós não tivemos pais presentes. Esse amor fortalece. Não estou falando do pai homens, estou falando de pessoas que representam esse papel, porque muitas mulheres, tias e avós representam esse papel, ou até mesmo um amigo e vizinho que faz esse papel tão representativo na vida de uma criança” - Flávio Gonçalves, conhecido como Tenente Bahia, é pai solo de Sophia, de 10 meses. Jéssica, mãe da menina, faleceu em setembro de 2019, logo depois de passar mal na porta da igreja, quando iria casar com Flávio. Ela chegou ao mundo por uma cesária de emergência, prematura com 800 gramas, mas depois de quase três meses no hospital foi para casa com o pai.

“Ser pai é padecer no paraíso. É estar preparado, mesmo não estando. É tentar ser o melhor pai que eu posso ser, aprendendo com meus filhos na mesma medida em que tento ensiná-los. É uma tarefa árdua, desafiante, cansativa, mas, acima de tudo, gratificante. Tento ser o melhor pai que posso ser. Esse período, com as aulas on-line do mais velho, entretendo a mais nova, fazendo almoço e tudo mais que eles precisam, tem sido ainda mais desafiador, mas o importante é que estamos juntos e bem” - Anderson Silva é pai de Igor, de 7 anos, e Isadora, de 3. Sua esposa trabalha fora enquanto ele está em home office e toma conta dos filhos em tempo integral.

“Eu sempre tive medo de morrer e deixar minhas filhas sozinhas e sem estarem encaminhadas na vida, especialmente por ter ficado viúvo duas vezes. Exercer o papel de pai, pra mim, é cuidar, é estar presente, é ter responsabilidade. Quando fiquei viúvo pela primeira vez, foi bem difícil. Eu tinha duas filhas na época, trabalhava muito, mas pude contar com a ajuda da creche e das minhas irmãs para cuidar das meninas. Até que me casei novamente, tive mais uma filha e infelizmente perdi minha segunda esposa também. Quando casei pela terceira vez, chegou minha caçula, mas o casamento não deu certo. Então, me separei, mas fiquei com a guarda dela, e cuidei das minhas quatro meninas. Eu sempre me preocupei com questões como vacina, consulta médica, reunião escolar etc, esses cuidados que as mães têm naturalmente e que se tornaram naturais pra mim e eu sempre fiz questão de cumprir. Ser pai é maravilhoso e eu não consigo imaginar minha vida sem elas” – João Francisco de Andrade é pai de Márcia, 45, Mirian, 43, Denise, 38 e Cecília, 35, e avô de dez netos que tem entre 5 e 18 anos.

“A paternidade para mim foi realização de vida. Nunca almejei grandes cargos ou feitos, mas sempre quis ser pai. Isis sempre foi o que sonhei. Carinhosa, esperta, engraçada e muito grudada comigo. Mesmo separado da mãe da Isis há dois anos, participo de absolutamente tudo dela. Consultas pediátricas, reunião de pais, festas e projetos da escola. Isis adora teatro e a playlist de Bita, turma do Folclore, entre outros, estão salvos no meu player. A guarda compartilhada com a mãe me permite ficar 3 dias, às vezes 4, na semana. Levo na escola e busco. Todos os dias ela faz ligação de vídeo para matar a saudade da mãe caso esteja comigo, e vice-versa” - Bruno Dantas é pai de Isis, de 4 anos, e tem a guarda compartilhada com a mãe da menina.

“A paternidade é a oportunidade da minha vida. Oportunidade para aprender e me tornar uma pessoa melhor. Aprimorar a empatia. E é um tremendo desafio também. O desafio de orientar meu filho em um mundo novo que ainda estamos conhecendo, onde a mudança é a única coisa permanente. E, como pai de menino, tenho a responsabilidade de ensinar de forma diferente da que aprendi ao longo da maior parte da minha vida, que há uma maneira gentil de ouvir e de falar, que meninos podem chorar e que meninas podem ser fortes. Neste período de isolamento em que estamos vivendo, novos desafios se apresentam e estamos aprendendo e ensinando simultaneamente um ao outro. Ele fica comigo três dias por semana. Estou trabalhando em homeoffice, e, se puder, vou continuar trabalhando parcialmente neste regime apos a normalizacao da situacao sanitaria, porque estamos aprofundando ainda mais o nosso vinculo” – Antônio Tartarini, pai de João Pedro, de 4 anos, tem a guarda compartilhada/alternada com a ex-esposa.

“Eu não pensava em ser pai, até que a chave virou! Paternidade é um novo começo, uma releitura que temos da vida, do mundo, de como somos e tudo o que fomos. Nosso egoísmo e egocentrismo se esvai. Percebemos que temos extensões, que não mais controlamos nossas vidas. Focos e prioridades são redefinidos. Um universo diferente se abre: músicas que não sabíamos que existiam, canais que sequer conhecíamos, todo um mundo que se coloca à nossa frente e disputa lugar com nossa experiência prévia. Preocupações e insônias começam a fazer parte de nossas vidas. São noites mal dormidas e corações na boca, a todo momento. Mas ao ver nosso rebento, tudo faz sentido, a vida se completa e a sensação de realização e sentimentos indescritíveis compensam. É uma avalanche extraordinária de felicidade. Afinal, criamos outra pessoa e o sentimento beira a sublime sensação de ser Deus, de dar a vida. E aí percebemos nossos jeitos e traços naquele outro ser e o sentimento de infinitude se apossa de nós. A paternidade é única e incrível. O filho nasce e, de certa forma, nascemos com ele. Melhor: renascemos como outro e inimaginável ser” – Sergio de Castro Martins é pai de Arthur, de três meses, e descobriu a paternidade aos 45 anos.

“Quando recebi a notícia da gravidez do meu primeiro filho, não imaginava que poderíamos estar grávidos. Imediatamente me peguei imaginando o tipo de pai que eu seria, ou melhor, que eu gostaria de ser. Os meses se passaram e ele nasceu, e junto com a maravilhosa sensação de pegar seu filho no colo, veio o desespero de não saber como agir a partir de então. O primeiro impulso foi imaginar o que meu pai havia feito quando eu cheguei, mas eu sabia que seria um pai diferente. Não que o meu não tenha sido – e seja ainda – maravilhoso, mas eu tinha uma ideia muito clara em minha mente: eliminar tudo o que não concordava na minha criação e manter tudo que foi inesquecivelmente bonito e bom. Fui planejando como seria sair no com ele para todos os lugares, jogar bola, vê-lo ao chegar do trabalho correndo para mim. Ao longo desses anos, cometi erros, alguns iguais aos que meu pai cometeu também e que eu achava que conseguiria evitar, mas sempre me indaguei sobre o que poderia mudar. E mudei. E continuo mudando. E vou mudar ainda mais. Antes de ser pai, eu imaginava que muitas vezes seria menos duro, brigaria menos, seria mais leve, mas a verdade é que, quando há amor, cuidado e zelo, a gente quer o melhor para nossas crias e muitas vezes o ensinamento acaba vindo com uma bronca. Com a chegada do segundo, a sensação que tenho é que me tornei menos duro. Que não vai adiantar eu mandar ter cuidado ao correr, porque eles vão correr; que não adianta eu proibir de comer algo, porque em algum lugar eles vão comer; que posso querer protege-los de todas as formas que, mesmo assim, eles somente vão aprender passando pelas situações. Todo pai sempre vai procurar não cometer os mesmos erros que o seu, mas muitas vezes vai faze-lo. Mas também vai ter mais acertos. Porque sou melhor que meu pai? Não, mas porque aprendemos com o passar das gerações. Meus filhos certamente serão melhores pais que eu. Mas o mais importante é que sabemos que tudo, absolutamente tudo que fizermos, será pelo bem deles” – Douglas Costa é casado e pai de Théo, de 8 anos, e Benjamin, de 3.

“Paternidade é um presente de Deus e não existe nada melhor que tenha acontecido em minha vida. É a descoberta de um amor verdadeiro, puro e incondicional, a oportunidade de participar do desenvolvimento de dois seres tão especiais. Acredito que a paternidade seja exercida a cada bom dia, no cuidado com o café da manhã, no ensino diário de respeito ao próximo, ao acompanhar o dever de casa e até cuidar para que acompanhe um conteúdo educativo na internet” - Jhony Rylston é casado e pai de Ashley, de 9 anos, e Sophie, de 5.